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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Grande Expedição à Vila Alpina

 


A Grande Expedição à Vila Alpina

(por Bellacosa, Oni explorador e testemunha ocular do bombom de licor)

Existem viagens que, mesmo acontecendo a poucos quilômetros de casa, tinham a magnitude de uma epopeia.
E para nós, três pequenos Onis dos anos 1970, ir à Vila Alpina era praticamente atravessar um portal dimensional.

Ali morava um pedaço inteiro da família — o velho bisavô Luigi, sempre de cara fechada; os tio-avós Antonio e Maria, sempre de coração aberto; as primas Denise e Patrícia; a vizinha Renata, que parecia ter sido enviada pelos deuses do entretenimento infantil; e uma fauna de cachorro que era digna de mitologia própria.




🧓🇮🇹 O bisavô Luigi — O Titã da Mooca

Luigi era bruto como o aço, silencioso como monge budista e bravo como fiscal de CICS pegando programa sem HANDLE CONDITION.

Falava um italiano carregado com sotaque da Mooca — algo entre ópera, bronca e poesia.
Eu, pequenino, ficava ali escutando, tentando traduzir:

Minghia, sto ragazzo…

Era italiano? Era mooca? Era feitiçaria?
Nunca saberemos.

Meu pai, que não se dobrava diante de ninguém, virava manteiga derretida perto dele.
E eu achava aquilo um espetáculo antropológico fascinante.




🐕 A cachorra do leite empedrado e o coração mole do velho Luigi

Numa dessas visitas, lembro claramente de uma cachorra velha, sofrida, com leite empedrado.
Luigi cuidava dela com um cuidado quase religioso.

E aí vinha sempre a lenda:

“Luigi vivia recolhendo cachorro abandonado, doente, cego, manca, sem dente… tudo ia parar ali.”

E, quando a vizinhança reclamava do excesso de doguinhos — coisa que acontecia com frequência — ele dava um suspiro, praguejava em ítalo-mooca e… levava o pelotão inteiro para a chácara em Atibaia, onde cada cão ganhava um destino digno de novela rural.

Luigi era bravo.
Mas o coração?
Ah… esse era pixelado em 16 cores de pura bondade.




🏡 A Casa dos Tio-Avós — O Paraíso Alternativo dos Onis

Se Luigi era o chefe final,
então Tio-Avô Antonio e Tia-Avó Maria eram o “checkpoint” onde a vida ficava mais fácil.

Toninho trabalhava no Juventus e, para nós, ganhar uma bola usada era como receber o Santo Graal versão futebolística.
Bola nova?
Impossível.
Bola gasta de estádio?
Status de nobreza infantil.

Mas o verdadeiro paraíso era o quintal.

E QUE quintal!

  • plantas por todo lado

  • cheiro de terra molhada

  • sol entrando entre as folhas

  • e o tesouro supremo:
    o canteiro de morangos

Nós ajudávamos a regar, o que significava:

  • 20% água nos morangos

  • 80% água nos Onis

  • 100% bagunça

E Tia-Avó Maria ria.
Sempre ria.
Como se tudo aquilo fosse parte essencial da infância.

E era.


🍰 A Cristaleira do Poder

Mas Jefe…
Entre todas as maravilhas, havia uma joia sagrada:

a cristaleira com bombons de licor.

Aquilo era item proibido.
Item de adulto.
Item de visita.

O que, claro, significava que os Onis queriam DE QUALQUER JEITO.

Quando um dos adultos distraía, o outro virava a esquina, e o terceiro falava alto na sala…
PÁ!
Mãozinha furtiva, bombom sequestrado, energia máxima liberada.

Sim — crianças comendo chocolate com licor.
Era outro tempo, Jefe.
Ninguém morreu.
E a infância ganhou um patch de +10 felicidade.


👧🤣 A Renata — A vizinha que valia uma temporada inteira de TV

Renata era o tipo de criança que transformava o dia em episódio especial.

Brincava, gritava, corria, contava histórias, inventava jogos —
ela era tipo o Z/OS Connect da diversão: integrava tudo e todos.

Encontrá-la era certeiro:
horas de risadas e zero chance de tédio.


🎞️ A Grande Lição da Vila Alpina



Ir à Vila Alpina não era só visitar parentes.

Era:

  • ouvir histórias da Itália sem legenda

  • ganhar bolas semi-aposentadas com status de Copa do Mundo

  • brincar até escurecer

  • comer morangos direto do canteiro

  • assaltar cristaleiras com bombons proibidos

  • observar a complexa diplomacia do velho Luigi com seus doguinhos

  • sentir um pedaço da família que o tempo não apaga

E, principalmente, era eu — pequenino —
tentando entender aquela gente toda,
suas manias, seus silêncios, suas risadas,
e tentando descobrir onde eu, um Oni mirim,
encaixava naquele mosaico afetivo.


🎂 Vivi Days



No fim das contas, acho que me encaixava em tudo. A Vivi ficava maravilhada, afinal, tio-avõ Toninho e sua esposa Maria eram padrinhos de batismo dela, logo ela era o centro das atenções, a pequena bonequinha loira. Para minha irmã era festa em dobro, alegria infinita em rever os padrinhos. Lembrando hoje é dia dela, 8 de dezembro, uma data sempre festiva para o Clã Vivi. Parabéns maninha.

🚌 Meu terror andar de onibus



A jornada não era das mais fáceis, sair da Vila Rio Branco de condução até a Vila Alpina precisava de muito conhecimento estratégico e logístico. A cidade de São Paulo tem um problema incrível no Transporte Publico, em que o sistema não foi pensado em transportar pessoas, mas atender empresários e montadoras de ônibus. Abandonaram os trilhos e levou quase 50 anos para o Metrô realmente furar toda a cidade, somente quando não era mais possível abrir avenidas. Enfim, às vezes o antigo Fusca Azul era acionado e nos levava, porém, o grande problema eram as paradas emergências, para substituir alguma peça defeituosa e ter dinheiro para o conserto. Ai a solução e o jeito era apelar para o bom e velho busão.

Um outro grande detalhe, isso uma grande ironia: eu quando viajo em veículos, fico com tontura e enjoo. Então grandes viagens no município poluído e caótico de São Paulo do final do século XX, acabavam comigo, mas o prazer de rever os parentes era maior, mas esse que vos escreve tinha grandes problemas e muitas vezes, para terror do pessoal da limpeza, deixava o ônibus um pouco sujo. :(