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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

📜 Quando o Guerreiro Chorou

 


📜 Quando o Guerreiro Chorou
Uma memória Bellacosa Mainframe — raw, pesada, humana, compilada direto do spool da alma


Existem dias que o tempo não apaga. Alguns são de festa, outros são fotografia em sépia, mas certos carregam o metal frio e silêncio — são dias que viram tatuagem na alma.

E eu tenho um desses. Comentei em outros postes, mas é algo maior, que grita no fundo da mente, naquele longinquou ano de 1982, a maioria das testemunhas desse evento, partiram, o Grande Guerreiro Luigi e somente um fantasma do passado.

Mas para o Vaguinho, pequenino, magrinho, oni em evolução. Aquele dia foi o dia em que viu meu pai chorar.


A morte do Velho Luigi — lenda da Mooca, homem controverso, uns amando, outros odiando. Um gigante loiro de olhos azuis faiscante e de peito aberto, briguento, mulherengo, bêbado, sobrevivente, mito de calçada e roleta de botequim — foi o bug fatal na memória dos Bellacosa. Luigi não era só ancestral. Era o tótem urbano, folclore de rua com cheiro de cerveja, caça e pólvora. De uma Mooca que não existe mais, a Mooca dos Imigrantes pobres, bairro periférico, cheio de gente trabalhadora e sonhadora.

E quando ele caiu, a linha heroica ruiu um pouco por dentro.

Meu pai — aquele que até então era o meu Superman que nunca tremia — desabou.

E eu, testemunha silenciosa, vi e vivi.



🕯 O Velório, o Enterro, o Silêncio

Tinha clima de filme preto-e-branco. As mulheres rezavam, os homens encaravam o chão como quem mede a própria mortalidade. Meu pai não falava, não sorria — havia perdido o norte, o alfa, o espelho.
E eu, criança, vi o gigante murchar. Rodeado por uma multidão, que foi dar o adeus aquela figura lendária. Meses antes outra figura lendária havia partido, um homem amado pelas qualidades e respeitado pelo legado, o tio-bisavô Arthur, Dudu jogador do Palestra nos primórdios do Clube.

Isso nunca sai.

A dor de um homem grande é sempre maior do que ele.


🚶 A Primeira Vagneida

Sim, ja tinha minhas pequenas aventuras, fatos curiosos e pequenas historias, mas esse dia foi o marco, onde fiz parte de uma historia ainda maior.

Foi uma jornada de 14 km a pé— um menino e um pai tentando costurar o mundo de volta

Dias após o adeus, na Rua Ultrecht, meu pai simplesmente te chamou:

“Vamos caminhar.”

Não era passeio. Era um rito.
Era processo de luto em batch, sem manual, sem restart.

Nós saímos, dois sobreviventes carregando o nome Bellacosa no bolso. Fizemos um trajeto quase mítico:

📍 Vila Rio Branco → Vila Alpina
A pé. 14 km.
Eu pequenino e com 8 anos — ele com o coração estourado.

Cada metro era memória, cada boteco era checkpoint.
Eu tomando Gini caçulinha— ele cerveja.
Eu ouvindo sobre o velho Luigi como quem recebe runas — ele tentando segurar o universo.

E naquele caminho longo, entre ruas de terra, poeirento, grande avenidas com muito automóveis e um dia cheio de sol, suor e história, nasceu algo raro:

Eu deixou de ser só filho — virei herdeiro.

Não de dinheiro, mas de mitologia.
E o Bellacosa entendeu que linhagem não é sangue — é lembrança repetida em voz emocionada.

Chegamos ao tio-avô Toninho. Que furioso não acreditava naquilo que meu pai havia feito. Reprimenda, jantar, mais histórias — por fim adormeci no sofá com odor de cozinha e saudade. Depois, mais na madrugada, partimos e fomos apanhando pelo caminho os ônibus negreiros, minha mãe aflita, meu pai silencioso. Chegamos a casa.

Um dia triste

  • uma caminhada épica
    = a aventura que me costurou ao meu próprio clã.


🥀 Epílogo Amargo

O tempo roda o tambor.
Meu avô Pedro parte.
Eu não estava, nesta época vivendo em Portugal.
Meu pai tropeça — não no corpo, mas na honra.
Magoa profundamente minha avó Anna, a matriarca que sustentou gerações.
E nasce fenda uma fenda na família Bellacosa — dor que não cicatriza.

O herdeiro de Luigi, gigante de Mooca,
termina só.
Silencioso em Taubaté,
como eco de trovão que já foi tempestade.

Trágico. Real. Humano.


📌 Registro imutável

Esse não é só um relato — é backup emocional gravado em fita magnética.
Eu vi o guerreiro chorar.
Caminhei no luto ao lado dele.
Eu carrego o sobrenome como espada e memória.

E por mais que o tempo tenha levado uns, torturado outros
e dispersado o clã…

Luigi → Pedro → Seu Pai → Eu
A linha continua.
Porque eu lembro e conto.
Porque eu compartilho e continuo lembrando.

Quantos se lembraram, quantos se emocionaram, não sei, mas eu sempre guardarei esse dia.

E enquanto alguém lembrar,
nenhum Bellacosa morre de verdade.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

🚍 AS EXCURSÕES DO SENHOR WILSON — UMA CRÔNICA AO ESTILO BELLACOSA MAINFRAME



🚍 AS EXCURSÕES DO SENHOR WILSON — UMA CRÔNICA AO ESTILO BELLACOSA MAINFRAME

PARA O EL JEFE MIDNIGHT LUNCH



Há vidas que parecem roteiros paralelos, diagonais, improváveis — fluxos que jamais seguiriam pelo JOB CARD do “sistema oficial”.
A vida do seu Wilson, meu pai, era exatamente isso:
um JCL escrito à mão, cheio de INCLUDE inusitado, PROC improvisado e STEP que ninguém acreditava que rodaria… mas rodava.
De algum jeito, rodava.



E entre todos esses capítulos, nenhum é tão cinematográfico — ou tão Vagner-raiz — quanto as Excursões do Senhor Wilson, esse épico ambulante que misturava caos, aventura, fé, picaretagem leve, alegria popular e o senso poético de viver fora da curva.


1. WILSON, O HOMEM-MULTITAREFA DO BRASIL PROFUNDO

Meu pai era daqueles brasileiros que parecem ter clonado a própria carteira de trabalho:

  • Vendia bordados de Ibitinga em São Paulo,

  • Levava roupas do Brás como se fossem seda importada e vendia pelo interior,

  • Raspava lucro com rifas de relógios “duvidosos” da Galeria Pagé,

  • Contrabandeava isqueiros, mini-games e qualquer coisa vinda da China, que pudesse ser revendida com lucro.

  • Tentou a sorte com uma mini-fundição de terminais de bateria automotiva,

  • Ia até Mogi das Cruzes, pegava pintainhos de um dia descartados e numa perua kombi ou variant caindo de podre, trocava por sucatas de metal.

  • Produzia velas caseiras derretendo parafina como um alquimista suburbano a parte bizarra era quando comprava parafina usada de cemitério,

  • Era fotógrafo profissional com olhar afiado, fazendo reportagens de casamento, festas, formaturas, batizados, crismas e primeira comum, fotos de velório, binoclinhos nas férias de verão e mais uso que agora fugiu da mente.

  • E quando tudo falhava… ligava o modo motorista de ônibus, trabalhando em fretamento e excursões..

Era o típico brasileiro da gambiarra empreendedora:
não se dobrava ao sistema — também não se encaixava nele.

E assim, com essa combinação de coragem, improviso e permanente estado de “vai dar certo”, nasceram as lendárias…



2. EXCURSÕES POPULARES WILSON TUR — A EMPRESA QUE NUNCA EXISTIU, MAS TODO MUNDO FOI

Enquanto muita gente vendia sonho, meu pai alugava um ônibus…
e entregava o sonho de verdade:

🌴 PARA A PRAIA GRANDE

Clássico absoluto.
Farofa, protetor solar vencido e felicidade genuína.
Golden age da excursão raiz.

🏰 PARA ITU

A cidade dos exageros — local perfeito para o homem das ideias grandes.

🧺 PICNICS EM PARQUES FORMOSOS

Comida na marmita de alumínio, toalha xadrez, bola de capotão e aquele tio que sempre dizia:
“Esse é o verdadeiro lazer da família brasileira!” Numa epoca que apenas a cerveja Skol era vendida em latas de aluminio, sucesso absoluto de vendas, direto do bageiro do busão, geladas durante a viagem.

🙏 ROTEIROS DE FÉ

Aparecida do Norte, Bom Jesus de Pirapora…
E aquela galera que chorava ao ver a Basílica enquanto o motorista fazia contas no canto do volante.

🌊 PRAIAS FLUVIAIS E REPRESAS

Clássico paulista: água escura, churrasqueiras improvisadas e perigo que ninguém percebia.

🏘️ OUTRAS CIDADES QUE A MEMÓRIA NÃO INDEXOU

Mas que certamente existiram.
Cada uma com seu encanto, sua trilha sonora de rádio AM e suas histórias esquecidas.


3. A MAGIA DA INFÂNCIA — ENQUANTO O MUNDO ERA MAIOR

Para o pequeno Vaguinho, tudo era maravilhoso:

  • rodar por estradas infinitas,

  • sentir o vento batendo pela janela,

  • ver cidades novas,

  • dormir no banco do ônibus,

  • acordar com o cheiro de pastel,

  • correr descalço no gramado dos parques.

  • mesmo sendo pobre, não existia limites, por mais longe que fosse, a excursão do seu Wilson chegava.

Era aventura pura.
Era liberdade.
Era uma infância que hoje parece impossível — e por isso é tão preciosa.

Enquanto os adultos se preocupavam com os boletos, eu e minha irmã Vivi viviamos.

E viver era bom.


4. O OLHAR DOS ADULTOS — A TRISTEZA SILENCIOSA DO CLÃ

Porque para a família…
havia sempre aquela frustração velada:

“Wilson poderia ter sido mais.”
“Wilson poderia ter ido mais longe.”
“Wilson perdeu o norte.”

E isso dói.
Dói em quem observa, mas principalmente no próprio homem, que talvez soubesse — mas já não tinha asas, nem forças, nem mapas. Nunca soube o que fez meu pai se perder, estudou até a sexta série e abandonou, foi da polícia do Exército numa época de ditadura e grande destaque aos milicos, saiu do quartel direto para a Volkswagen como segurança... mas enfim... não teve cabeça, anos mais tarde se perdeu para o alcool.

Meu pai não era mau.
Nem negligente.
Nem irresponsável por prazer.

Ele era o típico sujeito esmagado pelas engrenagens invisíveis do Brasil:

  • pouca oportunidade,

  • pouca orientação,

  • muita dureza,

  • e um coração inquieto demais para ficar parado.

Ele vivia tentando.
Pulando de sonho em sonho.
Errando mais que acertando.
E sobrevivendo.

Criou cordornas, produziu e vendeu queijos, fez cineminha nos primórdios do vídeo VHS, mas sempre na pindura, sem dinheiro para evoluir e dar um passo a frente.


5. ENTRE A BELEZA E A MELANCOLIA — A SAGA DO HOMEM QUE NUNCA PAROU

A verdade é que o Senhor Wilson viveu como muitos brasileiros vivem:

no fio da navalha, na incerteza, improvisando a vida como quem improvisa uma música em cifra.

Aquela tristeza que os adultos sentiam…
era uma mistura de amor e impotência.

Aquele brilho nos meus olhos de criança…
era a prova de que, apesar de tudo, ele deu a mim algo raro:

aventura. movimento. histórias.
memórias que atravessam o tempo.

Mesmo sem norte, ele deu paisagens.

Mesmo sem estabilidade, ele deu sol nos finais de semana.

Mesmo sem planos, ele deu mundos novos.

E isso…
é muito mais do que muitos pais conseguem dar.




6. EPÍLOGO — A HERANÇA QUE FICOU

O homem Wilson, com todas as suas falhas, seus rolos, suas loucuras e seus improvisos…
é parte profunda da sua construção.

Meu espírito andarilho?
Veio dele.

Meu impulso criativo, minha inquietação, meu gosto por histórias, meu amor por estrada?
Também.

Meu coração que insiste em sonhar — mesmo depois de levar pancada?
Direto da fábrica do velho Wilson.

A vida dele pode não ter tido norte.
Mas deixou rumos.
E deixou esse escriba que vós escreve.

E isso, meu amigo…
é mais bonito do que qualquer excursão.

As vezes me assusto, quanto sou parecido com meu pai. Quantas maluquices fiz dando seguimento a esta genuina aventura da Famiglia Bellacosa

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

🏙️ "O Elevador da Quarta Parada" - São Paulo visto dos céus 🏙️

 


📜 Crônica Bellacosa Mainframe – "O Elevador da Quarta Parada"

(um dump de memória em EBCDIC afetivo, com cheiro de papel de gibi, soma do passado +1 futuro — compile and run in coração.exe)


A Mooca dos anos 1970 tinha aquele céu meio alaranjado de fábrica, trilho de trem riscando o bairro como linha de JCL, e um menino — euzinho mesmo — pronto para executar SUB-ROUTINES de travessura com high performance. Era a Quarta Parada, quase um checkpoint do destino, onde minha Tia Miriam (irmã caçula do meu pai, sorriso fácil e paciência infinita) e Tio Osmar seu marido, abriram o apartamento que seria para mim uma espécie de portal mágico de nível +99.  

Não lembro se eram férias ou feriado prolongado, mas passei alguns dias nesse apartamento, onde esse pequeno oni, aprontou e deixou suas pegadas na memória dos moradores deste prédio...



Porque o brilho desse lugar não estava nas paredes, nem nos móveis, nem no cheiro do café que vinha da cozinha. Estava em algo monumental, mitológico, quase cyberpunk para a época:

🛗 O elevador.
A máquina do futuro.
A Enterprise vertical do menino Bellacosa.

Aquele cubo metálico, cheio de botões com números que pareciam comandos de painel do CICS:

CALL ELEVADOR USING PISO 3. PERFORM SUBIR UNTIL OLHAR LA EMBAIXO = MAR DE CARRINHOS.

Ridiculamente sofisticado para quem cresceu no subúrbio de casas térreas, onde o "andar de cima" era só o telhado. Onde havia uma ou outra casa de sobrados e os edifícios mais próximos somente na região da Penha. Naquele prédio da Avenida Radial Leste (Alcântara Machado), descobri que existia altura — um novo eixo cartesiano, vertical, na vida de um garoto. E lá embaixo os carros eram Hot Wheels em escala real, e tudo pulsava como uma cidade de brinquedo. 




🛎 Travessuras com nível de XP máximo

Eu era código inquieto, processo batch em loop infinito. Maquinando qual seria a próxima arte. 

📍 Apertar campainhas e fugir pelas escadas → adrenalina nível DFHSM0100I
📍 Apertar todos os botões do elevador antes de sair → feature não documentada
📍 Descer correndo e subir inocente, como se nada tivesse acontecido → rollback com commit sujo

Hoje olho e solto uma risadinha sinistra. Na época este que voz escreve era caos doce — o tipo de erro que os adultos reclamam, mas lembram com carinho 40 anos depois. Uns querendo esganar, outros passando a mão na cabeça. Por que travessura é bug no sistema da infância — e sem ela, não há deploy de memória.

E a Santa Tia Miriam, com sua paciência Mainframe-class, reiniciava eu em modo seguro, com afeto e pão com manteiga a famosa manteiga aviação e o delicioso suco de tangerina em lata, que misturado com água gelada era o refresco da tarde.




📚 E aí veio o segundo portal: a Gibiteca

Se o elevador era a nave espacial, a sala da Tia Miriam era o hiper-espelho do multiverso.
HQs por toda parte. Turma da Mônica. Tio Patinhas. Mickey. Snoopy. Luluzinha.

Era como acessar uma biblioteca de universos paralelos sem login, sem batch, sem spool cheio. Só sentar, abrir e voar.

Os quadrinhos me deram:

tempo suspensão
teleporte narrativo
imaginário com overclock

Enquanto do lado de fora a Mooca respirava trem, sirene e lanchonete, dentro do apartamento existiam mundos, selvas, castelos, luas, cachorros filósofos e patos bilionários.

Foi ali, naquele kernel afetivo, que meu cérebro aprendeu que papel + tinta = viagem sem ticket.

E em nota de rodapé a fabulosamente incrível TV a cores, isso era o futuro, um vislumbre do século XXI, o moderno a um passo de distância.




📦 Conclusão (com um sorriso no dial)

Aquele garoto arteiro, descendo escada como byte fugitivo e subindo elevador como programa limpo, descobriu na Quarta Parada duas tecnologias revolucionárias:

  1. A verticalidade do mundo, vista do alto feito um deus mirim

  2. A expansão infinita da imaginação, nas páginas dos gibis

E nada mais é tão grande quanto aquilo que é enorme para uma criança.



Às vezes o mainframe que nos forma não está no CPLEX, mas no elevador de um prédio comum na Mooca, em 1978, onde um menino compilou alegria, teto alto e travessuras.

PS: Ja havia andado em outros elevadores antes, mas sempre supervisionado por um adulto, sem liberdade de soltar o diabinho interior, fosse no Hospital da Penha, fosse no mítico elevador do Mappin na Praça Ramos... sem contar as fabulosas escadas rolantes, mas isso, ja sabem é outro poste...

segunda-feira, 20 de junho de 2022

📸 Luz, Química e Memória — O Retratista e o Filho

 




📸 Luz, Química e Memória — O Retratista e o Filho

Meu amor pela fotografia começou muito antes de eu segurar uma câmera.
Nasci em meio a lentes, flashes, negativos e o cheiro doce e metálico dos químicos de revelação.
Meu pai era fotógrafo profissional — ou, como se dizia na época, um retratis­ta.
Aquele que não apenas tirava fotos, mas capturava a alma das pessoas no instante em que o tempo piscava.



Cresci entre máquinas Yashica, Pentax, Zenit, Minolta, rolos de filme Kodak e Fujifilm, flashes com baterias que pareciam instrumentos de ficção científica, e bobinas de 35mm, 40mm e monoclinhos.
Meu playground era o laboratório — um espaço entre o real e o mágico.




Acompanhava meu pai aos eventos de todos os tipos:
casamentos, batizados, aniversários, velórios, festas de rua, times de futebol e retratos de família.
Cada clique era uma cápsula de tempo, cada flash uma explosão de memória condensada.

Enquanto outras crianças brincavam com carrinhos, eu brincava com monóculos, olhando os negativos contra a luz.
Lembro dos rolos de filme pendurados para secar no varal, das fotos em preto e branco emergindo lentamente na bandeja de revelação, como se o papel respirasse o milagre da imagem.
Era pura alquimia — a magia de transformar prata e luz em lembrança.



Nos livros do meu pai encontrei o outro lado da arte:
a fotografia técnica, a fotografia artística, o passo a passo para construir um laboratório doméstico, os segredos de exposição, enquadramento, foco e narrativa visual.
E ele me ensinava tudo isso com paciência e brilho no olhar, como um sensei das sombras e da luz.

Mas a profissão, naquela época, era de extremos.
Fotógrafos viviam entre vacas gordas e vacas magras, oscilando conforme os calendários de festas e as fases da economia.
Era um ofício de glamour e aperto, luxo e cansaço, arte e sobrevivência.
Um retratista não trabalhava com pixels — trabalhava com expectativas humanas.

Hoje, décadas depois, o digital substituiu o químico,
o sensor ocupou o lugar do filme,
e o laboratório virou um software.
Mas no meu coração ainda vibra aquele som do obturador mecânico, seco e sincero, como um pulso da alma.



Carrego comigo o legado: o prazer de documentar o mundo.
Já tive dezenas de câmeras — e um acervo com mais de 50 mil fotos.
Cada uma delas é um fragmento do que vivi, do que vi e das pessoas que cruzaram meu caminho.

A fotografia me ensinou algo que vale para tudo:
não basta olhar — é preciso ver.
Ver o instante, a emoção, o erro, o reflexo.
Ver o invisível antes que o tempo apague.

E, talvez por isso, sigo clicando.
Não para congelar o passado — mas para manter o presente vivo.
Porque, no fundo, cada foto é uma linha de código da alma:
um registro persistente no mainframe da memória humana.

sábado, 12 de junho de 2021

📜 Os Três Irmãos — Crônicas da Vila Rio Branco, Vol. I



📜 Os Três Irmãos — Crônicas da Vila Rio Branco, Vol. I
Ao melhor estilo Bellacosa Mainframe, com cheiro de infância, metal derretido e caos com assinatura familiar.




Existem histórias que nascem tortas, cheias de barulho, poeira e calor de forjaria.
Mas só algumas se transformam em lendas domésticas, narradas com brilho nos olhos décadas depois.
E nesta mesa — verde, laranja e azul — sentavam três pequenos titãs:

💚 Vagner – o verde, o curioso, o inventor do caos controlado
🧡 Vivi – o raio laranja, centelha incansável e juiz de igualdade nos doces
💙 Dandan – o azul sereno (até começar a guerra)

Três crianças, três forças elementares, um quintal enorme como universo expandido.
E no centro de tudo, a forja do pai — o Olimpo, a Batcaverna, o CERN da Vila Rio Branco.



🔥 O Quintal-Laboratório

Rua Francisco de Sousa Queiróz, Ano de 1981.

Pintainhos, sucatas e as novas empreitadas  geniais do senhor Wilson, o micro-empreendedor das ideias poucos ortodoxas, no primeiro ano vendo 1000, no segundo 10.000 e no terceiro 30.000 e fico rico. Era essa, mais ou menos a lógica do meu pai, mas como todo sabemos, a distância entre a realidade e o sonho era abismal. Voltemos ao quintal, suas árvores, seus espaços e as brincadeiras de três crianças inocentes.

O terreno era grande o bastante para caber sonhos, brigas, corridas e uma ameaça contínua à sanidade materna.

Havia metal, ferramentas, um forno derretendo metais leves,
e três onis mirins com tempo sobrando e nenhuma noção de risco biológico-combustivo.

Se o mundo tivesse um botão vermelho escrito NÃO APERTE —
os três já teriam apertado duas vezes e desmontado pra ver o mecanismo.

 


Nesses barulhos do meu pai, sempre o primo Eduardo estava envolvido, ora como participante principal, ora como coadjuvante, mas os dois primos se amavam muito e eram muito parecidos no grau de cabeça avoada. 

O Brasil estava entrando na pior fase da crise econômica, o desemprego aumentando, a inflação corroendo os rendimentos e aqueles como meu pai, que não tinham um emprego fixo, sentiam esses males da pior maneira, mesa mais vazia, altos e baixos, socorro da familia. Momentos dificeis que marcou o ocaso da ditadura militar. A década de 80 começava com o seu pior cenário para as famílias mais pobres do Brasil.



⚖️ A Lei da Igualdade Suprema

Aqui funcionavam as regras mais justas já criadas fora da ONU:

🍬 balas com milímetros medidos a olho clínico
🍫 ovos de Páscoa modelos separados, mas igual peso, quase com balança imaginária
🍽️ escova, prato, caneca, cadeira — tudo na cor do dono

Quem ganhava algo maior provocava guerra santa.

Quem ficasse com a menor fatia virava Che Guevara infantil em rebelião doce.

Quando digo guerra santa, era mesmo o caos, ninguém segurava os 3 pequenos onis, uma pequena revolução, chinelos voadores para lá e cá, uns bumbuns aquecidos por uns tapas ou cintadas, choros e castigos, realmente nossos pais usavam medidas marciais extremas.


Mas a maior parte do tempo, eramos pacíficos, nossos pais gastavam energia demais para pagar os boletos e o aluguel do imóvel onde morávamos.

Mas nesse cenário. Minha querida progenitora. Mulher de muita imaginação para cozinhar coisas deliciosas que deixavam os pequenos onis em estado de glória, bolos, pudins, aquela refeição caseira, que deixa saudades no velho barbudo dos dias atuais.

E a mãe?
Uma diplomata ninja — descascava quatro laranjas e só liberava quando tudo estivesse dividido.
Sabedoria milenar digna do mosteiro Shaolin das Mães que Sobreviveram aos Filhos.



🏫 O Pré-Primário no Parque 3 Marias

Ano de aprender letras, mas o currículo real era outro:

📍 atravessar a perigosa Estrada de Mogi das Cruzes
📍 escutar buzinas que pareciam mísseis
📍 sobreviver à travessia como ritual xamânico

Minha segunda ida à escolinha, foi menos divertida, menos emoções, estava alfabetizado, não tenho grandes eventos ou grande memorias de lá, uma nuvem sobre o período, quase como um exílio daquele mundo idílico, que era o quintal magico da bagunça. Tanto que me lembro mais das idas e vindas, ora acompanhado pelo meu pai, ora minha mãe, ora minha madrinha, a vó Anna, ora o bisavô Francisco, outras a tia Miriam numa sucessão de caminhadas a escolinha. Mas sem lembrar do que acontecia dentro... deve ter sido chato pacas, para apagar assim.

Nomes de colegas se perderam na névoa da memória —
mas o cheiro do caderno novo e o medo dos carros continuam nítidos como fotografia.



☢️ O Dia do Reator Bellacosa nº 1

Todo grande clã possui seu Evento Nuclear Fundador.
O dos Bellacosa foi humilde, químico, quase Chernobyl de quintal:

cal virgem + garrafa + água = vapor, fervura, fumaça e pânico generalizado.

A rua correu.
A mãe gritou.
O pai talvez tenha batido recorde de 100m livre sem largar o alicate.
E os três cientistas, observando o frasco fumegante…

… entenderam que a ciência é maravilhosa,
mas explode.

Quintal virou laboratório atômico, e por um instante a Vila Rio Branco esteve prestes a se tornar zona de exclusão nível Fukushima Infantil.



📘 Epílogo

Ser três irmãos era viver em constante big bang,
criando universos, derretendo metais e medindo doces como se o cosmos dependesse disso.

Foi a infância onde o mundo era feito de:

🔧 ferramentas velhas
🏃‍♂️ corridas intermináveis
🍊 laranjas igualitárias
🧪 experimentos quase proibidos
📺 desenhos no final da tarde

Uma anarquia doce —
aquelas que só a memória entende e o coração guarda.

Porque crescer é esquecer nomes… mas nunca o cheiro da fumaça da cal virgem,
o eco do riso no quintal,
a cor de cada copo na mesa
e o gosto de ser parte de um trio indestrutível.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Crônica – O Sobrado da Tia Guiomar e a Descoberta do Telefone

 


Crônica – O Sobrado da Tia Guiomar e a Descoberta do Telefone

Voltar para a Vila Rio Branco é como abrir um álbum de figurinhas antigas: cada página tem cheiro, voz, textura.
E numa dessas páginas mora um castelo — o sobrado da Tia-Avó Guiomar.

Guiomar, irmã da minha vó Alzira, formava com o Tio Francisco e os primos Silas, Noemi e Mirian aquela parte da família que, para os olhos de dois pequenos aventureiros, parecia viver num outro nível de existência. Eram a “parte rica”, como diziam os adultos, mas para mim e para a Vivi, aquilo significava apenas mais magia por metro quadrado.

O sobrado tinha escadas enormes, corredores que pareciam passagens secretas e um brilho diferente — talvez fosse da cera no chão, talvez fosse da fartura que parecia morar ali. Porque, olha… as mesas da Tia Guiomar!
Cada visita era um banquete digno de chefão final de fase. A gente mal chegava e já via os pratos alinhados, cheiro de bolo, carne assando, suco fresco… E sempre, sempre alguém dizendo: “Come mais um pouquinho, menino.”

E eu comia, claro.
Por educação.
(E porque era tudo maravilhoso.)

Mas havia algo ainda mais impressionante naquela casa. Algo que, para um garoto no final dos anos 70, era praticamente tecnologia alienígena.


O telefone.

Sim, senhor(a). UM TELEFONE.
Daqueles com fio, disco giratório e um som que parecia abrir um portal interdimensional.

Era raro, raríssimo.
No Brasil daquela época, a tal da Telesp tinha o “Plano de Expansão”. Você pagava e… esperava. E esperava. E esperava mais um pouco. E só então, anos depois, recebia a linha telefônica. Era quase como ganhar um dragão adestrado pelo correio.

Mas a Tia Guiomar… ah, ela já tinha o dela.
E aquilo me fascinava.



Eu passava horas ligando para o Disque-Historinha – 200-1234, aquele número mítico onde vozes mágicas contavam contos infantis direto para o ouvido de um menino encantado. Ligava para parentes, ligava para ninguém, ligava só para ouvir o disco girando e o click da conexão.

Era o ápice da tecnologia.
E eu, pequenino, me senti pela primeira vez um viajante intergaláctico, conversando com mundos distantes através de um aparelho fixado na parede.

Enquanto isso, o Tio Francisco, pastor da Assembleia de Deus e homem que ajudou a construir trilhos e estações do metrô de São Paulo com as próprias mãos, me ouvia. Com uma paciência bíblica, respondia minhas enxurradas de porquês. E olha que eu era um tagarela nível hard… daqueles que só param quando o sono vence.

Entre uma bronca suave e um ensinamento cristão, ele dividia histórias de vida, fé, trabalho e coragem. Para mim, era como ouvir parábolas modernas.

Noemi, a prima sempre risonha, era a guardiã das nossas aventuras internas.
A Vivi e eu corríamos de um canto ao outro, inventando mundos, criando monstros imaginários nos corredores, fingindo que o sobrado era um gigantesco castelo medieval — e ela vinha junto, rindo, guiando, às vezes tentando conter a bagunça e às vezes incentivando ainda mais.

Cada visita terminava com aquela sensação boa de tarde bem vivida.
O dia rendia, a barriga saía cheia, o coração aquecido, e a cabeça… a cabeça saía com mais histórias, mais perguntas, mais descobertas.

E o telefone.
Ah, o telefone.
Era como se, só de olhar para ele, eu visse o futuro chegando devagarinho — um futuro onde tudo seria conectado, rápido, pulsante.
Ali, naquele sobrado, eu aprendi que tecnologia não é só máquina — é encantamento, é poder falar com o distante, é encurtar mundos.



E uma história começava a ser contada só pra você.

Era bruxaria.
Era ficção científica.
Era o topo da pirâmide tecnológica dos anos 70.

Além disso, havia o êxtase supremo: falar com outros parentes pelo telefone.
Ouvir a voz deles, distante, viajando pelos fios metálicos, chegando até meu ouvido…
Era como magia industrial.

Virou um símbolo.

Do carinho da família.
Do luxo simples dos anos 70.
Da primeira vez que um menino descobriu o futuro dentro de um aparelho eletro-mecânico com um disco de plástico giratório e montes de fiozinhos de cobre.

E até hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo ouvir o trrrrr-trrrrr da discagem, anunciando que a aventura ia começar.

Aquela casa era magica. Eu e Vivi corríamos pelo sobrado, inventando castelos e reinos, brigando, rindo, criando caos. Sempre acompanhados pela Noemi, com um sorriso enorme, olhando pra nós como quem cuida de dois pequenos monstros adoráveis — nossos “Onis de Vila Rio Branco”.

E assim, entre escadas, corredores, sermões, risadas, pratos cheios e aquele telefone que parecia abrir portais, a casa da Tia Guiomar se tornou mais do que uma lembrança.



Hoje, quando fecho os olhos, o som do disco girando ainda ecoa.
O corredor continua iluminado.
O cheiro da comida sobe do fogão.
E eu ainda sou aquele menino curioso, com a mão no telefone, descobrindo o tamanho do mundo.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

🕯️ Formigão e Formiguinha: Memórias de Um Pai na São Paulo dos Anos 70



 ,🕯️ “Formigão e Formiguinha: Memórias de Um Pai na São Paulo dos Anos 70”

(Um post ao estilo Bellacosa Mainframe, com nostalgia, ternura, história paulistana e aquela poética do cotidiano que vive na memória.)




🌙 Prefácio: Quando o Coração Troca o Modo IPL para o Modo Memórias

Fim de ano tem essa magia silenciosa: o coração dá um warm start, o ar fica diferente, a nostalgia sobe como uma job class de alta prioridade e, de repente, tudo o que nos fez ser quem somos começa a desfilar no nosso spool interno.

E é nessa estação emocional que aparecem os rostos que moldaram nossa alma.
Hoje, entre tantas figuras importantes — sua mãe Mercedes, sua avó Anna — você escolhe acender o spotlight sobre ele:

Seu pai, o Formigão.
E você, o pequeno Formiguinha, correndo ao lado.

Um duo improvável e perfeito.
Um capítulo inteiro da história Bellacosa que mora na infância.




🐜 Formigão & Formiguinha: A Dupla Inesquecível

Ninguém sabe de onde vieram esses apelidos.
Talvez de uma brincadeira qualquer.
Talvez de um filme, de uma piada, de um gesto.
Ou talvez, simplesmente, porque pai e filho eram como duas formiguinhas trilhando o mundo:
— Ele carregando o peso do mundo nas costas.
— Você carregado nos ombros, vendo o mundo de cima, seguro, feliz.

Essa imagem…
Um pai grande, firme, forte como um mainframe IBM 3033.
Um filho pequeno, curioso, elétrico, sorridente.

É a espécie de memória que nunca morre —
apenas se fortalece a cada dezembro.




🐎 O Cavalinho nos Ombros: O Primeiro Passeio no Horizonte

Você lembra do cavalinho nos ombros?
Ah… aquele era o seu primeiro cockpit, a sua primeira visão aérea da Vila Rio Branco e do mundo. O vento batendo no rosto, as risadas, o equilíbrio perfeito entre aventura e proteção.

Era a maior tecnologia da época:
um sistema de transporte emocional movido a amor.




🍅 Os Tomatinhos: A Piada Infame, Gore e Eterna

Todo pai tem uma piadinha infame.
Mas a do tomatinho… essa entrou no folclore Bellacosa.

Você, pequeno, ouvia aquilo com a mesma mistura de horror e fascínio que sentiríamos vendo um JCL sendo apagado por engano em plena produção.

Era ruim, era bizarra, era gore…
Mas era de pai.
E pai pode.

Porque é assim que memórias de verdade nascem:
do imperfeito, do simples, do espontâneo.




🛠️ Ferro-Velhos: O Parque de Diversões do Formigão

Na década de 1970, ferro-velho era quase um planeta paralelo.
Seu pai te levava para esses lugares que cheiravam a ferrugem, graxa e histórias — e lá vocês caçavam peças para os automóveis dele, sempre meio tortos, meio remendados, meio “caindo de podre”.

Mas para o Formigão, eram máquinas com alma.
Para você, eram aventuras siderais.

E, de algum modo mágico, essas incursões moldaram o olhar técnico, investigativo e detalhista que você carrega até hoje — sim, o mesmo olhar que te levou aos mainframes, aos códigos COBOL, às lógicas profundas do mundo profissional.

Tudo começou ali, com carros velhos e parafusos perdidos.




🎖️ Histórias do Exército: O Mundo de Um Adulto Aos Olhos de Uma Criança

Quando o Formigão falava do tempo de Exército, era como se abrisse um dataset secreto.
Você ouvia com atenção, imaginando uniformes, marchas, aventuras, disciplina — tudo ampliado pela imaginação fervilhante de um menino de 5 anos.

Esses fragmentos eram portais para outra realidade.
Para um tempo que não era seu, mas que você adorava visitar.




📸 O Universo da Fotografia Profissional: A São Paulo Que Existia

Aqui está um dos capítulos mais cinematográficos da sua memória:

Vocês dois caminhando pela São Paulo setentista — uma metrópole viva, pulsante, industrial — atravessando:

  • Rua Antonio de Godoy

  • Rua São Bento

  • Rua Xavier de Toledo

E não era turismo.
Era imersão técnica.

Laboratórios fotográficos, casas de equipamentos, livrarias que eram templos. O cheiro de químicos fotográficos, os papéis especiais, os quadros, as lentes, os filtros, as Nikon, Yashica, Pentax… tudo aquilo entrava em você como um novo idioma.

Aquele mundo era fascinante.
E você fez parte dele.

Porque o Formigão te levava.
Porque você era o Formiguinha.




🌆 A São Paulo Que Crescia e Crescia... e Crescia

Nos anos 70, São Paulo era uma máquina descomunal, uma espécie de mainframe urbano que processava milhões de vidas simultaneamente.

E vocês dois caminhavam dentro dela como se estivessem dentro do coração da cidade.

Esse é um privilégio.
E uma memória rara.




☀️ Mas… Nem Todo Pai É Herói o Tempo Todo

Essa parte faz arder um pouco.
Porque você sabe — e diz, com honestidade e coragem — que o mesmo Formigão que foi seu herói na infância, mais tarde tornou-se seu vilão.

Coisas da vida.
Das feridas.
Das escolhas.
Da década de 1980, que estava longe no horizonte, mas um dia chegou.

Mas aqui, neste post…
O recorte é o do menino de 5 anos.
Do amor puro.
Da aventura.
Do brilho no olhar.
Do cavalinho nos ombros.

E isso ninguém tira.




🕯️ Epílogo: O Formiguinha Carrega o Formigão Dentro de Si

Hoje, quando você olha para trás com esse sorriso triste e bonito, sabe que tudo isso — o bom, o mágico, o confuso e o difícil — te moldou profundamente.

E que o Formigão, com seus defeitos e brilhos, vive no seu jeito de ver o mundo, de trabalhar, de contar histórias.

Vive em você, Bellacosa.
Vive em cada memória que você reativa como um dataset cheio de amor.

E quando dezembro chega,
e as luzes se acendem,
e o coração aquece…

O Formigão volta para os ombros do Formiguinha.
Sempre.,