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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

⚙️ Como Quase viro Torneiro Mecânico (e o SENAI Me Salvou de Mim Mesmo)

 


⚙️ Como Quase viro Torneiro Mecânico (e o SENAI Me Salvou de Mim Mesmo)

Crônica ao estilo Bellacosa Mainframe para o blog El Jefe Midnight Lunch

Existem destinos que brigam com a gente.
Outros que puxam a gente pelo colarinho.
E alguns que dão um grito, uma sirene e uma botinada numa porta de aço — só para deixar bem claro qual caminho você não deve seguir.

A minha história com o “quase” começa cedo. A família estava cheia deles: tios torneiros, avôs torneiros, primos torneiros. A serralheria e o torno eram praticamente segunda religião. E para minha mãe, torneiro mecânico era profissão de futuro — sólida, respeitável, manual, bonita de se ver no currículo.

Eu, obediente e sem internet para consultar “10 carreiras que dão match com seu signo”, fui entrando na dança.

  • Fiz inscrição no vestibulinho.

  • Passei.

  • Fui classificado.

  • E o mais raro de tudo: consegui carta de recomendação e adoção para o curso, o famoso “patrocínio” — a moeda de ouro da época.

Estava tudo certo.
Tudo escrito.
Tudo pronto.

Mas o destino, esse programador meio bêbado que vive rodando scripts improváveis, tinha outros planos.




🔔 A Sirene do SENAI — o som que separou minha vida em duas

Era dia de fazer a matrícula.
Eu e minha mãe fomos ao SENAI…
…no horário de almoço.

E aí aconteceu.

Primeiro, uma sirene.
Daquelas que arrepiam alma, bons costumes e qualquer vocação que você achava que tinha.

Depois, BUMMMM.

Uma estrondosa botinada acertou as portas de aço que separavam a área de aulas da área de máquinas.
Aquelas portas tremeram como se um Kaiju tivesse batido nelas.

E então, a visão.



👷‍♂️ A procissão azul — e a epifania

Saiu um rebanho de alunos, como uma leva de trabalhadores de mina abandonando o turno:

  • Macacões azuis

  • Capacetes brancos

  • Botinas de biqueira de aço

  • Graxa até no DNA

  • Barulho de chave inglesa batendo no bolso

  • Aquele cheiro de ferro, óleo queimado e marmita de alumínio

Olhei para aquilo.
Para aquela massa operária se esparramando rumo ao almoço.
Dei um pause mental.
Fiz uma simulação mental estilo “What If…?” da Marvel:

E se EU estivesse ali no meio deles?

Eu.
O menino que gostava de computador, de tecla, de monitor verde, de café, de cheiro de laboratório fotográfico do pai, de livros e revistas tecnológicas.

Eu ali, no meio daquela avalanche azul, com uma lima numa mão e um paquímetro na outra.

Meu cérebro deu tela azul.
Meu coração deu dump.
A lógica marcou ABEND S0C7.




🛑 Escolha crítica — commit ou rollback

Respirei fundo.
Olhei para a minha mãe.

E falei:

— Mãe… não quero isso. Vamos embora.

Se silêncio matasse, eu não estaria escrevendo este post.
Ela ficou meia pistola, meia frustrada, inteira sem entender.

Mas aceitou.

E fomos embora.

A porta de aço atrás de mim se fechou.
E com ela, a versão alternativa da minha vida.




💾 A virada — do torno ao terminal

Dias depois, estava matriculado em Processamento de Dados.

E ali, naquele desvio, naquele branch alternativo do destino, minha vida começou a compilar direito:

  • Teclado no lugar da lima

  • JCL no lugar de fresadora

  • Tabela ASCII no lugar de catálogo de ferramentas

  • Frio de CPD no lugar de calor de oficina

  • Café de madrugada no lugar de sirene industrial

Aquele menino que congelou vendo a procissão azul virou:

  • Analista

  • Professor

  • Bellacosa Mainframe

  • Evangelista do z/OS

  • Cronista de memórias boas

  • Viajante de trilhos e bytecodes

E sobretudo, alguém que ouviu a própria voz no momento certo — antes que o torno engolisse o sonho.




📌 Conclusão — A porta de aço que mudou tudo

Algumas pessoas são moldadas pelo torno.
Outras são moldadas por aquele exato momento em que percebem que não pertencem ao torno.

Eu fui moldado pela sirene.
Pela botinada.
Pelo susto.
Pela intuição.

Aquele dia me ensinou que:

  • Destino não é linha reta, é branching

  • Vocação não é herança

  • Coragem não é continuar — é dizer “não” quando todo mundo espera um “sim”

  • E portas de aço às vezes servem para te acordar

Se eu tivesse entrado na oficina naquele dia… talvez tivesse virado torneiro.
Talvez fosse feliz.
Talvez não.

Mas eu sei que o menino que saiu correndo do SENAI com a mãe irritada voltou para casa carregando um future-self no bolso:

Um futuro Bellacosa, digitando histórias na madrugada, vivendo entre bytes e trilhos, sanando incidentes e conjurando soluções às 3h da manhã como um bom Dai Maou do Mainframe.

E tudo graças àquela sirene.

Àquela porta.

E àquele não.

segunda-feira, 2 de março de 2009

✏️ Capítulo 2 — Giz, Mimiógrafo e Destinos Impressos

 


📚 SÉRIE “Sempre um Isekai”

Por Bellacosa Mainframe
(Memórias de um garoto que aprendeu a trocar de mundo sem sair da sala de aula)

✏️ Capítulo 2 — Giz, Mimiógrafo e Destinos Impressos

Vim de um tempo em que mal aluno com fraco desempenho era reprovado mesmo — sem dó, piedade e sem discurso motivacional.

Mas eu era bom aluno, sempre me destaquei em todas as matérias, ops, quase todas, era abaixo da média em Educação Física, odiava os exercícios, ter que jogar bola, realmente era algo que não me dava prazer. O curioso é que fora a escola jogava vôlei e futebol normal, andava quilômetros em bicicleta, capinava quintais para ganhar uns trocos. O problema era a questão da aula mesmo... quero dizer não era preguiçoso, só não gostava mesmo, era um nerd, que vivia na biblioteca municipal fazendo pesquisas, numa era sem IA e Google para recuperar pontos em EF.

Passei pelos quatro anos do primário com sucesso, mantive boas notas no ginásio e alcancei a glória sendo um aluno brilhante e invejado e vi o colegial passar num piscar de olhos, nesta época já trabalhava então não foi o melhor alunos, mas estive no Top.

Foi ali que me formei técnico em Processamento de Dados, colegial-tecnico onde aprendiamos o suficiente para prestar o Vestibular, mas garantia uma profissão com melhor remuneração, que abriria as portas do mundo empresarial e me levaria, anos depois, aos corredores sagrados do mainframe.


Naquele tempo, informática ainda tinha cheiro de papel perfurado e fita magnética.
Falar em computador era falar em futuro — e eu queria estar lá, digitando linhas de destino no teclado verde-fósforo, não era um IBM Mainframe, mas sim um microcomputador de 8 bits da marca CP 500.

Participei do centro acadêmico no ginásio e no colegial — outros nomes, mesma essência: alunos que acreditavam poder melhorar o mundo começando pela escola.




Produzíamos jornalzinhos em mimiógrafo, ajudávamos em festas e eventos, organizávamos campeonatos e saraus.





Eram tempos simples, mas cheios de propósito e camaradagem.


Foram anos gratificantes, cheios de aventura, cheiro de álcool e papel úmido, onde cada professor era um farol e cada colega, um companheiro de travessia.