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segunda-feira, 11 de maio de 2020

🕶️ Memórias de uma festa muito louca – verão, vinil e caos adolescente de 1990




🕶️ Memórias de uma festa muito louca – verão, vinil e caos adolescente de 1990


Existem noites que não cabem em calendário — ficam ali, em loop dentro da memória, rodando como um vinil arranhado de The Cure, misturado com cheiro de cigarro, perfume barato e o zumbido dos amplificadores.
Essa história é de 1990, o ano em que tudo era possível: o Brasil redescobria a democracia, São Paulo fervia em tribos, e a juventude… bom, a juventude testava todos os limites da sanidade.


🎛️ O convite indecente da Vivi

Tudo começou com minha irmã, Vivi — a dona da bagunça, a curadora oficial da minha juventude desgovernada.
Ela apareceu certa noite dizendo:

“Você vai comigo numa festa. Vai ser diferente.”

Diferente era pouco.
A Vivi era do tipo que trocava o uniforme da escola por uma jaqueta militar cheia de patches, vivia entre bailinhos, matinês e o subterrâneo da cena carecas do subúrbio e eu no oposto na cena gótica paulistana.
Eu era o irmão mais velho, meio nerd e as vezes orbitava esse mundo underground— ora curioso, ora arrastado — até o dia em que ela resolveu que eu precisava “socializar com o grupo” da classe dela na escola..
Aceitei, meio sem saber no que estava me metendo.


🏚️ A casa, o som, o caos

A festa acontecia numa casa velha em Ferraz de Vasconcelos — paredes sem reboco, dessas com fios a mostra e construção sempre em curso.

As luzes eram fracas, o som era alto, e o repertório ia de Joy Division a Ira!, passando por Legião Urbana, Siouxsie and the Banshees e um lado B de Ultraje a Rigor que só DJ de fita cassete conhecia.

Foi lá, entre copos de refrigerante turvo e risadas nervosas, que eu conheci Amanda, mal sabia eu, que o treco era armado.
Ela tinha o cabelo cumprido no famoso corte Pigmalião, um brotinho bem graciosa, uma camiseta do The Smiths e um olhar que misturava desafio com tédio.
Falava pouco, ria pouco, mas quando ria, o tempo travava — como quando o walkman engole a fita.


💥 A noite que saiu do script

Tudo ia bem até que alguém trouxe uma garrafa suspeita, e a festa virou experimento social.
Tinha quem dançasse, quem chorasse, quem filosofasse sobre o fim do mundo.
Lá pelas duas da manhã, o quarto de hóspedes virou pista improvisada, o quintal virou confessionário, e o lider da patota— um skatista descolado chamado Boris — decidiu participar da coreografia.

Amanda me puxou pra varanda e disse:

“Essas festas são como a vida. Todo mundo acha que tem o controle, mas no fundo ninguém sabe o que tá fazendo.”

Naquele instante, entre o som distante de New Order e o frio cortando o ar, percebi que ela estava certa — e que a adolescência é isso: uma sucessão de erros bonitos e lembranças meio borradas que o tempo transforma em poesia.


🖤 Epílogo: AMANDA 

O sol nasceu como um deboche.
A casa parecia ter sido bombardeada por glitter e Marlboro.
A Vivi dormia abraçada numa caixa de vinil, e Amanda, ah Amanda curtimos um bom momento e a Amanda, entrou para a história como a garota que me pegou, misturada a cartas de Tarot, papos exotéricos e drinks de vodka barata...

Mas toda vez que ouço “Love Will Tear Us Apart”, o coração dá aquele segfault leve — tipo sistema tentando reler um setor antigo do disco rígido da memória.


🧃 Filosofia de Balcão do El Jefe

A juventude dos anos 90 foi o último sistema operacional analógico: instável, bonito, perigoso, cheio de vírus e músicas boas.
E as Amandas que passaram pela vida foram as atualizações que nunca mais vieram — mas deixaram log no coração.


☠️ Dica de El Jefe:
Se um dia você encontrar uma fita K7 velha com o nome “Festa da Soninha 1990”, não jogue fora.
Coloque pra tocar.
Deixe o chiado preencher o silêncio.
E lembre-se:

“A gente não viveu pra entender — viveu pra sentir.”