📜 As Crônicas da Berinjela Cósmica — Ibitinga, o Sítio e o Festival Gastronômico do Destino
Ao estilo Bellacosa Mainframe, para o arquivo eterno do El Jefe Midnight.
Há histórias na vida que não seguem lógica, não pedem licença e nem esperam nosso paladar crescer.
Simplesmente acontecem.
E uma delas é o Festival da Berinjela de Ibitinga.
Na mesma linha temporal nebulosa — aquele buffer misterioso entre 1978 e 1980 — estávamos de novo no sítio da família amiga do meu pai. Um cenário bucólico, com cheiro de lenha queimando, milho secando no paiol, galinhas ciscando e a eterna brisa quente do interior.
Meu pai, todo animado, anunciou:
— “Minha mãe, dona Anna, vai nos visitar!”
Os sitiantes iluminaram o rosto como NPCs recebendo uma quest rara.
— “E o que ela gosta de comer?”
Meu pai, naquele momento inocente e desprevenido, olhou em volta.
Viu a horta.
E lá estavam: fileiras intermináveis de berinjelas roxas.
E soltou a sentença que mudaria o menu do universo:
— “Ah, minha mãe gosta de berinjela.”
Pronto.
Era o prenúncio do caos culinário.
🍆 O Dia da Grande Beringelada
Chegou o fim de semana.
Todos embarcamos no lendário Fusquinha vermelho, sacolejando na estrada de terra, entre sítios, porteiras, pastos e aquele cheiro de mato quente que entra pelas janelas.
Ao chegar, a cena parecia saída de um anime culinário:
Uma mesa colossal.
E tudo — absolutamente tudo — era feito com berinjela.
A dona da casa tinha se dedicado como uma chef Michelin do campo, e produziu um cardápio digno de ritual:
-
berinjela frita,
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berinjela à milanesa,
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berinjela ensopada,
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berinjela grelhada,
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berinjela com queijo,
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berinjela recheada,
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berinjela à parmegiana,
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conserva de berinjela,
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berinjela agridoce,
-
salada de berinjela,
-
e mais umas três variações místicas que desafiam a própria memória RAM.
Era uma orgia gastronômica berinjelesca, uma overdose vegetal pré-internet, pré-globalização e pré-trauma infantil reconhecível.
🐔 O Contrabando Gastronômico Sob a Mesa
Eu e Vivi, jovens padawans do paladar, não muito fãs do vegetal…
tivemos uma ideia brilhante: usar as galinhas como parceiras do crime.
Elas ciscavam sob a mesa, inocentes, ávidas, prontas.
E nós, discretos, diplomáticos, solidários:
— ops
— pluft
— lá ia uma rodela de berinjela direto para o papo da galinha
O avianato agradecia.
Nosso paladar também.
Mas, justiça seja feita:
o pão caseiro, feito no forno à lenha, era um poema.
E a comida preparada no fogão do rancho tinha aquele sabor único que só existe quando a lenha canta, crepita e abençoa cada panela.
O carinho da família amiga era palpável.
Era mais que comida — era comunhão, era ritual, era acolhimento.
🐥 Entre Pintinhos, Poeira e Frutas do Pé
O resto do dia foi um daqueles típicos capítulos de infância rural:
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correr atrás das galinhas,
-
acariciar pintinhos,
-
subir em árvores,
-
comer fruta direto do pé,
-
brincar na terra vermelha quente,
-
escutar histórias dos adultos,
-
sentir o tempo passar mais devagar.
Coisa simples.
Coisa que cura.
Coisa que marca.
🚽 O Episódio da Fossa (Prévia do Próximo Capítulo)
E já que estamos falando de autenticidade rural…
Ir ao banheiro na roça era apenas para os fortes.
Latrina.
Buraco.
Fossa profunda.
Cheiros indescritíveis.
Medos primitivos.
Mas isso, caro leitor…
tem seu próprio capítulo reservado, digno de trilogia.