🥟 O Pastel de Feira Paulistano: quando o Japão fritou o sonho chinês e serviu com caldo de cana
Por Vagner Bellacosa 🍶☕
Se São Paulo tivesse um cheiro oficial, seria o de pastel fritando às 8 da manhã, entre o grito do feirante, o barulho do óleo e o som distante de um sax tocando “Garota de Ipanema” em versão instrumental MIDI.
Mas o pastel — esse herói crocante das feiras — tem uma origem que poucos conhecem, uma história de imigração, adaptação e pura genialidade gastronômica.
Tudo começou nos anos 1930–1940, quando imigrantes chineses trouxeram seus rolinhos primavera (chun kun) para o Brasil. Massa fina, frita, recheada... mas com sabores muito exóticos para o paladar brasileiro da época.
Aí entram os japoneses, que durante a Segunda Guerra Mundial precisaram se “camuflar” culturalmente e, num golpe de sabedoria culinária, adaptaram a receita: trocaram o bambu e o gengibre por carne moída, queijo e palmito.
Nascia ali, em pleno improviso, o pastel de feira paulistano — o primeiro fusion food brasileiro.
Nos anos 1950 e 1960, as feiras livres se multiplicaram e o pastel virou rei. Barato, rápido e democrático, conquistou operários, donas de casa e estudantes.
O combo “pastel + caldo de cana” virou quase religião: o Santo Sacramento da feira.
E como todo clássico, o pastel também tem sua arquitetura — massa fina (camada de apresentação), recheio robusto (core logic), e fritura no ponto certo (camada de aplicação).
Quem erra o timing, abend na certa: pastel murcho é erro de produção.
Hoje, o pastel é mais do que comida. É memória.
É o cheiro da infância, o barulho do óleo lembrando as manhãs de domingo, o papo com o feirante que sempre pergunta: “Quer de carne ou de vento?”.
E por trás de cada mordida, há um pedaço da história dos imigrantes que ajudaram a construir São Paulo — e que deixaram para nós uma das maiores invenções da cultura de rua brasileira.
☕ Bellacosa comenta:
O pastel de feira é o mainframe da comida de rua paulistana — robusto, confiável e com uptime de 99,999%.
Os quase 15 anos que vivi na Europa, a comida brasileira que mais senti falta eram os pasteis. Apesar que um pouco de esforço encontrava algum patrício vendendo, não era o mesmo.
Quando criança amava os mini-pasteis sem recheio e o quibe maciço.
E se o mundo acabar, só vai restar baratas, mainframes e... que não falte os pastéis de feira.
%2015.19.25_b90e1319.jpg)
Sem comentários:
Enviar um comentário