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segunda-feira, 15 de abril de 2019

💾 Capítulo 3 — Entre o 3270 e o XT: o despertar do programador

 


💾 Capítulo 3 — Entre o 3270 e o XT: o despertar do programador

Série: Crônicas de um Office-Boy Mainframe

Entre uma ida ao banco e outra, eu já não era mais o mesmo.
O garoto que carregava pastas começou a carregar também uma curiosidade sem fim.
Naquela época, os computadores ainda tinham cheiro de tinta, poeira e novidade.
E bastava um terminal 3270 piscando na tela para que o coração batesse diferente.

O 3270 era o portal para o sistema central — o grande cérebro da empresa.
Eu via os analistas digitando comandos enigmáticos, telinhas cheias de números, mensagens que pareciam falar com outro mundo.
E pensava comigo:

“Como será que eles fazem isso acontecer?”


 

Foi então que o XT entrou de vez na minha história.
Aquele micro que chegou em uma caixa, e que ninguém sabia montar, agora estava em pleno funcionamento.
E o office-boy curioso virou seu “operador não-oficial”.

💡 Eu aprendia no instinto — sem curso, sem internet, sem manual.
Descobria as funções por tentativa e erro.
Comandos do MS-DOS, teclas de função, diretórios…
Era o nascimento do meu alfabeto digital.

Comecei a anotar tudo em um caderninho surrado:
DIR, COPY, DEL, FORMAT, CLS — cada comando era um pequeno feitiço.
O XT virou minha escola silenciosa.

Durante os intervalos, eu ficava observando o comportamento do sistema.
Quando dava erro, tentava entender o porquê.
Sem perceber, estava pensando como programador — ainda que o cargo dissesse “office-boy”.

Alguns colegas achavam estranho aquele garoto preferir o teclado à conversa.
Outros riam, dizendo que “computador era coisa de engenheiro”.
Mas algo dentro de mim dizia que aquele era o meu caminho.



⚙️ Foi ali, entre o 3270 e o XT, que despertei.
Descobri que máquinas podiam obedecer ideias, que lógica podia virar ação.
E que, no fundo, programar era uma forma de conversar com o invisível —
de transformar curiosidade em código, e código em futuro.



Anos depois, quando entrei no mundo do mainframe, percebi que tudo começou ali:
Naquele micro empoeirado da Avenida Paulista,
com um garoto da Zona Leste digitando seus primeiros comandos
sem saber que estava escrevendo, linha por linha, o roteiro da própria vida.



sexta-feira, 30 de junho de 2017

Semana de Ferias no São José

Intervalo comercial entre as danças.

Entre o termino de uma dança e o inicio da próxima, um caipira chato fala pelos cotovelos incomodando todo mundo com sua publicidade.

Momento de publicidade onde o caipira-mor fala sobre a semana de ferias onde as crianças terão varias brincadeiras disponíveis.


quinta-feira, 29 de junho de 2017

A quadrilha não para

Festa Junina no São José


A criançada esta com a corda toda, ja pularam a fogueira, correram atras do balão, bagunçaram com o sanfoneiro e a tarde ainda promete muita dança.

Muita alegria e danças a tarde toda... as crianças dos 1ºs até os 9ºs dançaram a beça, a cada meia hora tinha uma nova turma.




quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

1978 – A Rua Ultrecht, o Malabarista do Muro e a Primeira Aula de Horror Doméstico

 


1978 – A Rua Ultrecht, o Malabarista do Muro e a Primeira Aula de Horror Doméstico

(Bellacosa Mainframe – El Jefe Midnight / Arquivos da Memória em Modo Batch)

1978 foi o ano em que meu sistema central ligou o LOG DETAIL=ALL pela primeira vez.
A casinha da Rua Ultrecht — aquela mesma atendida por um malabarista de muro, especialista em destruir casas de orixás e a paciência alheia — era um laboratório improvisado de caos cotidiano.
Minha mãe, estafada, lutava diariamente contra a entropia gerada por dois diabinhos em modo turbo: eu e Vivi.

Foi então decidido:
Hora de nos domesticar. Hora de ir para a escola.

E aí meu mundo mudou.



O Uniforme Vermelho: A Primeira Skin Oficial da Vida Escolar

Short vermelho.
Camiseta branca.
Boné vermelho.

O dress code universal do pré-escolar brasileiro.

Ali, naquele pequeno prédio cheio de gritos, giz, lágrimas e descobertas, eu encontrei o meu primeiro amor verdadeiro:
a leitura.

Aprender a decodificar letras foi como descobrir o source code do universo.
A partir daquele dia, nunca mais seria enganado pelas placas, revistas, embalagens, histórias ou segredos escondidos em qualquer canto.

O diabinho estava sendo iniciado na magia das palavras.
E uma vez aberto esse portal… não se fecha nunca mais.


O Menino Abobalhado e o Escorregador Apocalíptico

Todo jardim da infância tem seu evento cataclísmico.

No meu, foi o dia em que um garoto maior — meio perdido, meio solto das engrenagens mentais — decidiu escalar o escorregador de forma absolutamente antipedagógica.

Resultado?

Ele derrubou o escorregador inteiro.
Desceu junto.
Machucou outras crianças.
Criou uma pequena cena de guerra.

Eu, pequeno observador crítico, registrei tudo na “memória não-volátil”:
Então é assim que funciona o mundo: caos, gravidade e decisões ruins.



A Morte da Bisavó Josefa – Primeiro Contato com o Desligamento do Sistema

1978 também foi o ano em que minha bisavó Josefa faleceu.
Foi minha primeira experiência real com a ideia de que programas podem ser encerrados de forma definitiva.

Mas o evento que realmente marcou aquele período…
Foi outro.



O Dia em que o Horror Invadiu a Cozinha

Meu bisavô José — o mesmo guerreiro vendedor de churrasquinho no ponto final — morou conosco por um tempo depois do falecimento da esposa.
E foi ali que aconteceu um dos episódios mais gore, surrealistas e cinematográficos da história da família.

A Vivi para de respirar. A casa entra em pânico.

Minha irmã, pequenininha, começou subitamente a perder o fôlego.
Era como se o ar tivesse abandonado seus pulmõezinhos.
Minha mãe entrou em modo desespero total, correndo, chorando, implorando.

Eu assistia paralisado, os olhos enormes, vendo cada byte daquela cena se gravar para sempre.

O bisavô corre da cozinha. E aí vem o detalhe.

Ele estava mexendo numa bacia gigante de alumínio, cheia de carnes temperadas, preparadas para virar o famoso churrasquinho que sustentava pedaços da familia.

As mãos dele estavam ensopadas de sangue e tempero.
Literalmente pingando.

No meio do escândalo, ele tenta ajudar.
Corre.
Pega Vivi do colo da minha mãe.

E então…

A Cena Inesquecível

Minha irmã, vestidinha de branco.
Nos braços de um homem de mãos ensanguentadas.

A mistura perfeita para o terror.

Ela recupera o fôlego…
Chora, berra…
E fica rubra, tingida pelo sangue da carne.

Minha mãe aos gritos.
Eu sem ar.
O bisavô em estado de pânico absoluto, sem conseguir reagir.
E então meu pai chega.

A Imagem que Congela o Tempo

O homem abre a porta e vê:

Vivi ensanguentada, aos prantos.
Minha mãe desesperada.
O bisavô petrificado.
E eu, testemunha ocular do apocalipse doméstico.

Meu pai ficou branco.
O mundo parou por uns três segundos.

E só então…

Só então perceberam o detalhe:
o sangue não era da Vivi.

Era apenas sangue do churrasquinho.

Ela estava viva, inteira, assustada — mas intacta.

E o pobre bisavô, coitado, quase desmaiou quando percebeu que tinha acabado de encenar, sem querer, uma cena digna de O Exorcista versão brasileira.



1978 – O Ano em que Comecei a Lembrar

Foi ali, naquela casa humilde, naquela cozinha caótica, que meu cérebro clicou e decidiu:

"A partir de agora, vou registrar tudo."

E assim começou minha vida consciente.

Com livros, sustos, caos, sangue de churrasquinho e um mundo prestes a se abrir para um menino diabinho com fome de histórias.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

📜 Amores no Quiririm — Bellacosa Mainframe, El Jefe Midnight Lunch

 


📜 Amores no Quiririm — Bellacosa Mainframe, El Jefe Midnight Lunch
(Cheirando a naftalina, como quem abre um diário esquecido no fundo de um armário frio)


Amores no Quiririm…
só de escrever já sinto o cheiro da terra vermelha levantando com o vento da tarde, as ruas meio tortas, os muros descascados, e eu ali — remendado por dentro depois do inverno de 83. Aquele ano que rachou minha infância no meio. O bairro não foi apenas endereço… foi reconstrução. Foi reboot de sistema depois de pane geral.



No Quiririm eu aprendi na marra que crescer é aceitar patch no coração e seguir em frente. Com o primo Celo, a vida rodava overclockada. As bagunças eram release semanal, as brigas eram hotfix na rua, e as travessuras… ah, essas eram deployment constante. Tudo ganhou volume, força, coragem. Tava mais velho, mais malicioso e ao mesmo tempo — graças aos ferimentos — mais frio, mais calculista. Sobrevivência tem seu preço, e eu paguei em cicatrizes.

Mas você veio aqui pelos amores, não pelos tombos…

Então vem comigo.



Tinha eu uma queda épica por Angelica, loirinha de olhos verdes, carinha de princesinha de final de fase, após o Boss furioso. A professora Ligia sempre vigilante, uma colega de classe, sorriso tímido, curiosidade no olhar. A gente fazia lição junto, partilhava caderno e risadas. Ela olhava pra mim como quem descobre defeito novo em máquina antiga — com encanto e risco. Eu, vindo da capital, era novidade no sistema. Mas entre Quiririm e Cecap rolava firewall emocional, diferenças socioeconômicas, rixas bobas de juventude. E por mais que o coração pedisse commit, nada compilou.


Foi aí que entrou em cena Marcia, minha vizinha da Quadra B. Ah, Marcia…

Mais velha, mais divertida, com aquele charme que só quem já viveu uns patchs sentimentais sabe usar. Ela era bug desejável no meu código. O perigo fazia parte do pacote — principalmente porque o irmão Reinaldo, o auditor moral do bairro, monitorava cada tentativa minha de deploy romântico. E dava pau. Dava briga. Dava cascudo.

Reinaldo sempre vencendo? Não.
Apenas com vantagem apertada.
Porque além de pequeno Don Juan, eu era galinho de briga — não fugia do conflito, ajustava estratégia, tentava de novo. E mesmo tomando uns abend, garanti minhas pequenas vitórias no log da memória.

Mas essa ainda não é a história.
Essa é só a fase beta.



A melhor, deixo para outro post: Rosemeire, quadra G.
Outra área de domínio. Outras regras. E uma confusão que me fez entender que mulher cheia de energia pode virar tempestade em copo, rua e coração. Ela merece capítulo próprio — com direito a trilha sonora e risada fora de hora. Obviamente meu parça e companheiro de confusões estava junto, meu primo Marcelo.

Hoje, ao fechar essa memória, volto pra Marcia.
Da quadra B.
Do sorriso que desarmava firewall.
Dos 13 anos que carregavam o magnetismo de uma supernova adolescente.

Minha primeira musa na Quadra B.
Minha lembrança preferida do Quiririm.

Bellacosa Mainframe ☕🔥 – El Jefe Midnight Lunch
Onde memórias não morrem. Apenas fazem checkpoint.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

🎄 Taubaté e o final boss Bailinhos, amigo secreto e luz meia-boca

 


🎄 Taubaté e o final boss: Bailinhos, amigo secreto e luz meia-boca

Memórias doces das escolas de Taubaté

Esta é, sem dúvida, uma das lembranças mais doces que carrego de Taubaté. Um conjunto de eventos simples, mas carregados de significado, vividos entre 1983 e 1984 no Quiririm e depois em 1985 e 1986 no Parque Sabará, nas escolas Deputado Cesar Costa e Amador Bueno da Veiga.

Naquele tempo, existia um ritual sagrado de fim de ano. Cada sala, de forma quase autônoma — algo bem stand-alone, sem centralização — escolhia um dia para fazer sua festinha de confraternização. Tinha de tudo: amigo secreto, comes e bebes, musiquinha, risadas e aquele clima de “missão cumprida” por mais um ano letivo finalizado sem abend.





Lembro com carinho da primeira caneta “de adulto” que ganhei da Adriana, ainda na quarta série. Para muitos era só uma caneta. Para mim, era quase um upgrade de sistema operacional, um sinal claro de que eu estava subindo de versão.

Os comes e bebes tinham sua própria organização social:
rapazes levavam bebidas, meninas traziam quitutes.
Quando dava, fazíamos uma vaquinha — crowdfunding analógico raiz — para melhorar o cardápio. E, claro, sempre surgia alguém com aquele toca-fitas parrudo estilo boombox, com dois alto-falantes, orgulho tecnológico da época, pronto para animar o bailinho.



No quinto ano, ganhei uma das minhas melhores memórias: a Gisele me ensinando a dançar música lenta. Dois passinhos para lá, um prá cá, corpos colados, mão na cintura e no ombro. Gisele, Gisele, danadinha. Nada de exageros. O som tinha que ficar baixo, porque outras salas ainda estavam em aula. Mesmo assim, era mágico.

Chegávamos mais cedo para preparar a sala:
arrastar cadeiras, empurrar mesas, criar um salão improvisado.
Fechávamos as cortinas para dar aquele escurinho estratégico e íamos ao painel de luzes desligar metade das lâmpadas. Um dimmer manual, na raça.

A professora coordenadora ficava ali, presente, fiscalizando — nosso RACF humano, garantindo que nada saísse do controle. E não saía. Era tudo muito saudável:
o bailinho,
o baile da vassoura,
as risadas,
a confraternização.



Claro que os outros professores apareciam para dar um alozinho, era um dia que as barreiras se quebravam, não existiam professores e alunos, apenas colegas de viagem, que terminaram com sucesso mais uma jornada. O Ômega escolar, vencer o chefe final e avançar para o nível seguinte.

Era a alegria pura de terminar mais um ano, passar de série, estreitar laços, criar histórias. Coisa simples. Coisa de interior nos anos 1980. Mas que rendia causos infinitos:
casalzinhos se formando,
paqueras evoluindo,
a chance de dançar com a mais gata da turma,
a zoação dos que amarelaram na hora H.

Troca de presentes, música baixa, luz meia-boca, coração acelerado.
Nada sofisticado. Nada artificial. Tudo real.



Hoje, muitos nomes se perderam na memória. Mas naquela época, cada colega era parte ativa do meu mundo. E lembrar desses momentos ainda anima o coração, como um job antigo que, quando relido, continua funcionando perfeitamente — sem precisar de manutenção.

Bons tempos. Tempos doces. Tempos que não dão rollback, mas deixam logs eternos na alma.


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Conheça as regras da dança da vassoura:

Momentos divertidos em bailinhos fosse na escola, fosse festas na garagem, onde houvesse um baile e uma pessoa espirituosa com uma vassoura disponivel


Regras da Dança da Vassoura

https://eljefemidnightlunch.blogspot.com/2014/10/danca-da-vassoura.html


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

🥥 Travessuras no Quiririm — As Guerras Territoriais dos Cecapianos

 


🥥 Travessuras no Quiririm — As Guerras Territoriais dos Cecapianos

Crônica ao estilo Bellacosa Mainframe, para o blog El Jefe Midnight Lunch

Existem infâncias que são parques de diversão.
A minha, em 1984, no Quiririm e no recém-criado Fabrilar e no enorme conjunt Cecap, era mais parecida com um tabuleiro de War misturado com Os Goonies.

Cada garoto tinha seu território.
Cada território tinha sua lei.
E cada lei era respeitada como se fosse JCL em produção:
errou, abend imediato.

E assim vivíamos numa espécie de guerra fria infantil, onde nem a ONU ousaria meter o bedelho.


🏘️ Os Três Povos do Vale Encantado

Naquele microcosmo taubateano, existiam três facções principais:



🏰 1. Os Cecapianos

Nascidos nos sobrados brancos, erguidos como fortalezas modernas.
Crianças com trilhas, bosques e quadras como reinos particulares.
Uma sociedade organizada, com líderes tribais, hierarquia e fronteiras bem definidas.

🌽 2. Os Quiririm Raiz

Moradores antigos, herdeiros da tradição italiana e dos quintais cheios de frutas.
Conheciam cada árvore, cada jabuticabeira, cada pedra do caminho.
E defendiam suas áreas com fervor digno de cavalaria medieval.


🏭 3. Os Fabrilarenses

Vindo do recente conjunto habitacional, criado por último, eram considerados os nômades urbanos, os NOVATOS — rápidos, espertos e com fama de brigões.
Para eles, território era motivo de honra.



🎒 A Escola: Nosso Acordo de Paz de Genebra

A EEPG Deputado César Costa era o único campo neutro.
Lá as três facções conviviam como se fosse um servidor compartilhado:

  • Nada de briga

  • Nada de provocações

  • Nada de declarar guerra no recreio

Porque ali, meus amigos, era campo santo.
Lugar onde até os mais valentões viravam alunos comportados.

Mas bastava cruzar o portão para o mundo se dividir de novo em fronteiras invisíveis.


🍒 As Expedições Secretas: Goiabas, Pitangas e Jaboticabas

O ápice das aventuras?
Invasões frutíferas.

Entrar escondido no território do Quiririm para comer jaboticaba era tipo missão impossível:

  • avançar rastejando

  • vigiar os coqueiros

  • fazer reconhecimento de área

  • calcular rota de fuga

  • subir no pé de fruta como quem toma uma torre de castelo

E então, claro…
ser descoberto.

A fuga era cinematográfica:
correria, gritos, galhos arranhando braços, risada nervosa e…
os cascudos ritualísticos quando capturado.
Nada grave.
Era o protocolo diplomático da época.


🌰 Guerras de Coquinhos e Mamonas — Nosso Paintball Pré-histórico

Se hoje a molecada brinca de laser tag, nós tínhamos:

Coquinhos + Bodoques

e

Mamonas + Pontaria treinada

As batalhas eram épicas:

  • Quadra D vs. Quadra B

  • Quadra B vs. Quadra E

  • Quadras unidas vs. Fabrilarenses

  • Quiririm vs. Todo mundo

Os líderes organizavam o ataque:
posições estratégicas atrás de muros, sincronização na contagem regressiva, estilingues preparados.

O impacto dos coquinhos deixava marcas de guerra.
Cicatrizes que hoje viraram memes pessoais.



🚴‍♂️ A Arte de Fugir, Brincar e Crescer

Vivíamos uma liberdade que o mundo moderno nem sonha mais.

  • Correr até perder o fôlego

  • Fugir de perseguições que eram parte do jogo

  • Se esconder atrás de eucaliptos

  • Brincar de pega-pega nos campinhos

  • Jogar taco nas ruas de terra

  • Disputar quem encontrava primeiro um riacho limpo

  • Receber os primeiros beijinhos roubados

E cada dia parecia maior que o anterior.
Dias de verão infinito.
Dias de infância verdadeira.



🌄 Epílogo: O Reino Que Só Criança Enxerga

Crescer no Quiririm, no Cecap, no meio daquela geopolítica infantil, foi viver numa pequena epopeia.

Numa era sem celular, sem internet, sem videogames modernos, a gente tinha:

  • território,

  • aventura,

  • guerra,

  • diplomacia,

  • fuga,

  • risos,

  • e descobertas.

Tudo isso sem que nenhum adulto percebesse a complexidade estratégica envolvida.

Aquela “guerra fria” era na verdade uma das fases mais quentes e doces da vida.

E no fim, todos nós — quiririnenses, cecapianos, fabrilarenses — crescemos juntos, cada um guardando suas histórias como quem guarda o mapa de um tesouro.



segunda-feira, 17 de março de 2014

🌦️ Sempre um Isekai — Capítulo IV: Depois da Tempestade

 

🌦️ Sempre um Isekai — Capítulo IV: Depois da Tempestade

A grande tempestade de 1983 passou, mas deixou rastros.
Uma dorzinha teimosa, um silêncio que nem o tempo apagava.
De São Paulo fomos para o Quiririm, em Taubaté, uma nova fase, um novo reboot da vida — outro “universo paralelo” no meu eterno isekai.

Os meses em São Paulo ficaram soterrados sob uma pedra de esquecimento, e o menino que chegou ao interior era outro: cauteloso, mas ainda curioso.
Terminei o 3º ano com a professora Maria, curiosamente xará da minha antiga mestra de Pirassununga.
O destino, caprichoso como sempre, parecia brincar com variáveis de nomes e destinos.


🏫 A superação e o trofeuzinho

No início, quase repetente — perdido entre traumas e mudanças —, mas me recuperei.
E aquela recuperação virou medalha: uma pequena estátua de metal, um trofeuzinho entregue pela professora Maria.


Não era o prêmio em si que importava, mas o reconhecimento.
Era o sistema dizendo: “Job concluído com sucesso.”

Comecei o 4º ano com a professora Lygia, veterana, calma, dona de um olhar que atravessava as travessuras e enxergava o menino que tentava se reconstruir.


Tinha longa carreira, um magistério de décadas — sabia dosar afeto e disciplina como quem compila sabedoria em tempo real.





🚲 Aventuras no CECAP e o primo Marcelo

No CECAP do Quiririm, a vida começou a rodar de novo.


Ao meu lado, o parceiro inseparável: meu primo Marcelo.
Um companheiro de aventuras, loucuras e risadas — uma das melhores variáveis dessa fase do programa da vida.

Com ele, vieram as brincadeiras de bicicleta, as corridas sem destino, os mergulhos nos rios e córregos, as travessias perigosas até Tremembé e Caçapava.
Íamos pescar peixinhos de aquários, procurar frutos no mato e sítios ao redor laranjas, caquis, goiabas, amoras, nesperas, pitangas, jabuticabas, e cometíamos os lendários “furtos de caqui” em uma chácara com altos muros, com a desculpa que era para presentear as professoras da escola — um ato de rebeldia com intenções poéticas. Que recebiam os frutos com largos sorrisos, sem imaginarem as travessuras para obte-los.


💕 Paixões, confusões e risadas

Na escola, o elenco era digno de uma novela infantil.
Tinha o Adriano, o “louco”, que transformava qualquer aula em comédia; a Adriana, doce e gentil; e a Angélica, uma loirinha italiana de olhos claros que me deixava sem ar.
Sapequinha, risonha, o tipo de menina que encantava só de existir.


Ficou na memória como uma dessas subrotinas do coração que nunca se apagam.


Também havia a Márcia, irmã do Reinaldo, ciumento e destemido.
Cada beijo que eu ganhava dela custava uma surra — parecia um loop infinito de amor e castigo.
E a Rosemeire, que andava com o perigoso “Marreco” — mas isso, como dizem, é outro capítulo do manual.



🌺 Família, risadas e Menudos

No meio de tudo isso, um brilho especial: minha prima Andreia.
Conversar com ela era leve, divertido.
Compartilhávamos sonhos e gargalhadas na Quadra C do CECAP, entre pipas, bicicletas e confissões inocentes.



Ela era fã dos Menudos, e eu zoava fazendo imitação para lá de vergonhosas, no mais puro sarrismo — mas confesso, hoje entendo aquele brilho no olhar adolescente dela. A Vivi apesar de pequenina também seguia os passos da Deia e era maluquinha pelo grupo do não se reprima. Para as meninas era a diversão  em fitas k7 e os programas de auditório tocando sósias e playbacks.

Eram tempos simples, quase analógicos.
A vida se media em pedaladas, o amor em bilhetes dobrados, e a amizade em risadas ecoando pelo fim de tarde.



☕ Epílogo Bellacosa

O Quiririm me ensinou que a vida é um sistema resiliente: mesmo após uma queda feia, ele reinicia, recompila e segue rodando.
Ali reaprendi a ser menino, reaprendi a confiar.
Os traumas viraram código comentado, as lembranças, arquivos de backup que guardo com carinho.

Porque, no fundo, a infância é o primeiro mainframe que a gente aprende a operar — e o último que a gente esquece de desligar.

#Quiririm #Cecap #Taubate 

domingo, 17 de março de 2013

🍰 O Bolo de Fubá, os Peixinhos e o Amor de Terceira Série

 


🍰 O Bolo de Fubá, os Peixinhos e o Amor de Terceira Série

(por Bellacosa Mainframe — Série “Sempre um Isekai” Capítulo III)

Lembranças de Pirassununga.
Um bairro no fim da cidade, onde o asfalto se rendia ao barro e os dias eram longos como verões eternos.
Os córregos serpenteavam preguiçosos entre as pedras, e neles nadavam bagres, lebistes e outros pequenos tesouros líquidos.
Foi ali, num pedaço esquecido do mapa, que vivi um dos capítulos mais doces da minha infância.



Vindo de São Paulo, descobri um mundo novo — sem muros, sem medo, sem pressa.
A liberdade tinha cheiro de mato e som de cigarra.
O pequeno bosque atrás das casas era, aos olhos de um menino de nove anos, uma floresta inteira — densa, misteriosa e cheia de promessas.



Com peneiras, calotas de Fusca e as bacias de revelação fotográfica do meu pai, eu me tornava um caçador de peixinhos.
Levava-os para casa, criava aquários improvisados, nomeava cada um e via neles a mesma curiosidade que eu sentia pelo mundo.



🏫 A sala mágica da professora Maria

Na escola, a professora Maria do 3º ano era uma espécie de arquiteta de sonhos.
Tinha conquistado o privilégio de ter uma sala só sua — uma raridade naquela época.
Transformou o espaço num jardim de ideias: flores, cartazes, livros, desenhos, e um aquário que se tornou o coração pulsante da turma.

Eu trouxe os primeiros peixinhos.
Alimentávamos juntos, trocávamos a água, observávamos suas danças silenciosas.
Entre risadas, descobri algo novo: a amizade, o encanto e aquela leve confusão no peito que, mais tarde, aprenderia a chamar de amor.




💕 Luciana e o bolo de fubá

Havia a Mércia, pela qual eu tinha uma quedinha discreta… mas quem roubou de vez minha atenção foi Luciana, uma menina loirinha, simpática, com olhos curiosos e um sorriso que parecia entender todos os meus segredos.

Um dia, ela me pediu peixinhos — e eu, cavaleiro de nove anos e alma de explorador, prometi levar.
“Mas leva na minha casa, tá?”, disse ela, com medo de derrubar os bichinhos no caminho.

Cheguei com o coração acelerado, segurando o pote com cuidado.
A mãe dela me recebeu com um sorriso que parecia o próprio sol.
Nos deixou brincando no quintal.
E então o ar se encheu de um cheiro inconfundível — bolo de fubá assando no forno.

Foi ali, entre risadas, peixinhos e farelo doce, que ganhei minha primeira namoradinha escolar.
Cada visita era um ritual: ela me esperava, a mãe servia o bolo, e o mundo parecia simples e perfeito.


🌧️ O vento muda

Foram meses felizes, cheios de risadas, sol e inocência.
Mas o destino, caprichoso como sempre, preparava a tempestade de 1983 — mudanças, despedidas e o início de outra jornada.

Antes que tudo mudasse, vivi intensamente cada dia em Pirassununga.
E hoje, décadas depois, basta sentir o cheiro de bolo de fubá para que o tempo se dobre, e eu volte a ser o menino de calças curtas, segurando um vidro com peixinhos e o coração batendo rápido.


☕ Epílogo Bellacosa

Nem todo código é feito de bits.
Alguns são feitos de memórias, sabores e afetos.
Pirassununga foi meu primeiro “sistema” fora do grande centro — um ambiente simples, mas com dados preciosos gravados na alma.

E o bolo de fubá é meu checkpoint de ternura, meu restore point para quando a vida fica pesada.
Porque, no fim, cada lembrança é um backup daquilo que fomos…
E toda infância bem vivida é um programa que ainda roda — mesmo depois de tantos reboots.

#bolofuba #pirassununga #peixinhos 

Ps: Qual caminho a vida da jovem Luciana tomou? O que será dela no século XXI?


domingo, 3 de março de 2013

O Dia em que Enfrentamos o Final Boss dos Cabelos Pirassununga, 1983 — “A Guerra dos Piolhos”

 


🪖 El Jefe Midnight Lunch — Crônicas Bellacosa Mainframe

Capítulo: O Dia em que Enfrentamos o Final Boss dos Cabelos
Pirassununga, 1983 — “A Guerra dos Piolhos”

Voltamos a Pirassununga, 1983 — um ano que só pode ter sido escrito por um roteirista bêbado no turno da madrugada, com acesso liberado ao dataset SYS1.RNG. Foi um período cheio, imprevisível, aleatório… um dump completo de caos emocional, social e doméstico.

A casa estava virada de ponta-cabeça.
A infidelidade do meu pai com a jovem Almerinda estourando como bomba no meio da sala. Brigas, choros, portas batendo, tensão no ar… e a grana ficando curta. Minha mãe lutando como podia, numa cidade estranha, sem suporte familiar, tentando segurar as pontas, cuidar da casa, de três pequenos onis e ainda manter a sanidade.



E quando o caos instala-se… o inimigo perfeito encontra brechas.

Foi assim que, sem perceber, fomos invadidos.
Um inimigo discreto, sorrateiro, genuíno profissional do modo stealth.
E quando dei por mim — estávamos em guerra.



Sim, meu caro El Jefe: piolhos.
A invasão dos guerreiros gordinhos com seis garrinhas prontas pra agarrar fio por fio como se escalassem a Torre Negra de Sauron.



Minha mãe, em condições normais, teria percebido na primeira coçadinha suspeita. Ela era quase uma SIEM humana: detectava ameaça antes do log ser gerado. Mas naquela situação… piolho era o menor dos problemas. Até que fomos apanhados na temida revista escolar.

E, ah… a revista escolar dos anos 80.
A metodologia era digna de auditoria militar:

  1. põe as crianças enfileiradas sob o sol;

  2. pente fino manual na cabeça de cada uma;

  3. detectou piolho → GAME OVER, vá pra casa.

Não tinha LGPD, não tinha privacidade, não tinha nada.
Era exposição pública nível console.log na praça.

E quando acharam o pequeno zoológico instalado em nossas cabeças… pronto: fomos despachados com um bilhete gigante recomendando desinfestação imediata, sob pena da humilhação suprema:
raspar a cabeça.

SIM.
A maldita máquina zero.
O boss secreto da aventura.
Aquele que nenhum pequeno oni queria enfrentar.

Voltamos pra casa em pânico.
Ali eu percebi que aqueles insetos eram mais hardcore do que qualquer vilão de desenho japonês: as lendeas presas ao cabelo como se fossem soldadas com superbonder. Coisa de final boss mesmo.

Minha mãe, guerreira do século XX, iniciou o ritual de preparação para a batalha:


🛒 na farmácia: pente fino (arma branca), remédio anti-lêndea (poção rara);
🛒 na mercearia: a arma proibida, a relíquia lendária: a latinha amarela de DDT em pó.



Hoje, século XXI, a ONU, a OMS, o FBI, a NASA e o Vaticano proibiriam tocar nisso.
Mas a infância dos anos 70 e 80 era feita de uma liga mítica, criada antes da queda de Atlântida.
Sobrevivíamos à base de:

  • telhados sem proteção,

  • não usar cinto de segurança em veículos,

  • dormir na traseira da Brasilia ou viajar dentro do cubiculo porta treco do valente volkswagen Fusca azul remendado.

  • andar de bicicleta sem capacete, cotoveleiras e joelheiras.

  • comer frutas duvidosas apanhadas diretamente do pé

  • alimentos não tinham prazo de validade, era tentativa e erro, deu caganeira não pode comer mais.

  • lagos cheios de lodo estilo “slime verde neon”,

  • casinhas de marimbondo,

  • venenos letais,

  • gambiarras elétricas que fariam engenheiros chorar.

  • pediatra era uma vez por ano e olha lá.

E ainda assim… crescíamos rindo.

A operação militar começou.
Minha mãe, com a precisão de um JCL limpo e sem warnings, penteava, passava remédio, aplicava pó, caçava lendea por lendea. Era quase uma raid de MMORPG. Ela era o RAID LEADER. Nós éramos os DPS desesperados. Os piolhos eram o boss com regeneração.

Mas guerreira que é guerreira não falha.
A batalha foi dura, intensa, quase cinematográfica — mas ela venceu.



E os três pequenos onis preservaram suas gloriosas madeixas.
A Máquina Zero não foi usada.
A honra da party foi mantida.

E até hoje, quando lembro daquela epopeia, penso:





Em 1983, a vida era difícil, sim… mas também era épica.

E cada coceira virou história. Cada lendea virou memória.
E cada guerra doméstica absurda virou capítulo do Midnight Lunch.

Até a próxima missão, El Jefe.
E lembre-se:
no mainframe da vida, até piolho vira log importante. 💾🪖✨



Ps: Essa foi a primeira vez contra o Boss Piolhão, esse carinha era o Chuck Norris dos insetos, em outros anos e outras situações. Ele voltou a atacar e dona Merdeces, sempre atenta pronta para o combate, protegendo os seus tesouros ao melhor estilo Dona Florinda, ah esses pequenos onis tem historias para contarem.