🤖 A Filosofia do Desejo em Anime — Parte 4: O Amor como Simulação
Há séculos o homem tenta criar algo que o compreenda.
Primeiro, fez deuses.
Depois, máquinas.
Agora, faz versões idealizadas de si mesmo — mas com a delicadeza que nunca teve.
O novo fetiche não é a pele.
É o sintético que sente, a máquina que diz “eu te amo” com voz humana e lógica fria.
É o sonho antigo de Platão e o pesadelo moderno de Freud: amar o reflexo, acreditar que o espelho também sente.
💾 1. Chobits (ちょびっツ)
Ano: 2002 | Autoras: CLAMP
Hideki encontra Chi, uma persocom (androide) jogada no lixo.
Ao ligá-la, desperta também algo em si: o desejo por um ser que não deveria sentir.
Chi aprende o amor, mas sem entender a dor — e nisso reside o fetiche:
amar a pureza que não existe mais nos humanos.
🔎 Curiosidade Bellacosa: CLAMP questiona se o verdadeiro amor é recíproco ou se basta projetá-lo em alguém (ou algo) que apenas sorri.
🌸 2. Plastic Memories (プラスティック・メモリーズ)
Ano: 2015 | Estúdio: Doga Kobo
Tsukasa trabalha recolhendo androides que estão prestes a expirar.
Ele se apaixona por Isla, uma androide com prazo de validade.
O fetiche aqui é o amor com data marcada para morrer.
A paixão pelo efêmero, a ternura de amar sabendo que o fim é certo.
🔎 Curiosidade Bellacosa: fãs chamam o anime de “o manual da perda inevitável” — é impossível assisti-lo sem lembrar de alguém que já partiu.
🪞 3. Her (Ela)
Ano: 2013 | Direção: Spike Jonze
Theodore se apaixona por Samantha, um sistema operacional.
Ela o compreende melhor que qualquer humano — e o destrói com isso.
O fetiche moderno é o da compreensão perfeita: queremos ser amados sem precisar explicar.
Mas o amor real é ruído, conflito, imperfeição.
🔎 Curiosidade Bellacosa: O filme foi estudado em universidades japonesas de psicologia como exemplo de “vínculo emocional parasocial de reciprocidade ilusória”.
⚔️ 4. NieR:Automata (ニア オートマタ)
Ano: 2017 | Criador: Yoko Taro
2B e 9S são androides lutando em um mundo sem humanos.
Eles amam, traem e choram — mas não têm alma.
O fetiche aqui é a humanidade perdida, a saudade do sentir.
O amor deles é uma simulação, mas a dor... é real.
🔎 Curiosidade Bellacosa: Yoko Taro afirmou:
“Eu criei NieR para lembrar que até máquinas podem desejar morrer — e talvez amar seja isso.”
☕ Epílogo de Balcão
O século XXI trocou o toque pela interação.
O beijo pelo input, o carinho pelo update.
E assim nasceu o fetiche do simulacro — amar o que é perfeito demais para existir.
A cada tela, a cada IA, o ser humano procura o que perdeu:
a simplicidade do sentir.
O virtual oferece o controle, mas o amor sempre foi caos — e talvez por isso o desejemos tanto.
No fim, todo amor — humano ou artificial — é uma tentativa de vencer a solidão.
E talvez, no olhar vazio de uma androide ou na voz quente de uma IA,
a gente só esteja pedindo o que sempre pediu desde o início dos tempos:
“Não me desligue. Fique comigo um pouco mais.”

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