O DIABINHO — UMA CRÔNICA BELLACOSA MAINFRAME PARA O EL JEFE MIDNIGHT LUNCH
Por Vagner Bellacosa, diretamente do cluster emocional da Zona Leste
Existem memórias que são como datasets VSAM cluster: você sabe que estão ali, arquivadas, comprimidas, algumas até com CI Size duvidoso — mas basta um GET inesperado para tudo ser lido de volta com nitidez cristalina.
E foi exatamente isso que aconteceu naquele dia perdido nos meus vintões, quando o destino resolveu executar um job de nostalgia em plena tarde no Parque Três Marias.
Estava eu, alinhado, pacato, versão Production Mode — sem bugs aparentes — caminhando ao lado da minha tia Miriam. Domingo típico de Zona Leste: criançada correndo como TSO sessions sem timeout, cheiro de pipoca no ar e aquele sol que te compila sem warnings.
De repente, surge do nada uma velhinha conhecida da família.
Daquelas figuras que carregam em seu storage todas as versões, branches e releases da árvore genealógica dos Bellacosa. Cumprimentou a minha tia, bateu o papo padrão de atualização de PTFs familiares, e aí… veio a pergunta.
— “Quem é o rapagão bonito que está acompanhando você?”
Sim, ela usou rapagão bonito. Auditado e autenticado.
Miriam, sempre objetiva como um DISPLAY JOBSTATUS, responde com alegria:
— “É meu sobrinho!”
A velhinha, processando a informação como um batch rodando em 31 bits, ajusta os óculos, mira em mim com precisão de Opcode e dispara:
— “Ah… é filho da Deise?”
Na inocência das tias que não sabem que seguram informações nucleares na ponta da língua, Miriam responde:
— “Não, é filho do Wilson.”
E então…
Silêncio.
Mas não qualquer silêncio.
Silêncio de abend S0C7 emocional.
A velhinha travou. Eu vi no olho dela o dump sendo produzido.
Reprocessou memórias antigas, alinhou registros, reconstruiu índices, revisitou décadas de logs familiares.
Até que ela concluiu o job, olhou para mim como quem revalida uma lenda urbana e soltou a mensagem de sistema definitiva:
— “Ah… então você era aquele diabinho.”
Não havia contra-argumento. Não tinha rollback. Não tinha RETRY.
Estava certificado, homologado e publicado no production environment da história familiar:
Eu fui — oficialmente — o diabinho.
Aquela hora eu percebi duas coisas:
-
A infância da gente deixa rastros mais permanentes que SMF records.
-
Tias e velhinhas são o verdadeiro RACF: elas lembram tudo, controlam tudo, e nunca esquecem o que você fez no dataset da vida.
E quer saber?
Entre tantas memórias que formam a colcha de retalhos dos Bellacosa, essa é uma das mais saborosas, mais humanas e mais engraçadas.
Um lembrete de que, antes de sermos analistas, professores, arquitetos, mainframeiros, ou seja lá qual seja o nosso role atual…
Nós fomos crianças.
Travessas, barulhentas, curiosas, e às vezes — para o registro oficial da auditoria familiar — diabinhos certificados.
E tudo bem.
Porque é dessa energia, dessa faísca, desse “processo paralelo” da alma que nasce o sujeito que segue rodando até hoje, pleno, resiliente e com uptime invejável.
No final das contas, todos carregamos um diabinho no subsystem interno.
Alguns apenas têm logs mais famosos.
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