segunda-feira, 11 de maio de 2020

🎭 Crônicas da Noite Paulistana – Capítulo 2: A Vivi, o Boris e a Amanda

 


🎭 Crônicas da Noite Paulistana – Capítulo 2: A Vivi, o Boris e a Amanda


Existem histórias que não se contam — apenas se revivem com o gosto de guaraná quente e som de fita K7 rodando torta no walkman e aquela ressaca de vodka barata.
Essa começa num tempo em que o coração era um modem discando sem senha: barulhento, lento, mas sempre tentando conectar.
Ano de 1990, bairro extremo leste de São Paulo, noites cheirando a laquê e adolescência.


💋 A lógica vivianeriana

Minha irmã, Vivi, sempre teve um talento especial pra transformar o caos em estratégia.
E naquela época ela gostava de um rapaz — o tal Boris — figura clássica dos bailinhos suburbanos: cabelo platinado, topete, um skatista bonachão e cheio de amigos e coração de gelatina.
O problema, segundo a Vivi é que o Boris arrastava asa para Amanda, a musa de olhar misterioso e camiseta do The Smiths.

A Vivi, então, armou seu plano tático:

“Se o Boris gosta da Amanda, e a Amanda se interessar por você… o Boris olha pra mim!”

E assim, com toda a lógica vivianeriana que só uma mente de 15 anos é capaz de criar, fui arrastado pra dentro do enredo, juro que o intuito era ajudar minha maninha.


🧃 O estranho no ninho

De repente, lá estava eu — um invasor elegante um semi-góticos, entre skatistas.
Me sentia mais um bug num programa que não reconhecia meu formato.
Mas entre risadas, refrigerantes suspeitos e a trilha sonora de “Enjoy the Silence”, comecei a me enturmar.

Até que numa festinha de garagem, a dita festa da Soninha do poste anterior — luz piscando, pôster do Legião na parede e o som de vinil chiando — ela apareceu: Amanda.
Cabelo bagunçado, sorriso de quem sabia que podia causar pequenos desastres sentimentais e conseguiu.


🔮 O tarô, o beijo e o caos

Alguém cochichou pra ela:

“O Vagner lê tarô!”

E pronto.
Amanda veio até mim com aquele ar curioso, meio debochado:

“Lê meu destino, vai… quero saber se a noite promete.”

Dei risada, espalhei mentalmente as cartas — numa mesa de faz de conta improvisada, um baralho, um copo de bombeirinho e um universo de intenções não ditas.
Ela olhou as cartas, depois olhou pra mim.
Disse baixinho:

“Não precisa ler… já entendi.”

E antes que eu soubesse o que estava acontecendo, ela me beijou, sim, ela tomou a iniciativa.
Ali, entre o chiado da fita e o cheiro de perfume barato, o tempo travou.


💞 Romance de folhetim, versão 90’s

Começamos um namoro que parecia novela mexicana passada em FM estéreo.
Tinha ciúmes, bilhetinhos, sumiços, reconciliações e beijos roubados em pontos de ônibus.
Cada reencontro era uma trilha sonora — às vezes RPM, às vezes The Cure, às vezes Nenhum de Nós.

Eu, o intruso que virou protagonista.
A Amanda, o caos em forma de encanto.
E a Vivi, assistindo tudo, dividida entre o ciúme e a vitória parcial de seu plano torto.


🖤 Epílogo de El Jefe

O tempo passou, as tribos mudaram, o Boris sumiu no mapa, a Amanda virou lembrança com trilha sonora, e a Vivi — bom, a Vivi continua sendo aquela mente que transformava qualquer dor em teoria da conspiração emocional.

Mas toda vez que escuto o barulho de um walkman fechando, lembro daquela garagem abafada, do beijo inesperado, e do tarô que nunca previu que o destino também gosta de brincar com a gente.


☠️ Filosofia Bellacosa Mainframe:
Nos anos 90, a juventude era feita de planos malucos, beijos rápidos e emoções que não cabiam em stories.
E o tarô?
O tarô não mentia.
Só não avisava que a carta do Amor vinha sempre com juros de saudade.

Sem comentários:

Enviar um comentário