📺 El Jefe Midnight Lunch – Bellacosa Mainframe Chronicles
Quando a televisão era um altar doméstico, não um catálogo infinito
Há memórias que têm cheiro, têm som, têm textura.
E essa aqui… essa tem chiado de sintonia e luz azulada de tubo aquecendo devagar.
Sim, meu amigo…
teve uma época em que a televisão brasileira era uma entidade única, um monolito sagrado que morava na sala e reinava absoluto.
E reinava porque só existia UM aparelho por casa.
Um.
Único.
Indivisível.
Um verdadeiro mainframe doméstico.
📡 Quatro canais. Quatro universos. E só.
Anos 1970.
Você aí com 300 streams, 500 canais, 12 telinhas e 18 perfis de usuário pode até achar exagero…
mas nós tínhamos quatro canais.
Quatro.
Não quatro páginas de catálogo.
Quatro ofertas de mundo.
E ainda era assim:
-
cada canal com seu próprio humor,
-
sua própria grade fixa,
-
seus horários sagrados.
Nada daquele “vejo depois”.
Nada de on demand.
Nada de maratonar.
A TV é que mandava em nós.
Ela era o scheduler.
Nós éramos o batch.
🔥 A televisão a válvula – a arte da paciência forjada no calor
Você ligava o aparelho e não acontecia…
nada.
Primeiro surgia aquele pontinho branco no meio da tela.
Depois um brilho tímido expandindo.
E aí…
devagarinho…
a imagem ia nascendo, como um universo pixelado se formando após o Big Bang.
Demorava.
Demorava MUITO.
Era tipo fazer IPL em mainframe com storage lento.
Mas quando a imagem surgia…
ah, meu amigo…
era como receber o login no TSO depois de dez tentativas.
🔧 Sintonizar era mais difícil que ajustar PARM no JCL
Tinha o chiado.
Tinha a perda de sintonia.
Tinha a antena interna em forma de bigode de gato.
Tinha a antena externa que virava parábola de rádio pirata.
Tinha o clássico:
— “Vaguininho, vai lá fora girar a antena!”
— “Assim?”
— “Assim não! Volta!”
Até que por milagre — a imagem estabilizava.
E ninguém mais ousava respirar.
🎨 A primeira TV colorida – um portal para outra dimensão
E aí veio a revolução.
Me lembro até hoje da primeira vez que entrei na casa da minha avó e vi uma TV colorida brilhando na sala.
Meu cérebro de criança deu abend S0C7 na hora.
A imagem parecia mais viva, mais quente, mais… impossível.
Mas aí acontecia a parte engraçada:
Metade da programação ainda era em preto e branco.
A TV era colorida…
O conteúdo, não.
Era como comprar um mainframe novo e só rodar programas COBOL escritos em 1962.
Funciona, mas dá uma vontade danada de ver o resto alcançar o hardware.
📼 A guerra da sala – o maior conflito do Brasil pré-Internet
Com um único aparelho na casa inteira, surgia a batalha diária:
-
quem ia ver o desenho,
-
quem ia ver o futebol,
-
quem ia ver a novela,
-
quem tinha prioridade,
-
quem chorava,
-
quem perdia,
-
quem descascava a cabeça do pai até ele mandar todo mundo dormir.
Era a democracia da força, da argumentação, da sorte e, às vezes, da chinelada.
⚡ O dia em que meu pai instalou um transformador
Aí veio o milagre técnico.
Meu pai — o eterno inventor autodidata — comprou um transformador para a TV.
De repente, ligava e…
PÁ!
Imagem instantânea.
Foi como passar de disco rígido para memória flash.
A gente se sentiu vivendo o futuro.
🖥️ Do tubo CRT ao celular – a TV virou trilha
E o tempo passou.
A TV a válvula virou transistor.
O preto e branco virou cor.
O tubo virou plasma.
O plasma virou LCD, que virou LED.
Que virou um monstro de 80 polegadas ocupando metade da sala.
E agora...
a sala está vazia.
Porque a televisão não reina mais.
Ela é só mais um ícone entre os apps.
O trono passou para os tablets e celulares, pequenos oráculos pessoais que cada um leva no bolso.
📌 E eu?
Eu guardo um carinho enorme daquele mundo limitado, chiado, preto e branco…
Porque nele, mesmo com tão pouco, a gente se maravilhava com tudo.
Era como rodar sistema operacional inteiro em 32K de memória:
pouco recurso,
muita imaginação.
Bellacosa out. 📺✨