sexta-feira, 8 de abril de 2011

O DIABINHO — UMA CRÔNICA BELLACOSA MAINFRAME

 


O DIABINHO — UMA CRÔNICA BELLACOSA MAINFRAME PARA O EL JEFE MIDNIGHT LUNCH
Por Vagner Bellacosa, diretamente do cluster emocional da Zona Leste


Existem memórias que são como datasets VSAM cluster: você sabe que estão ali, arquivadas, comprimidas, algumas até com CI Size duvidoso — mas basta um GET inesperado para tudo ser lido de volta com nitidez cristalina.
E foi exatamente isso que aconteceu naquele dia perdido nos meus vintões, quando o destino resolveu executar um job de nostalgia em plena tarde no Parque Três Marias.

Estava eu, alinhado, pacato, versão Production Mode — sem bugs aparentes — caminhando ao lado da minha tia Miriam. Domingo típico de Zona Leste: criançada correndo como TSO sessions sem timeout, cheiro de pipoca no ar e aquele sol que te compila sem warnings.



De repente, surge do nada uma velhinha conhecida da família.
Daquelas figuras que carregam em seu storage todas as versões, branches e releases da árvore genealógica dos Bellacosa. Cumprimentou a minha tia, bateu o papo padrão de atualização de PTFs familiares, e aí… veio a pergunta.

“Quem é o rapagão bonito que está acompanhando você?”
Sim, ela usou rapagão bonito. Auditado e autenticado.

Miriam, sempre objetiva como um DISPLAY JOBSTATUS, responde com alegria:
“É meu sobrinho!”

A velhinha, processando a informação como um batch rodando em 31 bits, ajusta os óculos, mira em mim com precisão de Opcode e dispara:

“Ah… é filho da Deise?”

Na inocência das tias que não sabem que seguram informações nucleares na ponta da língua, Miriam responde:
“Não, é filho do Wilson.”

E então…
Silêncio.
Mas não qualquer silêncio.
Silêncio de abend S0C7 emocional.

A velhinha travou. Eu vi no olho dela o dump sendo produzido.
Reprocessou memórias antigas, alinhou registros, reconstruiu índices, revisitou décadas de logs familiares.

Até que ela concluiu o job, olhou para mim como quem revalida uma lenda urbana e soltou a mensagem de sistema definitiva:



“Ah… então você era aquele diabinho.”

Não havia contra-argumento. Não tinha rollback. Não tinha RETRY.
Estava certificado, homologado e publicado no production environment da história familiar:
Eu fui — oficialmente — o diabinho.

Aquela hora eu percebi duas coisas:

  1. A infância da gente deixa rastros mais permanentes que SMF records.

  2. Tias e velhinhas são o verdadeiro RACF: elas lembram tudo, controlam tudo, e nunca esquecem o que você fez no dataset da vida.

E quer saber?
Entre tantas memórias que formam a colcha de retalhos dos Bellacosa, essa é uma das mais saborosas, mais humanas e mais engraçadas.
Um lembrete de que, antes de sermos analistas, professores, arquitetos, mainframeiros, ou seja lá qual seja o nosso role atual…
Nós fomos crianças.
Travessas, barulhentas, curiosas, e às vezes — para o registro oficial da auditoria familiar — diabinhos certificados.

E tudo bem.
Porque é dessa energia, dessa faísca, desse “processo paralelo” da alma que nasce o sujeito que segue rodando até hoje, pleno, resiliente e com uptime invejável.

No final das contas, todos carregamos um diabinho no subsystem interno.
Alguns apenas têm logs mais famosos.


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