sábado, 20 de junho de 2020

🚛 Quando o Brasil Parou — A Grande Greve dos Caminhoneiros de 2015

 


🚛 Quando o Brasil Parou — A Grande Greve dos Caminhoneiros de 2015

Há memórias que parecem ficção, mas que deixaram marcas mais fundas que as manchetes.
2015 foi uma dessas encruzilhadas — um daqueles anos em que o Brasil pareceu parar, literalmente, no acostamento da própria história.
As rodovias ficaram vazias, os caminhões estacionados, os tanques secos e os corações cheios de incerteza.

Lembro bem.
As notícias chegavam aos poucos, em fragmentos: bloqueios nas estradas, comboios parados, cidades começando a sentir o desabastecimento.
Era como se o fluxo sanguíneo do país tivesse sido cortado — e cada armazém, cada posto, cada supermercado fosse um órgão à beira da falência.

Mas aquilo era mais do que uma paralisação: era um grito de exaustão nacional.
O aumento no preço do diesel foi só a faísca — o barril de pólvora estava pronto há tempos.
O caminhoneiro, aquele herói anônimo que cruzava o país com o motor como trilha sonora, carregava nas costas não só carga, mas a conta de uma economia emperrada, de promessas políticas furadas e de um custo de vida que subia mais rápido do que qualquer ladeira da Serra do Mar.

Nas estradas, o Brasil real se mostrava sem maquiagem:
lonas improvisadas, churrascos à beira da pista, pneus queimados e cartazes rabiscados à mão.
E, nos noticiários, o caos urbano ganhava forma — filas nos postos, supermercados vazios, o medo de faltar o básico.

Mas havia também algo simbólico naquela parada.
O país, acostumado a correr sem saber pra onde, foi forçado a olhar para si mesmo, estacionar e sentir o peso da engrenagem que não girava mais.
O silêncio das estradas ecoava mais alto que o barulho dos motores:
um lembrete de que toda grande máquina, seja ela industrial ou social, depende de gente — e de justiça.

Quando o movimento terminou, o Brasil já não era o mesmo.
Alguns chamaram de vitória, outros de desastre.
Mas, olhando hoje, com a distância do tempo e a frieza dos bits, dá pra ver o impacto como ponto de inflexão:
foi ali que a desconfiança entre o povo e o poder cresceu,
foi ali que as ruas começaram a se dividir,
foi ali que a sensação de colapso deixou de ser medo e virou rotina.

A greve de 2015 não foi apenas uma paralisação —
foi um espelho quebrado.
Mostrou um país cansado de remar em marcha lenta,
um povo dividido entre o asfalto e o asfalto rachado,
e uma política que, mais uma vez, não soube ouvir o ronco do motor da nação.

Hoje, quase uma década depois, quando cruzo uma rodovia e vejo um caminhão passando na madrugada, penso que aquele som — o ronco grave de um motor em marcha constante — é mais do que transporte:
é o pulso do Brasil.
Um pulso que já parou, já voltou, e segue — aos trancos, mas segue.

Porque o Brasil é assim:
às vezes freia, às vezes derrapa, mas nunca desiste da estrada.

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