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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

🎤 MÁRCIA PASTEL & FREDDIE MERCURY — O CROSSOVER IMPROVÁVEL

 


🎤 MÁRCIA PASTEL & FREDDIE MERCURY — O CROSSOVER IMPROVÁVEL

Naqueles tempos em que paquera acontecia no metrô, olhares eram offline, e anotar telefone era ato de coragem logística, conhecei a Márcia.

Entre passeio no shopping, sorvetes no mac donalds, visitas a cohab José Bonifacio, namorico de sofá no apartamento da avó umas escadas acima — romance urbano clássico do suburbio de São Paulo numa era pré-internet.

E como todo romance paulista raiz…
tinha detalhe gastronômico:
a mãe dela era pasteleira.

E surge então um dos apelidos mais simetricamente paulistanos que já existiu:
Márcia Pastel.
Romântico? Talvez não.
Inevitável? Com certeza.

Durou pouco, mas deixou marca.

E aí veio o dia fatídico.

Na mesma tarde em que o mundo perdia Freddie Mercury, perdi Márcia.
Duas batidas fortes no peito na mesma frequência.
Dois lutos distintos, mas que o cérebro conectou no mesmo dataset.

Freddie virou trilha sonora.
Márcia virou capítulo.
E o dia virou marco.




🌑 A NOITE EM QUE ME PERDI NO MEU PRÓPRIO TERRITÓRIO

Coração partido tem um poder estranho:
ele desorienta.
Desfaz o GPS emocional.
Zera o mapa interno.

Eu — um andarilho experiente, navegador de cidades, o homem que nunca se perde, nem com idioma estranho, nem com clima hostil — resolveu ir andando de Itaquera até Guaianases.

Andar pra esquecer.
Caminhar pra curar.
Pisando no asfalto como quem tenta reiniciar a alma.

Mas naquele novembro…
Me perdi, virei pro lado errado e quase cheguei em São Mateus.

Não numa cidade desconhecida.
Não num país distante.
Não num labirinto europeu.

Me perdi no seu bairro. Teatro conhecido de inumeras voltas de bicicleta e mesmo a pé.

E isso é a definição poética perfeita do luto amoroso:
quando até as ruas que eu conheço deixam de me reconhecer.



🕍 A IGREJINHA PROTESTANTE — O CHECKPOINT DIVINO

Caminhando sem norte, atravessando vielas que pareciam cena de Cidade de Deus, rostos fechados, becos suspeitos…
o perigo era real.

E então surge a NPC salvadora da quest:
uma senhora protestante.
Saião longo, cabelo comprido, Bíblia apertada embaixo do braço — o uniforme oficial das anciãs sagradas do subúrbio.

Você pergunta o caminho.
Ela arregala os olhos, já imaginando o tamanho da encrenca.

E como toda boa crente-raiz,
te deu instruções como quem narra uma missão da Arca de Noé:

— “Filho… é longe. Mas você vai fazer assim…”

E te entregou instruções detalhadas para o meu mapa mental.
O único mapa da noite.



🚶 A JORNADA DE 5 HORAS ATÉ O VIADUTO SAGRADO

Seguindo as instruções, passos rápidos, cabeça baixa, coração pesado…
assustado,

preocupado,

andei.
E andei.
E andei.

Até que no horizonte surgiu o farol urbano, o checkpoint final, o save point da minha adolescência:
o viaduto de Guaianases cruzando os trilhos da velha CBTU, a antiga Ferrovia Central do Brasil.

Era como ver o USS Enterprise saindo da dobra espacial depois de horas na escuridão.
Já sabia:
estava salvo.

Cheguei em casa quase à meia-noite, exausto, mas inteiro.

E, principalmente, reencontrado.



🌟 CONCLUSÃO — O QUE FICA QUANDO A GENTE SE PERDE

Algumas histórias entram na nossa vida como música do Queen:
intensas, trágicas, grandiosas, cheias de eco.

Aquela noite não foi só o fim de um namoro.
Foi um rito de passagem.
Foi o momento em que descobri que até quem nunca se perde…
pode se perder quando o coração falha.

Mas também descobri que sempre existe:

  • uma senhora de saião para guiar,

  • uma rua correta para virar,

  • um viaduto iluminado esperando como um Farol de Alexandria,

  • um lar ao fim da jornada.

E que, no fim,
como diria Freddie…
The show must go on.

E eu continuei.

Fui ainda mais longe.
E contei a história.
E hoje ela vive —
ao estilo Bellacosa Mainframe —
preservada como um snapshot imortal em meu diário estelar.




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

📜 Amores no Quiririm — Bellacosa Mainframe, El Jefe Midnight Lunch

 


📜 Amores no Quiririm — Bellacosa Mainframe, El Jefe Midnight Lunch
(Cheirando a naftalina, como quem abre um diário esquecido no fundo de um armário frio)


Amores no Quiririm…
só de escrever já sinto o cheiro da terra vermelha levantando com o vento da tarde, as ruas meio tortas, os muros descascados, e eu ali — remendado por dentro depois do inverno de 83. Aquele ano que rachou minha infância no meio. O bairro não foi apenas endereço… foi reconstrução. Foi reboot de sistema depois de pane geral.



No Quiririm eu aprendi na marra que crescer é aceitar patch no coração e seguir em frente. Com o primo Celo, a vida rodava overclockada. As bagunças eram release semanal, as brigas eram hotfix na rua, e as travessuras… ah, essas eram deployment constante. Tudo ganhou volume, força, coragem. Tava mais velho, mais malicioso e ao mesmo tempo — graças aos ferimentos — mais frio, mais calculista. Sobrevivência tem seu preço, e eu paguei em cicatrizes.

Mas você veio aqui pelos amores, não pelos tombos…

Então vem comigo.



Tinha eu uma queda épica por Angelica, loirinha de olhos verdes, carinha de princesinha de final de fase, após o Boss furioso. A professora Ligia sempre vigilante, uma colega de classe, sorriso tímido, curiosidade no olhar. A gente fazia lição junto, partilhava caderno e risadas. Ela olhava pra mim como quem descobre defeito novo em máquina antiga — com encanto e risco. Eu, vindo da capital, era novidade no sistema. Mas entre Quiririm e Cecap rolava firewall emocional, diferenças socioeconômicas, rixas bobas de juventude. E por mais que o coração pedisse commit, nada compilou.


Foi aí que entrou em cena Marcia, minha vizinha da Quadra B. Ah, Marcia…

Mais velha, mais divertida, com aquele charme que só quem já viveu uns patchs sentimentais sabe usar. Ela era bug desejável no meu código. O perigo fazia parte do pacote — principalmente porque o irmão Reinaldo, o auditor moral do bairro, monitorava cada tentativa minha de deploy romântico. E dava pau. Dava briga. Dava cascudo.

Reinaldo sempre vencendo? Não.
Apenas com vantagem apertada.
Porque além de pequeno Don Juan, eu era galinho de briga — não fugia do conflito, ajustava estratégia, tentava de novo. E mesmo tomando uns abend, garanti minhas pequenas vitórias no log da memória.

Mas essa ainda não é a história.
Essa é só a fase beta.



A melhor, deixo para outro post: Rosemeire, quadra G.
Outra área de domínio. Outras regras. E uma confusão que me fez entender que mulher cheia de energia pode virar tempestade em copo, rua e coração. Ela merece capítulo próprio — com direito a trilha sonora e risada fora de hora. Obviamente meu parça e companheiro de confusões estava junto, meu primo Marcelo.

Hoje, ao fechar essa memória, volto pra Marcia.
Da quadra B.
Do sorriso que desarmava firewall.
Dos 13 anos que carregavam o magnetismo de uma supernova adolescente.

Minha primeira musa na Quadra B.
Minha lembrança preferida do Quiririm.

Bellacosa Mainframe ☕🔥 – El Jefe Midnight Lunch
Onde memórias não morrem. Apenas fazem checkpoint.