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quinta-feira, 4 de agosto de 2022

📺 Sessão Sala Especial – TV Record, anos 1980

 



📺 Sessão Sala Especial – TV Record, anos 1980
(No tom Bellacosa Mainframe, com memória de televisor de tubo, chiado VHF e cheiro de sofá de corino no verão.)


Ah, a década de 1980… quando televisão era compromisso, gravação era fita VHS de 3 cabeças e ninguém “pulava intro” porque ela era parte da experiência. Entre tantas sessões de filmes que marcaram gerações, uma brilha de forma quase mitológica para quem viveu a telinha daquela época: a Sala Especial, exibida pela TV Record.



⭐ O que era?

A Sala Especial era um slot semanal (ou quase isso — grade de TV dos 80 mudava como IPL com PARM mal ajustado) dedicado a filmes adultos – sensuais, eróticos, picantes, mas longe de pornografia explícita. Era o tipo de atração que começava tarde da noite, muitas vezes após o Jornal da Record, fazendo parte do que a gente hoje chamaria de softcore cinema nights.

Não era pornô. Era clima. Era expectativa. Era câmera lenta, música de saxofone e cortina balançando ao vento.
Era o máximo de “ousadia televisiva” que se podia ter sem precisar de codificador pirata.




🧬 Por que existiu?

A TV Record, ainda longe de ser a gigante evangélica que se tornaria nos anos 1990+, investia em programação para competir na guerra noturna com Globo e SBT. A Sala Especial foi parte do movimento das emissoras de buscar audiência no horário adulto, algo que também se via em:

📌 Cinema em Casa (SBT)
📌 Supercine / Sessão de Gala (Globo)
📌 Ciclo de Cinema Erótico (manjado nos 80 e início dos 90)



Mas a Sala Especial tinha um diferencial: trazia muitas produções da BOCA  DO LIXO PAULISTANA, com roteiros nada serio, historias malucas e títulos ainda mais malucos ainda, usando de duplo sentindo, os antepassados diretos do click bait. Às vezes aparecei um casting de primeira linha, mas era normalmente composto por estrelas decadentes. ou iniciantes no cinema artesanal brasileiro. 

Tipo  O Bom Marido, Como é Boa Nossa Empregada, Nos tempos da Vaselina, As cangaceiras eróticas, Pensionato de Vigaristas, Historias que nossas babas não contavam, Sábado Alucinante. Alguns eram  filmes de qualidade com boas história e elenco, outras eram a perversão pura. Mas sem pornografia.

Em 90 minutos de filmes, talvez uns 2 minutos de peitinho, 3 minutos de bumbum, nada de nudez frontal, simulações de cena sexual embaixo do lençol ou sombras, muito palavrão e ataque velado a ditadura, aos conservadores e a tradicional família brasileira. Nada comparado com os filmes europeus soft-porn que chegaram em 1990 em outros canais e mesmo com a internet e sua pornografia hardcore.




🔥 Como o público via?

Era praticamente um ritual urbano-suburbano-nacional:

  • Pai ligava a TV baixinho

  • Mãe fingia que ia dormir

  • Criança inventava de beber água às 23h45

  • Antena de VHF ajustada com Bombril

  • E lá estava ela: Sala Especial, em cores saturadas e néon imaginário.

Quem viveu… sabe. Quem não se lembra da Wilza Carla?




🎭 Curiosidades, fofocas & "print screen mental"

🥃 Filmes muitas vezes eram reclassificados com sinopses mais “poéticas” para driblar a censura.
📼 Muita gente usou VHS para gravar escondido — e escondia embaixo do guarda-roupa.
🔊 Trilha sonora quase sempre com sax ou sintetizador estilo Giorgio Moroder versão cafona.
📡 Em algumas cidades a transmissão era instável — formando o fetiche da imagem quase invisível.
🎞 Nos anos 90 a sessão sumiu — a TV mudou, a moral mudou, a concorrência ficou adulta demais.



🔐 Easter egg (Bellacosa Mainframe style)

Havia uma mística urbana entre adolescentes:

“Se acertar a sintonia fina no botão do televisor preto-e-branco, dá pra ver mais do que devia”.

Nunca confirmado. Nunca negado. Um mito majestoso dos 80.
Como achar EXIT em COBOL quando só te deram GOTO.


🔚 Em resumo

A Sala Especial da TV Record foi o soft-erotismo elegante do horário nobre tardio,
um pedaço de liberdade televisiva num Brasil pré-internet, pré-streaming, pré-tudo.
Era proibido para menores, liberado para insone e cultuado por quem descobria o mundo.

Um capítulo da televisão brasileira que hoje parece impossível —
mas que existe vivo e elétrico na memória RGB de quem esteve lá.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

🧔‍♂️ Caricaturas, Pastelões e o Doce Zigue-Zague da Saudade

 


📝 El Jefe Midnight Lunch — Crônica Bellacosa Mainframe
Caricaturas, Pastelões e o Doce Zigue-Zague da Saudade


Às vezes, meus caros Oni-Readers, a saudade dá aquele estouro de SVC no peito — uma interrupção emocional tão forte que trava o sistema, obriga o coração a rodar um pequeno abend S013 de lembranças, antes de voltar para o fluxo normal. E é nesses momentos que o Bellacosa aqui mergulha fundo nos arquivos do SMF da infância, lá no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 — quando o mundo era simples, compacto, leve, como um JCL bem escrito.

Era um tempo em que as pessoas conviviam de verdade. A vizinhança era um CICS de portas abertas: todo mundo falando, todo mundo se vendo, todo mundo participando. Nada de DM no WhatsApp, nada de notificação push — era bater na porta, gritar no portão ou chegar de chinelo arrastando pelo corredor.

Tínhamos quatro canais de televisão. Quatro. E ainda assim parecia mais que suficiente. Aos sábados, depois de cumprir a “rotina batch doméstica” (leia-se: arrumar cama, guardar brinquedos, levar lixo), chegava a hora mágica dos pastelões americanos. O Gordo e o Magro, Os Três Patetas, os Irmãos Marx, Jerry Lewis rodando suas rotinas em preto e branco, com um humor tão puro e eficiente quanto um COBOL bem indentado. Imagine horas de riso facil, com torta na cara, lutas hilariantes, música de primeira e confusão sem igual, clássico dos clássicos, cenário de papelão meia boca, figurino modesto e orçamento menor ainda, mas riso garantido. O mais gostoso de tudo era estar na companhia dos meus avôs Pedro e Anna, sempre tinha um bolo delicioso, uma nova receita experimental e aquele carinho maravilhoso, que deixa lagriminhas nos olhos.



Era pastelão, era trapalhada, era perseguição no estilo GO TO sem PERFORM. E eu ria — oh, como ria! Até hoje, quando encontro um desses clássicos perdidos num super canal da vida, sinto o coraçãozinho dar aquele upgradinho gostoso, como se estivesse aplicando um PTF de alegria.



E aí, nesse batch job de memórias, minha fita magnética me leva direto para a casa do bisavô Francisco — o espanhol. Um homem durão, cara fechada, pose de Security Officer de RACF, mas com um coração mole escondido sob aquela casca rígida. Ele adorava minhas artes, meus rabiscos, meus desenhos, que ele chamava carinhosamente de “caricaturas”. E olha que naquela época eu rabiscava em qualquer superfície que não estivesse correndo, respirando ou gritando.



Mas o maior carinho era o ritual:
Sempre que o bisavô ia ao banco pegar a aposentadoria, pedia ao gerente listagens de formulário contínuo já usadas — aquelas enormes, brancas, com o contorno verde zebrado. E levava pra mim. Um pacotão. Um mainframe delivery de pura felicidade.



Engraçado pensar que dez anos depois eu estaria exatamente ali, adulto, vivendo profissionalmente entre listagens contínuas, formulários carbonados, 80, 130 e 255 colunas… Era como se o bisavô tivesse enviado um pequeno JOB para o futuro, preparando meu DESTINY. Ou pelo menos meu DDN.

E falando em doçuras do passado — como não lembrar da bisavó Isabel? Ah, a rotina dela guardando a nata que subia no leite fervido para fazer manteiga… aquilo era alquimia culinária. Um assembler culinário, instrução por instrução, mexendo devagarinho, apertando o tempo certo, virando uma manteiga artesanal que parecia carregar um pedacinho de céu.



E os bolinhos de chuva da tia-avó Maria? Aquilo não era receita. Era magia. Você via a chuvinha fina batendo no quintal, o cheiro invadindo a casa, açúcar caindo devagar como spool sendo liberado pelo JES2, e pronto: os Onis já estavam todos reunidos no entorno da panela, como programadores à espera de um dump para examinar.

Tudo era doce. Tudo era alegre. Tudo era travessura. Eu estava sempre em alguma casa de parente, rodando meus “programas infantis”, criando caos, sorrindo, vivendo. Nada de logs, nada de monitoramento — era pura execução em tempo real.



Hoje, quando a saudade aperta aquele botão interno e chama essas memórias para a memória central, percebo como esses pequenos instantes construíram o backup emocional do que sou.

E fico feliz…
Porque, no fundo, ainda sou aquele pequeno Oni rabiscador, que ria dos pastelões, que pedia lista contínua do banco e que acreditava que a vida sempre teria cheiro de bolinho de chuva.



E, com licença… acho que preciso ir ali fazer café.

Esse dump emocional mereceu.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Quando a televisão era um altar doméstico, não um catálogo infinito

📺 El Jefe Midnight Lunch – Bellacosa Mainframe Chronicles
Quando a televisão era um altar doméstico, não um catálogo infinito

Há memórias que têm cheiro, têm som, têm textura.
E essa aqui… essa tem chiado de sintonia e luz azulada de tubo aquecendo devagar.

Sim, meu amigo…
teve uma época em que a televisão brasileira era uma entidade única, um monolito sagrado que morava na sala e reinava absoluto.
E reinava porque só existia UM aparelho por casa.
Um.
Único.
Indivisível.
Um verdadeiro mainframe doméstico.



📡 Quatro canais. Quatro universos. E só.

Anos 1970.
Você aí com 300 streams, 500 canais, 12 telinhas e 18 perfis de usuário pode até achar exagero…
mas nós tínhamos quatro canais.

Quatro.
Não quatro páginas de catálogo.
Quatro ofertas de mundo.

E ainda era assim:

  • cada canal com seu próprio humor,

  • sua própria grade fixa,

  • seus horários sagrados.

Nada daquele “vejo depois”.
Nada de on demand.
Nada de maratonar.

A TV é que mandava em nós.
Ela era o scheduler.
Nós éramos o batch.





🔥 A televisão a válvula – a arte da paciência forjada no calor

Você ligava o aparelho e não acontecia…
nada.

Primeiro surgia aquele pontinho branco no meio da tela.
Depois um brilho tímido expandindo.
E aí…
devagarinho
a imagem ia nascendo, como um universo pixelado se formando após o Big Bang.

Demorava.
Demorava MUITO.
Era tipo fazer IPL em mainframe com storage lento.

Mas quando a imagem surgia…
ah, meu amigo…
era como receber o login no TSO depois de dez tentativas.




🔧 Sintonizar era mais difícil que ajustar PARM no JCL

Tinha o chiado.
Tinha a perda de sintonia.
Tinha a antena interna em forma de bigode de gato.
Tinha a antena externa que virava parábola de rádio pirata.
Tinha o clássico:

“Vaguininho, vai lá fora girar a antena!”
— “Assim?”
“Assim não! Volta!”

Até que por milagre — a imagem estabilizava.

E ninguém mais ousava respirar.




🎨 A primeira TV colorida – um portal para outra dimensão

E aí veio a revolução.

Me lembro até hoje da primeira vez que entrei na casa da minha avó e vi uma TV colorida brilhando na sala.

Meu cérebro de criança deu abend S0C7 na hora.

A imagem parecia mais viva, mais quente, mais… impossível.

Mas aí acontecia a parte engraçada:

Metade da programação ainda era em preto e branco.
A TV era colorida…
O conteúdo, não.

Era como comprar um mainframe novo e só rodar programas COBOL escritos em 1962.
Funciona, mas dá uma vontade danada de ver o resto alcançar o hardware.




📼 A guerra da sala – o maior conflito do Brasil pré-Internet

Com um único aparelho na casa inteira, surgia a batalha diária:

  • quem ia ver o desenho,

  • quem ia ver o futebol,

  • quem ia ver a novela,

  • quem tinha prioridade,

  • quem chorava,

  • quem perdia,

  • quem descascava a cabeça do pai até ele mandar todo mundo dormir.

Era a democracia da força, da argumentação, da sorte e, às vezes, da chinelada.



⚡ O dia em que meu pai instalou um transformador

Aí veio o milagre técnico.

Meu pai — o eterno inventor autodidata — comprou um transformador para a TV.
De repente, ligava e…
PÁ!
Imagem instantânea.

Foi como passar de disco rígido para memória flash.

A gente se sentiu vivendo o futuro.


🖥️ Do tubo CRT ao celular – a TV virou trilha

E o tempo passou.
A TV a válvula virou transistor.
O preto e branco virou cor.
O tubo virou plasma.
O plasma virou LCD, que virou LED.
Que virou um monstro de 80 polegadas ocupando metade da sala.

E agora...
a sala está vazia.

Porque a televisão não reina mais.
Ela é só mais um ícone entre os apps.
O trono passou para os tablets e celulares, pequenos oráculos pessoais que cada um leva no bolso.


📌 E eu?

Eu guardo um carinho enorme daquele mundo limitado, chiado, preto e branco…
Porque nele, mesmo com tão pouco, a gente se maravilhava com tudo.

Era como rodar sistema operacional inteiro em 32K de memória:

pouco recurso,
muita imaginação.

Bellacosa out. 📺✨