🌿 Rua Utrech, 1982 – A Primeira Amiga que Ficou para Sempre no Registro do Coração
(memo dump .1982.NOSTALGIA – carregando em fita magnética emocional)
Existem memórias que não doem — apenas brilham.
São como fotografias amareladas, guardadas num envelope de cartas que a vida nunca entregou de volta.
A minha de 1981–1983 mora na Rua Utrech.
Uma casa, um muro, e do outro lado dele — Renata.
Ela era mais velha, estudante do 5º ano do ginásio, olhos castanhos grandes como janelas abertas para o mundo, cabelo liso que balançava como cortina ao vento de um preto escuro como a noite. Eu ainda pequeno, 2º ano do primário, mas já curioso demais para caber dentro do próprio corpo e do próprio tempo.
Não havia romance adulto, não havia desejo maduro —
havia descoberta. Havia cumplicidade.
Duas crianças em níveis diferentes de XP, mas conectadas por algo que hoje eu chamaria de primeira afetuosidade consciente.
Eu pulava o muro como quem atravessa para outra dimensão —
não em busca de travessuras proibidas, e sim de:
📘 gibis compartilhados
📚 tarde ajudando no dever de casa
🎈 conversas que pareciam importantes demais para acabar
📺 Assistir à sessão da tarde na TV Globo e desenhos na TV Records juntos.
👧 Conversar coisas aleatórias
E quando inesperadamente a mudança para Pirassununga veio, levou com ela mais do que caixas e móveis — levou um pedaço de universo. O adeus não foi formal, não teve carta, não teve lágrima épica. Foi apenas vida seguindo — como trem que parte sem avisar. E Renata passando a categoria das memórias magicas, inatingível, perfeita e graciosa.
E às vezes eu penso…
Renata ainda existe na minha linha do tempo?
Será que hoje é mãe, professora, avó talvez?
Será que sorri ao lembrar do garoto que escalava muro para conversar?
Ainda se lembra das peraltices, que compartilhamos nos idos anos 1980?
Dos bolinhos que sua mãe fritava para o lanche da tarde, dos sucos e bolachas compartilhados.
Do menino curioso, que queria saber tudo sobre a quinta e sexta série do Ginásio?
Memory.log.txt fica aberto, esperando update.
Quem sabe um dia o algoritmo da vida faça match —
e o reencontro aconteça, nem que seja só para rir do passado.
Porque as primeiras amizades não morrem.
Elas apenas se transformam em luz de arquivo permanente dentro da gente.
A última vez que a vi, foi em 1983 após. a desastrosa mudança de Pirassununga, o incêndio, a separação, a ida e o retorno de Guaianazes, estava muito ferido para pensar em pegar o endereço e trocar correspondência. Talvez esse tenha sido um arrependimento, não ter trocado correspondências com ela, saber como estava sendo sua vida.
A maior lição que aprendi com a Renata, foi não perder tempo, não esperar para agir, pois as coisas mudam tão rápido e temos tão pouco controle sobre elas, que se não fizermos, perdemos o trem.