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terça-feira, 6 de novembro de 2018

O brilho que guiava os pequenos Onis – e que hoje me faz falta

 


📜 El Jefe Midnight Lunch – Bellacosa Mainframe Chronicles
O brilho que guiava os pequenos Onis – e que hoje me faz falta

Essa memória, ah… essa aqui não tem CEP, não tem JCL fixo, não tem dataset endereçado em um único volume.
Ela é um PDS espalhado pela vida, com membros gravados em Urupês, Ibitinga, São José do Rio Preto, Catanduva, São Carlos, Sorocaba, Pirassununga e Taubaté.

Se procurar bem, acho até que tem alguns registros perdidos no track daquela estrada de terra onde eu caí de bicicleta pela primeira vez.

Mas em todos esses lugares…
em todas essas noites…
existia um personagem que fazia o coração do pequeno Oni acelerar:

o vagalume.



✨ Os pirilampos – os LEDs da natureza, antes da natureza virar shopping center

Anos 1970 e 1980.
Ruas de terra.
Pouquíssima luz pública.
Mato crescendo livre, como se fosse proprietário do terreno (e era mesmo).
O mundo ainda não tinha sido atacado pelo bug do excesso de iluminação, do excesso de concreto, do excesso de tudo.

E ali, no meio daquela escuridão amiga, uma coreografia mágica acontecia:

pontos de luz flutuantes, piscando devagar…
como pequenos mainframes bioluminescentes rodando seus próprios ciclos de IPL noturnos.

Eu amava vagalumes.
De verdade.
De um jeito profundo, puro, quase reverente.

Era como caminhar numa trilha guiada por estrelas que desceram pra brincar com a gente.


🌿 O patch da Dona Mercadê – olhos brilhando e potes com furinhos

Minha mãe, Dona Mercadê, contava histórias da infância dela no norte do Paraná, onde os vagalumes eram tantos que pareciam iluminar o quintal inteiro.
Ela dizia que pegava alguns em potes de vidro com tampas furadinhas.
Só para curtir o brilho por alguns minutos.

E os pequenos Onis da Dona Mercadê, claro… replicaram o script.

A gente fazia o mesmo:
capturava alguns, via aquela luz mágica correndo no potinho…
e depois soltava.

Porque a verdadeira beleza era ver o bichinho livre.
Livre e brilhando.




🕷️🐞 Uma fauna inteira que dividia a paisagem

Naquela época, tinha inseto pra dar e vender.
A biosfera era quase um sysplex completo:

  • besouros gigantes

  • besouros com chifre que pareciam saídos de um RPG

  • joaninhas simpáticas

  • lacraias medonhas

  • aranhas que te julgavam de longe

  • centopeias com cara de “tenta ver pra ver”

Alguns perigosos, outros camaradas.
Alguns pousavam suavemente na mão.
Outros você olhava de longe e dizia:
“passo”.

Mas todos tinham espaço no mundo.
Porque havia muito mato, muito verde, muito silêncio.
E principalmente: pouca luz artificial pra bagunçar o baile da natureza.




💔 Hoje… o sumiço

Hoje… se eu disser que vejo vagalume no quintal, estou mentindo.
Faz anos que não vejo um sequer.
As ruas claras demais mataram a magia.
O verde virou cimento.
Os bichinhos perderam lar, perderam ritmo, perderam espaço.

E eu?
Eu perdi parte daquela infância.
Aquela sensação de trilha iluminada por pequenas almas luminosas.
Aquele silêncio pontuado por piscadas mágicas.


📌 No fundo, o que eu queria mesmo…

…era abrir a janela de casa agora,
ver um único vagalume,
um só, piscando devagar,
e sentir por um instante o mesmo encanto que senti em 1978, 1981, 1984…

Mas, enquanto ele não aparece,
guardo o brilho na memória —
porque algumas luzes não se apagam nunca.

Bellacosa out. ✨🟢🌙


quarta-feira, 6 de julho de 2011

📜 Memórias Sem Índice, Sem Catálogo, Sem Timeline — Volume “O Limbo 70–80”

 

📜 Memórias Sem Índice, Sem Catálogo, Sem Timeline — Volume “O Limbo 70–80”
Ao estilo Bellacosa Mainframe, com fragmentos soltos como cartões perfurados lançados ao vento.


Há um período nas minhas memórias que não respeita calendário, lógica, cronologia ou bom senso.
É o limbo 1970–1980 — um buffer de lembranças onde tudo se mistura:

  • São Paulo,

  • interior,

  • avós,

  • primos,

  • mudanças,

  • calor,

  • poeira,

  • brincadeiras,

  • e o eterno improviso da família Bellacosa.

Esse capítulo é sobre Ibitinga — a terra dos bordados, da brasilite fervendo e das tanajuras crocantes.



🌞 Ibitinga — O Caldeirão de Asfalto e Telha Brasilit

Meu pai, na eterna missão de “agora vai”, resolveu negociar os famosos bordados de Ibitinga.
E isso, claro, gerou mais uma migração.

Da casa lembro de três coisas:

  • um calor monstruoso, daqueles que fazem miragem na sala;

  • o barulho metálico da telha brasilite dilatando no sol;

  • e a liberdade absoluta: brincar na rua até tarde, correr, subir em coisas, cair de outras.

Foi lá também que provei um prato típico, obra da fauna local e da curiosidade infantil:
tanajuras assadas.

Crocantes. Amanteigadas.
Uma explosão de proteínas.
O primeiro snack gourmet de sobrevivência.


🪔 A Noite do Lampião e o Fusca de Farol Aceso

Mas a grande lembrança, a história digna de um Bellacosa Midnight Files, foi a visita a um sítio nos confins do município.

Sem energia elétrica.
Lampião de querosene.
Galinheiros.
Cavalo arisco.
E o som eterno do mato — cri cri cri.

Meu pai fez amizade com os sitiantes, e fomos passar o dia lá.
À noite, moeram cana para fazer guarapa: o caldo de cana raiz, aquele que pinga direto do engenhoca de madeira.

Tudo ia bem… até meu pai cometer um clássico:

deixar o farol do Fusca aceso.

Sim.

Fusca 1960 e alguma coisa, bravíssimo, mas com uma bateria do tempo de D. Pedro I.
Depois de horas iluminando o nada do mato:

puff — bateria morta.
Carro não pega.
Nem com reza forte.



🐎 A Jornada Noturna de Charrete

E aí começou o episódio épico.

— “Vamos pegar uma bateria emprestada no outro sítio.”

Montaram a charrete.
Lá fomos nós, com um cavalo que claramente não assinou contrato para aquele turno extra.

No caminho, tudo escuro.
Mato fechando.
Cheiro de bicho.
E nós, balançando na charrete como se fôssemos figurantes de filme de cangaço.

Resultado?

Ninguém tinha bateria.
Voltamos frustrados.
Dormimos no sítio.

Dormir improvisado no interior é assim:
um colchão antigo, cheiro de madeira, barulho de grilos e a lanterna tremulando no lampião.


🍊 O Exterminador do Pomar

No dia seguinte, eu perambulava pelo sítio quando o amigo do meu pai fez um gesto de silêncio:

— “Vem cá… sem barulho…”

Ele aponta para um pé de laranja.
Vai chegando devagar, devagarinho…

De repente, num movimento digno do Circo Garcia:

Pega uma cobra pelo rabo.
Rodopia.
PA-BUM!

O reptil não teve chance alguma.
Foi o shutdown definitivo.

Eu, criança, assisti tudo com:

  • 40% choque

  • 30% fascínio

  • 20% medo

  • 10% pensando: “ainda vou escrever isso no futuro.”


🍆 As Berinjelas…

Mas essas ficam para o próximo bloco de memória, porque história boa tem que vir em clusters, não em full load.