🌙🍱 El Jefe Midnight Lunch — Crônicas de um Bellacosa Mainframe 🍱🌙
📼 Episódio Especial: “Os Caçadores de Içá — Parte 2: A Primavera dos Onis”
por Vagner Bellacosa – direto do dataset das memórias de 1983
Se você leu a Parte 1, já sabe que minha introdução ao universo gastronômico do interior — as lendárias tanajuras — aconteceu em Novo Horizonte. Mas, quando nos mudamos pro CECAP de Taubaté, descobri que a cultura formigueira não tinha CEP. Ali também apreciavam a famosa içá, a tal formiga bunduda que deixava qualquer oni de olho brilhando e barriga roncando.
Estamos em outubro de 1983.
Passado o tempo de Cosme e Damião, comemorado em 27 de Setembro, quando a garotada fazia o looping completo pelas quadras do CECAP atrás de doces, muito antes da moda do Halloween chegar ao Brasil. Mas outubro tinha outro evento ainda mais aguardado — e este, sim, fazia o coração dos pequenos caçadores acelerar como CICS em pico de transação:
🌧️ A Primeira Grande Chuva da Primavera
Quando a chuva caía forte pela primeira vez, não era só sinal de estação nova.
Era o trigger oficial, o SVC 13, o chamado ancestral.
Era o início da Revoada das Rainhas, quando as içás aladas deixavam os ninhos para criar novas colônias. E, meu amigo… quando isso acontecia… era festa pura... momentos emocionantes, ferroadas e cicatrizes para contar historia.
Dezenas de pequenos onis se espalhavam pelo CECAP numa verdadeira operação de guerra, em busca dos enormes formigueiros de salvas.
Era Black Friday do mato.
Acreditem em mim, esses formigueiros eram enormes com dezenas de câmaras, atingindo uns 5 metros de profundidade e um raio de 10 metros de circunferência com inúmeros tuneis de saída, por onde voavam as saúvas, os sabitus e saiam enormes guerreiros com ferrões monstruosos.
🪖 A Batalha dos Formigueiros
Não pense que era fácil, não.
Os formigueiros tinham defesa anti-invasão digna de mainframe militar.
De dentro dos buracos saíam centenas de milhares de soldados, mordendo tudo o que se movia — inclusive nós. E olha, vou te dizer…
A mordida daquelas formigas era um corte profundo, ardido, que fazia qualquer criança repensar suas escolhas. Mas os onis eram resilientes, adaptáveis, como programadores de JCL lidando com abends misteriosos.
🔧 As Técnicas dos Caçadores
Cada oni tinha seu framework pessoal:
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Bacias de água para coletar as içás boiando;
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Dois baldes — um para as aladas, outro para as que perdiam as asas, brincadeira alguns artista ficavam com um pé em cada balde;
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Botas de borracha (só os ricos do CECAP tinham);
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E eu?
Eu era mais criativo.
Eu reciclava e vestia sacos plásticos de 5 kg de arroz nos pés.
Aqueles sacos eram grossos, fortes e anti-formiga, quase um RACF PERMIT CLASS(FORMIGA) ACCESS(NONE) para proteger meus tornozelos.
Com os pés devidamente blindados, eu me sentia um cavaleiro medieval enfrentando um exército inimigo — só que o prêmio, eram formigas, não castelos.
Quando as formigas venciam, levávamos mordidas extramente dolorosas, pois fechavam a pinça na carne, profundamente e rápido. A única maneira de parar era arrancando a cabeça e pedacinhos de carne junto, saindo bastante sangue, que deixava as formigas mais loucas ainda.
🏆 A Colheita
Depois de horas de caça, mordidas, correria e gritos, vinha a recompensa.
Às vezes 500g.
Com sorte, 1 kg de tanajura.
Era ouro entomológico.
Mas aí vinha a parte realmente difícil: nenhuma mãe no CECAP — e eu repito, NENHUMA — queria a casa cheirando a formiga frita.
Não dava pra usar o fogão.
Era proibido.
Era ABEND S0C7 na hora.
🔥 A Gambi-Tecnologia do Oni
Eu, como bom engenheiro de soluções improvisadas (treino que mais tarde me levaria ao mundo do mainframe), resolvia assim:
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Pegava uma lata de leite grande (Ninho, claro — sempre ele).
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Montava uma fogueira no campinho atrás dos prédios.
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Fazia ali mesmo a fritura ritualística.
Problema resolvido.
Casa sem cheiro.
Barriga feliz.
Oni orgulhoso.
🍛 O Caviar Tupiniquim
Um professor de ciências dizia:
“A tanajura é o caviar brasileiro.”
E não é que era mesmo?
Crocante, gordurosa na medida, um sabor que até hoje volta na memória com aquele cheiro de terra molhada da primavera de 83.
A infância salgada, doce e crocante, tudo ao mesmo tempo.
PS: Curioso hoje ver a polémica gerada por alguns grupos do consumo de proteína oriunda de insetos, realmente esses meninos e meninas, que nasceram em apartamento sabem pouco sobre as aventuras do interior de antigamente.