📜 Tio Queijo e o Reino da Fartura – Crônica de um Menino em visita na Quarta-Parada
Por El Jefe • Bellacosa Mainframe Midnight Edition
Existem memórias que não são apenas lembranças — são fotos Polaroid gravadas na alma, cheirando a naftalina, pão fresco, queijo curado e infância pobre, mas rica no que importa.
Eu cresci numa família onde o dinheiro fazia o mesmo que os JOBs do mainframe:
às vezes rodava; às vezes travava; às vezes sumia na fila de execução.
Era uma vida em ciclos:
30% fartura, 70% aperto — mas sempre com amor o suficiente para ninguém perceber que faltava açúcar no armário ou feijão no saco. A família fazia sua mágica silenciosa. Nos piores momentos, as mãos se estendiam. A união era o “SAVERESTORE” da pobreza.
Mas existiam momentos mágicos, que expandiam o mundo como se eu tivesse entrado num CICS pela primeira vez:
✨ As visitas ao bisavô José no Curaçá
✨ As tardes na casa da Tia-avó Guiomar
✨ O aconchego dos avós Pedro e Anna
✨ O abraço ancestral dos bisavós Francisco e Isabel
✨ As caminhadas com o Tio Rubens
✨ As visitas do carteiro-telegrafista Tio Benício
✨ As idas à casa da avó Alzira em Guaianazes
✨ As visitas na casa da Tia Miriam
✨ As longas viagens a Taubaté para visitar a Tia Deise
✨ As jornadas ao interior para visitar o primo Claudio em Sorocaba e primo Eduardo por onde ele estivesse.
✨ A viagem mais longa, que o clã Wilson Bellacosa indo até o Paraná, estado natal de minha mãezinha
✨ Viagens rumo ao noroeste de São Paulo : São José do Rio Preto, Urupês e Catanduva
Só que havia um lugar que… ah… esse lugar era cheat code da vida.
Era o “God Mode” da infância pobre.
Era o paraíso dos pequenos.
Era a casa do nosso lendário tio-bisavô Arthur.
O homem que, para nós, parecia mais rico que o Mappin.
🏆 O parente lendário: Arthur Dudu, o ex-Palmeiras
Dudu — como os antigos o chamavam — era figura.
Ex-jogador do Palmeiras, dono de imobiliária, presidente de time de futsal lá na Quarta-Parada…
Para nós, crianças, ele era algo entre:
Ele tinha esse sorriso paternal, aqueles olhos bondosos que brilhavam quando a casa enchia de gente.
E a mesa…
ah, a mesa…
ela era um capítulo à parte.
🧀 O “Tio Queijo” e o armário mágico da fartura
A gente o chamava — brincando, mas com amor — de Tio Queijo.
Porque foi lá, naquela casa grande no Belenzinho, que aprendi o que era fartura.
Ele abria a despensa como quem revela um segredo de família.
Um armário gigantesco, que para minhas mãos de menino parecia o cofre do Tio Patinhas:
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queijos pendurados
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salames curando
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frios de todos os tipos
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goiabadas, pães, manteiga
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engradados de refrigerante e cerveja
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e um perfume de fartura que a casa exalava como mil natais juntos
E nós, pequeninos, éramos reis por um dia.
Brincávamos pelos corredores, corríamos no quintal, comíamos como se nunca tivéssemos visto comida na vida — porque, às vezes, não tínhamos mesmo.
Era a prova viva de que riqueza não é dinheiro:
é partilha, mesa cheia, porta aberta.
👨👩👧👦 A constelação Bellacosa do lado leste da cidade
O núcleo familiar era uma constelação cheia de figuras únicas:
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O bisavô Luigi, sábio e calmo, lá na Vila Alpina
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Seu irmão, Arthur Dudu, o coração generoso do Belenzinho
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O primo Dimas, ator de teatro, brilho e cultura na família
As irmãs Aracy e Guaraci sempre atenciosas
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Tios, tias, agregados, compadres, vizinhos — todos parte de um grande dataset afetivo
Cada visita era um snapshot perfeito de alegria.
🎄 Conclusão: a infância pobre, mas rica – muito rica
Olhando agora, percebo como aquelas visitas foram indexadas no meu coração.
Em um tempo onde a vida se dividia entre o pouco e o quase nada,
aquele armário cheio de queijos parecia o paraíso.
O riso do tio, o cheiro da casa, a bagunça feliz dos primos…
tudo isso era a verdadeira riqueza que hoje entendo.
A infância foi humilde, sim.
Mas o amor — esse era abundante.
E nos dias em que íamos ao Belenzinho,
a pobreza tirava folga e deixava a gente brincar em paz.