“Vinte anos depois…”
Vinte anos depois, a memória coloriu tudo. Já não sei mais o que foi imaginação e o que foi realidade. Só sei que um dia, cansado e entediado com meu trabalho no Banco Real ABN Amro, entre planilhas, protocolos e o barulho das teclas, eu me perdi de mim mesmo.
As longas viagens de fretado até São Paulo me roubavam o brilho dos olhos e o resto da paciência. Era o tempo que escorria entre o asfalto e os fones de ouvido, enquanto eu sonhava em ser qualquer coisa, menos aquilo.
Meu namoro com a Giovana estava morno — e, ainda assim, eu me embriagava nos olhos dela, azuis como promessa de verão. Havia amor, havia encanto, mas também uma névoa. Um lado meu queria fincar raízes, casar, construir. O outro queria vento na cara, estrada, caos, Europa.
Ela estudava sem parar, obcecada, como quem luta contra o destino. Medicina era o sonho; Biologia, a realidade possível. E eu, perdido entre o amor e a inquietude, decidi chutar o pau da barraca.
Foi assim, sem mapa nem certeza, que nasceu a minha aventura.
Entre malas malfeitas e coragem improvisada, parti — não apenas para a Europa, mas para dentro de mim mesmo.
Deixando as deliciosas tarde de sábado, sentados no banco da praça, comendo algodão-doce, caminhando as margens do rio Camanducaia em Amparo, vendo preguiçosas capivaras, trocando deliciosos beijos e me encantando com lindos olhinhos azuis.
Às vezes lembrar sinto um pesar, aquele nó no estômago, imaginando o é se... mas tantas coisas aconteceram, que criaram toda uma nova narrativa emocionante e alucinante.
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