domingo, 17 de agosto de 2014

Ir Para a Cidade: A Epopeia Mágica do Mappin

 


El Jefe – Ir Para a Cidade: A Epopeia Mágica do Mappin

Por Vagner “Formiguinha” Bellacosa – Versão Bellacosa Mainframe

Existem viagens que não precisam de avião, navio ou estrada longa.
Basta um domingo, uma avó guerreira e uma criança de cinco anos com os olhos arregalados para que um simples percurso se transforme em portal.

Na Vila Rio Branco, Zona Leste, ir ao centro de São Paulo não era deslocamento.
Era ritual quase duas horas de ônibus para ir, mais duas para voltar.
Atravessando Vila Esperança, Penha, Tatuapé, Belenzinho, Brás na sua histórica Avenida Celso Garcia, ora parando no parque Dom Pedro, ora indo mais longe até a Praça Ramos de Azevedo...



Era dito com respeito, língua solene, sílaba cheia:
“Vamos pra… CI-DA-DE.”

Sair do bairro com casinhas terreas, um ou outro sobrado para ir num lugar cheio de arranha-ceus, espigões, hoje espalhados pelos 4 cantos da cidade, mas naquela época, visíveis somente nas regiões centrais. A avenida Paulista ainda era coroada pelos imensos casarões decadentes, que nos anos posteriores foram sendo demolidos e transformados em magníficos edifícios do coração financeiro da América Latina.

Um decreto real, quase uma SVC 13 chamando o próximo job da memória.

E lá ia o pequeno Vagner — inquieto, curioso, formiguinha gulosa — escoltado pela avó Anna: tecelã, doceira, general das panelas e sacerdotisa da fé.
Dessa vez, rumo ao templo supremo do consumo elegante:
O MAPPIN.




O Mappin não era loja. Era outro mundo.

Antes dos shoppings, antes das multimarcas, antes do consumo pasteurizado, existia um gigante de salões amplos e decoração de novela.
Entrar ali era como mudar de realidade —
uma espécie de isekai paulistano, só que sem magia digital:
a magia era real.

As portas se abriam e o cheiro vinha na hora: perfume, tecido, madeira encerada e o ar-condicionado que parecia soprar riqueza.

E então ele aparecia:
o ascensorista.

Um senhor de terno impecável, geralmente esverdeado, luvas brancas, sorriso cordial — tão elegante quanto um maître parisiense, mas muito mais carismático.
Segurava a porta de ferro, olhava para cima e anunciava, como narrador de rádio antiga:

— Terceiro andar… cama, mesa e banho.
Quarto andar… mobiliário.
Quinto andar… brinquedos.

E cada anúncio era uma promessa.
Cada andar, um universo cheio de possibilidades. E seus fabulosos e prestativos funcionários com elegante roupa verde, mantendo a identidade visual do grande magazine. 




A escada rolante: a montanha-russa da infância

Hoje banal.
Naquele tempo?
Tecnologia futurista.
Uma linha de montagem mágica que engolia crianças e devolvia adultos sorrindo.

O pequeno Vagner subia como quem vai para o espaço.
Sentia o coração bater.
As mãos suavam.
E a avó sorria — ela já tinha visto isso mil vezes, mas gostava de ver o menino se maravilhar.




A lanchonete e a invenção da “praça de alimentação”

Antes dos shoppings transformarem comida em sistema, o Mappin já sabia fazer a coisa acontecer.
Mesinhas impecáveis, talheres brilhando, garçons com educação britânica.
Sorvete de casquinha cremoso, perfeito.
Um caldo de cana ou um doce que parecia ter vindo de um reino distante.

Para uma criança da Vila Rio Branco, aquilo não era lanche.
Era glamour com gosto de infância.




O relógio do Mappin

Atravessando a rua, reinando em frente ao Teatro Municipal, estava ele:
o relógio que marcava a hora de São Paulo.

Imponente, elegante, com aquele ar de “eu sei que você olha para mim todos os dias”.
Ponto de encontro de casais, famílias, profissionais, fotógrafos — e, claro, da avó Anna e seu neto explorador.





O jingle que virou tatuagem da memória

Você lembra.
Todo mundo lembra.
É impossível esquecer.

🎶 “Mappin, venha correndo, Mappin, é a liquidação…” 🎶

Naquela época, jingle era marketing.
Hoje, virou patrimônio emocional.




Presentes com pedigree

Não se embrulhava um simples presente.
Se embrulhava status.
O papel verde, o logotipo inconfundível — abrir aquilo era receber um pedaço de São Paulo.

E para o garoto que vivia entre armazéns simples da periferia, aquilo era quase um passe para outro mundo:
um mundo onde tudo brilhava, cheirava bem, funcionava, sorria.




O que fica quando tudo passa

O Mappin faliu.
Fechou.
Virou fantasma arquitetônico, história contada entre cafés e saudades.

Mas…
Dentro do adulto Vagner, ele continua vivo.
Vive no garoto curiosíssimo que andou de elevador dos anos 1970,
se encantou com escadas rolantes,
comeu sorvete de casquinha,
e acreditou, com toda a força da inocência,
que aquele lugar era uma porta para o infinito.

E era.

Porque quem vive intensamente uma memória nunca perde o lugar — carrega o lugar dentro.

O Mappin quebrou.
Mas na sua lembrança?
Ele ainda está de portas abertas.

Com elevadorista sorrindo,
com brinquedos no quinto andar,
com o papel verde esperando embrulhar um sonho,
com Anna segurando sua mão,
com você olhando para cima como quem descobre o mundo.



Um dia o Mappin se foi, ganância de empresários, erros estratégicos, crise financeira e um legado da cultura paulistana do século XX, se foi, ficando somente memorias e lembranças. Que vão se apagando da mente humana.




sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Awa Odori — O Carnaval Desengonçado Mais Encantador do Japão

 


Awa Odori — O Carnaval Desengonçado Mais Encantador do Japão

(por Oni Bellacosa, em plena madrugada, com cheiro de miojo no ar)

Se tem uma coisa que eu aprendi mergulhando nos festivais japoneses é que o Japão sabe fazer festa como sabe fazer mainframe: com disciplina, tradição, rituais quase sagrados e um caos maravilhosamente organizado.
E dentro desse universo existe um festival tão icônico, tão vivo e tão… estranhamente engraçado, que até hoje me fascina:
o Awa Odori.

Você já ouviu falar, El Jefe?
Porque se não ouviu, sente-se aqui ao lado do Oni, que hoje a escrita vem inspirada.




🎎 O que é o Awa Odori?

É simples e genial: um festival de dança que acontece desde o século XVI na província de Tokushima, onde milhares de pessoas saem pelas ruas dançando um estilo que mistura tradição, exagero, alegria e passos que parecem saídos de um glitch de animação.

Os japoneses definem assim:

“Os tolos dançam, os tolos assistem. Melhor dançar.”

E esse já é o espírito Bellacosa do festival.




🏮 Origem: nasceu da cachaça — literalmente

Aqui entra o easter-egg histórico.

No século XVI, o daimyō Hachisuka Iemasa inaugurou seu castelo em Tokushima. Para comemorar, liberou sake à vontade para o povo.
E o povo, como todo bom povo que toma aquela liberdade, ficou completamente calibrado.

Resultado: eles começaram a dançar de forma totalmente desconjuntada, tropeçando, rindo, inventando passos que desobedeciam a gravidade e qualquer lógica biomecânica.

Nascia ali o Awa Odori, batizado com o nome antigo da região: Awa.

Ou seja:
👉 o festival mais importante de Tokushima nasceu de um porre coletivo comemorativo.
Coisa linda.


🕺 Como é a dança?

Imagine o seguinte:

  • cotovelos altos

  • joelhos dobrados

  • movimentos diagonais

  • passos repetitivos como loop JCL

  • rostos sorridentes quase caricatos

  • mulheres com chapéu amigasa parecendo personagens de anime histórico

  • homens batendo palmas e gritando “Yatto-sa! Yatto-sa!”

Tudo acompanhado de shamisen, taiko, flautas e sinos.

É um espetáculo.
É caoticamente coordenado.
É mainframe executando batch e online ao mesmo tempo.


🌏 Quando e onde ver

O Awa Odori Festival acontece de 12 a 15 de agosto, durante o Obon (feriado dos mortos), quando as almas retornam para casa.
Tokushima vira um servidor rodando em 200% da CPU — e ninguém reclama.

Mas existem versões menores em:

  • Koenji (Tóquio) — o mais famoso depois de Tokushima

  • Minami-Koshigaya

  • Kagurazaka

  • Nakameguro

Se quiser ver a versão “original”, vá para Tokushima.
Se quiser ver a versão “hipster-tokyozada”, vá para Koenji.


🥷 Curiosidades dignas de um dump SYSLOG

1. O festival quase foi proibido

Durante o período Edo, o shogunato achava que o Awa Odori tinha… “excesso de alegria”.
Sim, essa foi a acusação.
O Japão é tão organizado que até a alegria precisava ser autorizada.


2. Já rolou censura moral

No início do século XX, algumas danças eram consideradas “sensuais demais”, especialmente as dos homens bêbados improvisando movimentos suspeitos.
A polícia chegou a intervir para “moralizar” a dança.

Imagina o BO:

“Detido por requebrar com entusiasmo.”


3. Existem times profissionais de Awa Odori

Chamados de REN, são grupos que treinam o ano inteiro.
Isso mesmo: treino de dança que surgiu de gente bêbada.
O Japão é lindo.


4. Você pode participar sem saber nada

Existe a “Niwaka Ren”, uma ala onde qualquer turista pode entrar e dançar junto.
É como entrar no CICS sem saber o que está fazendo — mas funciona.


5. O festival é tão famoso que criou polêmicas políticas

Tokushima tem briga entre prefeitura, comitê do festival e patrocinadores sobre quem controla o evento.
Em 2018 houveram tretas públicas, notas oficiais, discussões acaloradas — tudo por um festival de dança de bêbados ancestrais.


✔️ Dicas Bellacosa para o viajante Oni

1. Chegue cedo

Se você chegar em cima da hora, vai ver o festival igual quem vê JES2 por terminal lento:
vai travar tudo.


2. Leve leque ou toalhinha

Agosto = calor supremo
O calor japonês é diferente, é agressivo, é úmido, é pegajoso.
O festival é no meio da rua.
Você vai suar como se estivesse rodando SORT sem PARM SIZE.


3. Coma antes

As ruas ficam lotadas e conseguir comida é uma side quest.


4. Entre na dança

Mesmo se você dançar como Windows travando, ninguém vai ligar.
Awa Odori é sobre ser bobo com orgulho.


5. Reserve hotel com antecedência absurda

Tokushima lota rápido, tipo IMS sob ataque.


🌟 Meu comentário Bellacosa sentimental

O Awa Odori tem algo especial:
ele é uma dança que nasceu da bagunça, virou tradição e hoje é símbolo de alegria coletiva.

É a prova de que nem toda história precisa nascer organizada para virar cultura.
Às vezes o caos vira rito.
Às vezes a festa vira legado.
Às vezes o tropeço vira arte.

E isso, meu caro El Jefe, é poesia.


🥢 Easter-eggs culturais

  • Alguns shamisen do festival tocam ritmos influenciados por Okinawa — detalhe que só repara quem saca de música tradicional.

  • Há grupos REN inspirados em animes, com figurinos moderninhos.

  • Koenji Awa Odori já foi cenário de episódios de dramas japoneses nos anos 90.

  • Alguns passos lembram movimentos de teatro Noh — influência ancestral.

  • Há lendas que dizem que espíritos se juntam à dança durante o Obon, invisíveis, mas presentes.


🚫 Problemas legais e censura moderna

Hoje em dia existem:

  • restrições de horário

  • limites de barulho

  • controle rígido de patrocínio

  • censura de roupas muito reveladoras

  • proibição de vendedores ambulantes não cadastrados

  • regras anti-assédio muito rígidas (ainda bem)

E existe um debate acalorado sobre a “comercialização” do festival — uns dizem que virou espetáculo turístico demais, outros defendem que evoluir faz parte.


Fechando o batch da madrugada

Se você gosta de cultura japonesa, alegria coletiva e tradições que surgiram de um porre bem dado, o Awa Odori é obrigatório.

É o Japão no modo mais humano, mais leve, mais caótico e mais livre — o Japão que dança sem se preocupar com o amanhã.

E eu, Oni Bellacosa, recomendo com a mesma firmeza com que recomendo revisar seu JCL antes de submeter no JES2.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Voando no WindUp do Shopping D

Skydiving

Em Agosto de 2014 resolvemos ir ate Sampa para experimentar a sensação de queda livre. Foi fantástico voar por 90 segundos... foi difícil me ajustar mas aos trancos e barrancos me divertindo ao bater no vidro, girando, subindo e caindo.

O voo não é nada fácil, porém divertido a sensação de ser empurrado para o alto pelo vento. Boa adrenalina mas um pouco chato devido a dificuldade em voar.

Vcs conhecem o WindUp? Vale a pena conhecer.

#ElJefeMidnightLunchAdventures

terça-feira, 12 de agosto de 2014

🧠 Memórias em Papelão e Silício

 


🧠 Memórias em Papelão e Silício

Relembrar o passado é como parar numa curva fechada do tempo.
Nossa memória não guarda o percurso inteiro — apenas os extremos: os momentos que explodem ou quebram o coração.

Amo meus outliers mentais cada historia, incêndios, afogamentos, maridos ciumentos, vitima de assaltos, riscos constantes em trens da CBTU, acidentes dos mais diversos tipos. Mas também momentos coloridos, dos doces sabores culinários da minha Mae, antigas festas de família com todos os mais de 20 primos reunidos. Na parte do coraçãoo amores inúmeros amores, corações partidos e remendados, Vagneida na Europa, norte de Africa e Egito, andanças sul americanas, grandes e pequenos trabalhos, as multinacionais e os sonho... vixe é muito. 

O resto… o cotidiano, o morno, o barulho branco dos dias — tudo se apaga, dissolvido nas conexões neurais, sumindo como fumaça digital.



Mergulhar nessas lembranças é um desafio fascinante.
Com o passar dos anos, vamos colorindo cenas antigas, misturando fatos, trocando diálogos e até inventando fragmentos para preencher as lacunas do que esquecemos.
A mente, esse roteirista teimoso, transforma lembranças em ficção — e a gente acredita.

Sou saudosista nato, e confesso: adoro esse mergulho.
Se pudesse, teria um Pensieve, como o de Dumbledore, para extrair, armazenar e revisitar as lembranças com nitidez de sonho.
Acredito que um dia — e não está tão longe — a tecnologia chegará lá: scanners neurais capazes de ler e traduzir nossas memórias em forma digital, permitindo que a gente caminhe por elas em realidade virtual imersiva.
Um passeio por dentro da própria alma.

Imagino o gosto agridoce de rever pessoas que partiram, de assistir novamente àqueles instantes gloriosos, únicos, lendários.
Mas também — inevitavelmente — encarar os momentos tristes, os erros, as dores e aquele eterno “e se...” que assombra cada lembrança não vivida.

Alguns dos meus posts são isso: pequenos portais aleatórios dentro de uma trilha maluca de bits e bytes, onde guardo as minhas memórias como quem deixa garrafas no mar do tempo.

E o melhor de tudo é saber que continuo produzindo novas lembranças.
Novas aventuras, novas histórias, novos pontos fora da curva.

Afinal, se a vida para, o passado colide —
e sem aventuras, convenhamos…
a vida é chata pacas.



terça-feira, 5 de agosto de 2014

O complexo defensivo de AcroCorintho

O guardiao de Atenas, a muralha de AcroCorinthos


Atenas e Corinthos sempre foram cidades rivais, porem a necessidade de ser criar um sistema defensivo que protegesse a Grécia de invasores, criando bolsoes seguros, impulsionou a criação desta mega fortaleza.

Hoje as ruínas estão dispersas nas colinas, mas outrora este sistema defensivo protegia todo o Golfo de Corintho e a Atenas, pois servia como primeira linha defensiva terrestre antes das muralhas de Atenas.




Durante séculos gregos, macedónios, romanos, bizantinos e otomanos cuidaram e ampliaram estas linhas, porem as guerras e o tempo foram cruéis. Terremotos constantes danificaram enormemente as muralhas.

Para aqueles corajosos que se aventurarem a conhecer AcroCorintho, se você estiver a pé, recomendo alugar um táxi, os motoristas são super simpáticos e cobram por hora de serviço, porem paguem metade na ida, para o caso do camarada sumir, vai la saber... fica a dica.