segunda-feira, 5 de setembro de 2022

🏙️ "O Elevador da Quarta Parada" - São Paulo visto dos céus 🏙️

 


📜 Crônica Bellacosa Mainframe – "O Elevador da Quarta Parada"

(um dump de memória em EBCDIC afetivo, com cheiro de papel de gibi, soma do passado +1 futuro — compile and run in coração.exe)


A Mooca dos anos 1970 tinha aquele céu meio alaranjado de fábrica, trilho de trem riscando o bairro como linha de JCL, e um menino — euzinho mesmo — pronto para executar SUB-ROUTINES de travessura com high performance. Era a Quarta Parada, quase um checkpoint do destino, onde minha Tia Miriam (irmã caçula do meu pai, sorriso fácil e paciência infinita) e Tio Osmar seu marido, abriram o apartamento que seria para mim uma espécie de portal mágico de nível +99.  

Não lembro se eram férias ou feriado prolongado, mas passei alguns dias nesse apartamento, onde esse pequeno oni, aprontou e deixou suas pegadas na memória dos moradores deste prédio...



Porque o brilho desse lugar não estava nas paredes, nem nos móveis, nem no cheiro do café que vinha da cozinha. Estava em algo monumental, mitológico, quase cyberpunk para a época:

🛗 O elevador.
A máquina do futuro.
A Enterprise vertical do menino Bellacosa.

Aquele cubo metálico, cheio de botões com números que pareciam comandos de painel do CICS:

CALL ELEVADOR USING PISO 3. PERFORM SUBIR UNTIL OLHAR LA EMBAIXO = MAR DE CARRINHOS.

Ridiculamente sofisticado para quem cresceu no subúrbio de casas térreas, onde o "andar de cima" era só o telhado. Onde havia uma ou outra casa de sobrados e os edifícios mais próximos somente na região da Penha. Naquele prédio da Avenida Radial Leste (Alcântara Machado), descobri que existia altura — um novo eixo cartesiano, vertical, na vida de um garoto. E lá embaixo os carros eram Hot Wheels em escala real, e tudo pulsava como uma cidade de brinquedo. 




🛎 Travessuras com nível de XP máximo

Eu era código inquieto, processo batch em loop infinito. Maquinando qual seria a próxima arte. 

📍 Apertar campainhas e fugir pelas escadas → adrenalina nível DFHSM0100I
📍 Apertar todos os botões do elevador antes de sair → feature não documentada
📍 Descer correndo e subir inocente, como se nada tivesse acontecido → rollback com commit sujo

Hoje olho e solto uma risadinha sinistra. Na época este que voz escreve era caos doce — o tipo de erro que os adultos reclamam, mas lembram com carinho 40 anos depois. Uns querendo esganar, outros passando a mão na cabeça. Por que travessura é bug no sistema da infância — e sem ela, não há deploy de memória.

E a Santa Tia Miriam, com sua paciência Mainframe-class, reiniciava eu em modo seguro, com afeto e pão com manteiga a famosa manteiga aviação e o delicioso suco de tangerina em lata, que misturado com água gelada era o refresco da tarde.




📚 E aí veio o segundo portal: a Gibiteca

Se o elevador era a nave espacial, a sala da Tia Miriam era o hiper-espelho do multiverso.
HQs por toda parte. Turma da Mônica. Tio Patinhas. Mickey. Snoopy. Luluzinha.

Era como acessar uma biblioteca de universos paralelos sem login, sem batch, sem spool cheio. Só sentar, abrir e voar.

Os quadrinhos me deram:

tempo suspensão
teleporte narrativo
imaginário com overclock

Enquanto do lado de fora a Mooca respirava trem, sirene e lanchonete, dentro do apartamento existiam mundos, selvas, castelos, luas, cachorros filósofos e patos bilionários.

Foi ali, naquele kernel afetivo, que meu cérebro aprendeu que papel + tinta = viagem sem ticket.

E em nota de rodapé a fabulosamente incrível TV a cores, isso era o futuro, um vislumbre do século XXI, o moderno a um passo de distância.




📦 Conclusão (com um sorriso no dial)

Aquele garoto arteiro, descendo escada como byte fugitivo e subindo elevador como programa limpo, descobriu na Quarta Parada duas tecnologias revolucionárias:

  1. A verticalidade do mundo, vista do alto feito um deus mirim

  2. A expansão infinita da imaginação, nas páginas dos gibis

E nada mais é tão grande quanto aquilo que é enorme para uma criança.



Às vezes o mainframe que nos forma não está no CPLEX, mas no elevador de um prédio comum na Mooca, em 1978, onde um menino compilou alegria, teto alto e travessuras.

PS: Ja havia andado em outros elevadores antes, mas sempre supervisionado por um adulto, sem liberdade de soltar o diabinho interior, fosse no Hospital da Penha, fosse no mítico elevador do Mappin na Praça Ramos... sem contar as fabulosas escadas rolantes, mas isso, ja sabem é outro poste...

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