“Portugal: o novo começo”
Cheguei em Portugal sob o sol impiedoso do verão europeu.
Trazia comigo muitos sonhos e poucos projetos de pé — coragem em excesso, medo quase nenhum, e reservas que prometiam durar um ano.
Nos dois primeiros meses, virei mochileiro de mim mesmo: explorava cidades, buscava um teto, um rumo, um pedaço de chão para chamar de lar.
O idioma era o mesmo — mas soava diferente, com sotaques que dançavam entre o estranho e o familiar.
Era um aprendizado novo: o de reaprender o que eu achava que já sabia.
Viviam dentro de mim a alegria pela novidade e a tristeza pela saudade.
Ainda pensava em Giovana — os olhos azuis me perseguiam nas vitrines, nos cafés, nas janelas de Lisboa — mas lá no fundo, o desejo de um recomeço batia mais forte.
Vieram as dúvidas, o medo de ficar sem dinheiro, a busca por um trabalho que pagasse mais do que apenas as contas.
Descobri o que é ser estrangeiro: de respeitado e invejado no Brasil, passei a ser apenas mais um imigrante tentando provar seu valor.
Mas era um recomeço — e eu sabia que todo recomeço começa do chão.
Portugal me encantava.
As ruas limpas, o cheiro de mar misturado ao de pastel de nata, o euro brilhando como promessa de um futuro dourado.
Mas também vinham os choques de realidade, os “nãos” que pareciam testar a minha paciência e fé.
Até que um dia, o primeiro emprego apareceu — simples, mas suficiente para reacender o fogo da esperança.
Foi ali, entre e-mails trocados com o Brasil e longas chamadas no Skype, que percebi:
a vida tinha virado outra.
O sonho era o mesmo — mas agora tinha sotaque português, calor europeu e a coragem de quem recomeça do zero.

