domingo, 16 de março de 2025

17 anos — ontem e hoje: conversa de balcão

 


17 anos — ontem e hoje: conversa de balcão

Senta aqui, pega a cerveja, que eu vou te contar…
Em 1991, eu tinha 17 anos.
A cidade era minha, e os limites, nossos próprios caprichos.
Acordávamos cedo ou tarde, tanto fazia,
pegávamos a bicicleta e saíamos sem rumo definido,
nadávamos em riachos que ninguém marcava no mapa,
acampávamos nas matas, ríamos até a barriga doer,
beijávamos sem manual, nos apaixonávamos sem tutorial,
errávamos, aprendíamos, tropeçávamos, e voltávamos pra casa com histórias.

Os bares eram pequenos, sujos e cheios de riso.
As festas de garagem, as discotecas barulhentas, os bailes improvisados — tudo era liberdade em estado bruto.
Sim, a vida era difícil, mas cada dificuldade vinha acompanhada de aventura, cada trabalho ou escola se equilibrava na balança da alegria.
E as mulheres… ah, tínhamos coragem, levávamos uns nãos, aprendíamos com os acertos e com os erros.
Eram beijos roubados, risadas cúmplices, primeiras experiências que ficavam tatuadas na memória.

Agora, olha os 17 anos de 2025…
Grande parte vive preso em casa, conectado a telas, redes sociais, jogos que substituem o mundo real.
Não há mais coragem de levar um “não” — o risco é quase criminoso.
O toque humano, o beijo atrapalhado, o tropeço físico, o riso descontrolado — tudo filtrado, planejado, moderado.
A cidade ainda existe, mas não é mais percorrida a pé, de bicicleta ou sem destino.
Tudo é medido, cronometrado, compartilhado, registrado, julgado.

E eu fico aqui, aos 51, tentando entender.
O que esses jovens perderam?
O que a nossa geração tinha de tão selvagem, tão intensa, tão viva?
Perderam o risco, a imperfeição, a espontaneidade.
Perderam os erros que se tornavam lembranças,
as madrugadas que nos moldavam,
as aventuras que ensinavam mais que qualquer escola.

É cruel perceber que os 17 anos de hoje são chatos, contidos, ensaiados.
Mas não é culpa deles — é culpa do mundo que os protegeu demais, digitalizou demais, mediou demais.
E ainda assim…
Se fecharmos os olhos, podemos sentir o vento de outrora, o cheiro de riacho, a vibração de um beijo inesperado, o riso alto na madrugada.
Porque, mesmo que o tempo passe e a cidade mude, a memória da liberdade nunca nos abandona.







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