🪖 El Jefe Midnight Lunch — Crônicas Bellacosa Mainframe
Capítulo: O Dia em que Enfrentamos o Final Boss dos Cabelos
Pirassununga, 1983 — “A Guerra dos Piolhos”
Voltamos a Pirassununga, 1983 — um ano que só pode ter sido escrito por um roteirista bêbado no turno da madrugada, com acesso liberado ao dataset SYS1.RNG. Foi um período cheio, imprevisível, aleatório… um dump completo de caos emocional, social e doméstico.
A casa estava virada de ponta-cabeça.
A infidelidade do meu pai com a jovem Almerinda estourando como bomba no meio da sala. Brigas, choros, portas batendo, tensão no ar… e a grana ficando curta. Minha mãe lutando como podia, numa cidade estranha, sem suporte familiar, tentando segurar as pontas, cuidar da casa, de três pequenos onis e ainda manter a sanidade.
E quando o caos instala-se… o inimigo perfeito encontra brechas.
Foi assim que, sem perceber, fomos invadidos.
Um inimigo discreto, sorrateiro, genuíno profissional do modo stealth.
E quando dei por mim — estávamos em guerra.
Sim, meu caro El Jefe: piolhos.
A invasão dos guerreiros gordinhos com seis garrinhas prontas pra agarrar fio por fio como se escalassem a Torre Negra de Sauron.
Minha mãe, em condições normais, teria percebido na primeira coçadinha suspeita. Ela era quase uma SIEM humana: detectava ameaça antes do log ser gerado. Mas naquela situação… piolho era o menor dos problemas. Até que fomos apanhados na temida revista escolar.
E, ah… a revista escolar dos anos 80.
A metodologia era digna de auditoria militar:
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põe as crianças enfileiradas sob o sol;
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pente fino manual na cabeça de cada uma;
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detectou piolho → GAME OVER, vá pra casa.
Não tinha LGPD, não tinha privacidade, não tinha nada.
Era exposição pública nível console.log na praça.
E quando acharam o pequeno zoológico instalado em nossas cabeças… pronto: fomos despachados com um bilhete gigante recomendando desinfestação imediata, sob pena da humilhação suprema:
raspar a cabeça.
SIM.
A maldita máquina zero.
O boss secreto da aventura.
Aquele que nenhum pequeno oni queria enfrentar.
Voltamos pra casa em pânico.
Ali eu percebi que aqueles insetos eram mais hardcore do que qualquer vilão de desenho japonês: as lendeas presas ao cabelo como se fossem soldadas com superbonder. Coisa de final boss mesmo.
Minha mãe, guerreira do século XX, iniciou o ritual de preparação para a batalha:
🛒 na farmácia: pente fino (arma branca), remédio anti-lêndea (poção rara);
🛒 na mercearia: a arma proibida, a relíquia lendária: a latinha amarela de DDT em pó.
Hoje, século XXI, a ONU, a OMS, o FBI, a NASA e o Vaticano proibiriam tocar nisso.
Mas a infância dos anos 70 e 80 era feita de uma liga mítica, criada antes da queda de Atlântida.
Sobrevivíamos à base de:
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telhados sem proteção,
não usar cinto de segurança em veículos,
dormir na traseira da Brasilia ou viajar dentro do cubiculo porta treco do valente volkswagen Fusca azul remendado.
andar de bicicleta sem capacete, cotoveleiras e joelheiras.
comer frutas duvidosas apanhadas diretamente do pé
alimentos não tinham prazo de validade, era tentativa e erro, deu caganeira não pode comer mais.
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lagos cheios de lodo estilo “slime verde neon”,
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casinhas de marimbondo,
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venenos letais,
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gambiarras elétricas que fariam engenheiros chorar.
pediatra era uma vez por ano e olha lá.
E ainda assim… crescíamos rindo.
A operação militar começou.
Minha mãe, com a precisão de um JCL limpo e sem warnings, penteava, passava remédio, aplicava pó, caçava lendea por lendea. Era quase uma raid de MMORPG. Ela era o RAID LEADER. Nós éramos os DPS desesperados. Os piolhos eram o boss com regeneração.
Mas guerreira que é guerreira não falha.
A batalha foi dura, intensa, quase cinematográfica — mas ela venceu.
E os três pequenos onis preservaram suas gloriosas madeixas.
A Máquina Zero não foi usada.
A honra da party foi mantida.
E até hoje, quando lembro daquela epopeia, penso:
Em 1983, a vida era difícil, sim… mas também era épica.
E cada coceira virou história. Cada lendea virou memória.
E cada guerra doméstica absurda virou capítulo do Midnight Lunch.
Até a próxima missão, El Jefe.
E lembre-se:
no mainframe da vida, até piolho vira log importante. 💾🪖✨
Ps: Essa foi a primeira vez contra o Boss Piolhão, esse carinha era o Chuck Norris dos insetos, em outros anos e outras situações. Ele voltou a atacar e dona Merdeces, sempre atenta pronta para o combate, protegendo os seus tesouros ao melhor estilo Dona Florinda, ah esses pequenos onis tem historias para contarem.
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