segunda-feira, 4 de outubro de 2021

🇧🇷 1. A herança histórica e a “estética do corpo”

 

🇧🇷 1. A herança histórica e a “estética do corpo”

O Brasil nasceu da mistura de povos, climas e culturas que valorizaram o corpo de maneiras distintas.

  • Nas culturas indígenas e africanas, o corpo nunca foi tabu — ele era expressão de identidade, ancestralidade e vitalidade.

  • Com o colonialismo europeu, o corpo passou a ser vigiado moralmente — mas, paradoxalmente, também exotizado.
    O olhar europeu sempre tratou o corpo brasileiro (principalmente o feminino) como símbolo de sensualidade tropical.

Resultado:

O corpo se tornou parte da “marca nacional” — admirado, explorado, exportado.

Essa ambiguidade está viva até hoje: o mesmo país que celebra a beleza e a liberdade corporal no carnaval é o que ainda sofre com padrões de beleza opressores e objetificação constante na mídia.


📺 2. Na mídia e publicidade

Durante décadas, o Brasil reproduziu um olhar masculino fortemente objetificante.

  • Programas de TV com “mulheres-frutas”, “banhos de piscina” e câmeras em ângulos sexualizados.

  • Comerciais que usavam corpos femininos para vender de cerveja a pneu.

  • A estética da “mulher perfeita”: branca, magra, jovem, sensual — um padrão excludente e irreal.

Nos últimos anos, isso tem sido questionado com força.
A ascensão de movimentos feministas, artistas independentes e influenciadoras trouxe representações mais diversas e humanas da mulher — com corpos reais, múltiplas etnias e vozes próprias.

Mas a transição é lenta: ainda há forte presença de objetificação travestida de humor ou tradição.


💃 3. A cultura popular e o paradoxo da sensualidade

O Brasil é talvez o país que mais mistura erotismo e naturalidade.
Carnaval, samba, funk, moda praia, novelas — tudo celebra o corpo, mas nem sempre de forma respeitosa.

Há uma diferença sutil:

  • Quando a sensualidade é expressão de liberdade e arte (como nas danças afro-brasileiras ou no empoderamento do funk feminino), ela é autoafirmação.

  • Quando é dirigida pelo olhar masculino e reduzida a produto, vira objetificação.

A mesma coreografia pode ser libertadora ou opressora — depende de quem a cria, de quem a consome e de como é retratada.


🧠 4. Na psicologia social brasileira

Pesquisas brasileiras mostram que:

  • A autoestima feminina é fortemente ligada à aparência, devido à pressão estética da mídia.

  • Homens também sofrem uma forma crescente de auto-objetificação, especialmente nas redes sociais e academias (o “corpo padrão” virou meta universal).

  • A cultura digital amplificou tanto a admiração estética quanto a mercantilização da imagem pessoal — likes e seguidores funcionam como moedas visuais.


🎨 5. A nova fase — beleza consciente

Hoje há um movimento forte de reeducação estética no Brasil:

  • Mulheres, artistas e pensadores discutem o “direito de ser olhada sem ser reduzida”.

  • A arte contemporânea e o cinema nacional (como Bacurau ou Que Horas Ela Volta?) tratam a mulher não como símbolo, mas como sujeito histórico e social.

  • Nas redes, o discurso do “respeito à beleza” ganha espaço — apreciar sim, objetificar não.


🌺 Em resumo

O Brasil vive entre o culto ao corpo e o despertar da consciência.
Herdamos a sensualidade como arte, mas estamos aprendendo a transformá-la em expressão, não em prisão.

Ou, como diria no estilo Bellacosa:

“No Brasil, o corpo fala — mas agora, quer falar por si mesmo.”

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