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segunda-feira, 11 de março de 2019

🧾 Capítulo 2 — Minha Vida como Office-Boy

 


🧾 Capítulo 2 — Minha Vida como Office-Boy

Ser office-boy nos anos 80 não era pra qualquer um.
Precisava ter desenvoltura, perspicácia e um toque de loucura — além da eterna urgência de pagar os boletos.

Filho de uma mulher divorciada, com dois irmãos pequenos, eu carregava mais que pastas: carregava responsabilidade.
Cada vale-transporte, cada cesta básica, cada ajuda contava.

Com a pasta abarrotada de documentos e uma lista de lugares a visitar, eu cruzava a cidade.
Enfrentava filas intermináveis em bancos, cartórios, correios.
E de volta ao escritório, virava faz-tudo: comprava lanches, resolvia pendências, datilografava contratos em máquinas de escrever mecânicas, e quando o destino permitia, “pilotava” um terminal 3270 — a joia tecnológica do escritório.

O som das teclas ecoava como trilha sonora da minha juventude.
Tec-tec da Olivetti, o clique do teclado IBM, o burburinho dos colegas.
Era a música do trabalho.

Entre uma entrega e outra, levava comigo sempre um livro.
Lia no ônibus, estudava no trem, rabiscava anotações no papel amassado do caderno.
E ao final do expediente, corria feito louco pra chegar a tempo no colégio.


💼 Foram






anos duros — mas preciosos.
Ali aprendi o valor do esforço, da paciência e da dignidade.
E talvez, sem perceber, estava programando o primeiro sistema da minha vida:
o da persistência.




📘 Continua…
Próximo capítulo:
“Entre o 3270 e o XT – o despertar do programador”
💡 Onde o office-boy começa a decifrar o código da própria vida.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

💼 Da Zona Leste à Avenida Paulista

 


💼 Da Zona Leste à Avenida Paulista

Acordava cedo, o sol mal nascido sobre os telhados de Guaianazes, extremo leste de São Paulo.
Marmita na sacola, mochila com cadernos e livros, gravata meio torta, e um coração cheio de sonhos. Sempre atrasado e sempre correndo. Num contra-relogio que pequenos atrasados eram questão de vida e de morte.

🚆 O destino? Avenida Paulista.

Pegava os trens cacarecos da CBTU, que somente um milagre divino, fazia funcionar, pessoas penduradas, portas abertas, alguns maconheiros e evangélicos disputavam centímetro a centímetros o espaço interior dos vagões. Ao chagar no Brás, outra epopeia, agora os ônibus hiper lotados do Largo da Concórdia, atravessava o centro velho e subia a cidade como quem sobe uma montanha.
No caminho, via o Brasil real — gente simples, batalhadora, movendo a engrenagem da metrópole.

Eu era office-boy, entre documentos, carimbos e filas de banco.
Mas o que me fascinava mesmo eram os terminais 3270.
Aquelas telas verdes piscando códigos… pareciam janelas para outro mundo.

Um dia, uma caixa misteriosa chegou ao escritório.
Dentro dela, um microcomputador XT, monitor VGA novinho.
Zero quilômetro. Zero medo. Só ninguém sabia montar. 😅

Tomei coragem e fui até a sala do gerente geral, o Dr. Vicente Kazuhiro Okazaki.
Pedi permissão para instalar. Ele me olhou, surpreso — um garoto cheio de espinhas, solicitando pra mexer em um computador.

Depois de um silêncio que pareceu uma eternidade, ele sorriu, pegou o telefone e ligou para a secretaria Elizabeth:

“Deixa o rapaz montar esta maquina. Vamos ver no que dá.”

E ali, entre uma entrega e outra, entre um 3270 e uma marmita aquecida no vapor, na sala de reunião improvisada como refeitorio: eu comecei a minha grande aventura: pilotar o pc,  digitar, conectar, aprender e entrei num portal do outro mundo.



💻 Aquele PC virou meu laboratório.
A Avenida Paulista, meu primeiro datacenter.
E o office-boy da Zona Leste, o aprendiz que descobria a magia dos sistemas.

Hoje, quando vejo uma API REST conversando com um mainframe, lembro daquele XT.
Daquela tela VGA monocromático verde, o barulhinho do leitor de disquetes 5 1/4 carregando o sistema MS-DOS, a maquina inicializando naquele prompt, piscando o futuro.
E do dia em que liguei, ao mesmo tempo, um computador e o meu destino.

Naquele momento nunca imaginei, que iria chegar tão longe, tinha sonhos, tinha esperanças, mas a realidade era muido dura,  os desafios e perigos enormes. Obrigado Dr. Vicente por ter acredito em mim.


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