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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Crônica – O Sobrado da Tia Guiomar e a Descoberta do Telefone

 


Crônica – O Sobrado da Tia Guiomar e a Descoberta do Telefone

Voltar para a Vila Rio Branco é como abrir um álbum de figurinhas antigas: cada página tem cheiro, voz, textura.
E numa dessas páginas mora um castelo — o sobrado da Tia-Avó Guiomar.

Guiomar, irmã da minha vó Alzira, formava com o Tio Francisco e os primos Silas, Noemi e Mirian aquela parte da família que, para os olhos de dois pequenos aventureiros, parecia viver num outro nível de existência. Eram a “parte rica”, como diziam os adultos, mas para mim e para a Vivi, aquilo significava apenas mais magia por metro quadrado.

O sobrado tinha escadas enormes, corredores que pareciam passagens secretas e um brilho diferente — talvez fosse da cera no chão, talvez fosse da fartura que parecia morar ali. Porque, olha… as mesas da Tia Guiomar!
Cada visita era um banquete digno de chefão final de fase. A gente mal chegava e já via os pratos alinhados, cheiro de bolo, carne assando, suco fresco… E sempre, sempre alguém dizendo: “Come mais um pouquinho, menino.”

E eu comia, claro.
Por educação.
(E porque era tudo maravilhoso.)

Mas havia algo ainda mais impressionante naquela casa. Algo que, para um garoto no final dos anos 70, era praticamente tecnologia alienígena.


O telefone.

Sim, senhor(a). UM TELEFONE.
Daqueles com fio, disco giratório e um som que parecia abrir um portal interdimensional.

Era raro, raríssimo.
No Brasil daquela época, a tal da Telesp tinha o “Plano de Expansão”. Você pagava e… esperava. E esperava. E esperava mais um pouco. E só então, anos depois, recebia a linha telefônica. Era quase como ganhar um dragão adestrado pelo correio.

Mas a Tia Guiomar… ah, ela já tinha o dela.
E aquilo me fascinava.



Eu passava horas ligando para o Disque-Historinha – 200-1234, aquele número mítico onde vozes mágicas contavam contos infantis direto para o ouvido de um menino encantado. Ligava para parentes, ligava para ninguém, ligava só para ouvir o disco girando e o click da conexão.

Era o ápice da tecnologia.
E eu, pequenino, me senti pela primeira vez um viajante intergaláctico, conversando com mundos distantes através de um aparelho fixado na parede.

Enquanto isso, o Tio Francisco, pastor da Assembleia de Deus e homem que ajudou a construir trilhos e estações do metrô de São Paulo com as próprias mãos, me ouvia. Com uma paciência bíblica, respondia minhas enxurradas de porquês. E olha que eu era um tagarela nível hard… daqueles que só param quando o sono vence.

Entre uma bronca suave e um ensinamento cristão, ele dividia histórias de vida, fé, trabalho e coragem. Para mim, era como ouvir parábolas modernas.

Noemi, a prima sempre risonha, era a guardiã das nossas aventuras internas.
A Vivi e eu corríamos de um canto ao outro, inventando mundos, criando monstros imaginários nos corredores, fingindo que o sobrado era um gigantesco castelo medieval — e ela vinha junto, rindo, guiando, às vezes tentando conter a bagunça e às vezes incentivando ainda mais.

Cada visita terminava com aquela sensação boa de tarde bem vivida.
O dia rendia, a barriga saía cheia, o coração aquecido, e a cabeça… a cabeça saía com mais histórias, mais perguntas, mais descobertas.

E o telefone.
Ah, o telefone.
Era como se, só de olhar para ele, eu visse o futuro chegando devagarinho — um futuro onde tudo seria conectado, rápido, pulsante.
Ali, naquele sobrado, eu aprendi que tecnologia não é só máquina — é encantamento, é poder falar com o distante, é encurtar mundos.



E uma história começava a ser contada só pra você.

Era bruxaria.
Era ficção científica.
Era o topo da pirâmide tecnológica dos anos 70.

Além disso, havia o êxtase supremo: falar com outros parentes pelo telefone.
Ouvir a voz deles, distante, viajando pelos fios metálicos, chegando até meu ouvido…
Era como magia industrial.

Virou um símbolo.

Do carinho da família.
Do luxo simples dos anos 70.
Da primeira vez que um menino descobriu o futuro dentro de um aparelho eletro-mecânico com um disco de plástico giratório e montes de fiozinhos de cobre.

E até hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo ouvir o trrrrr-trrrrr da discagem, anunciando que a aventura ia começar.

Aquela casa era magica. Eu e Vivi corríamos pelo sobrado, inventando castelos e reinos, brigando, rindo, criando caos. Sempre acompanhados pela Noemi, com um sorriso enorme, olhando pra nós como quem cuida de dois pequenos monstros adoráveis — nossos “Onis de Vila Rio Branco”.

E assim, entre escadas, corredores, sermões, risadas, pratos cheios e aquele telefone que parecia abrir portais, a casa da Tia Guiomar se tornou mais do que uma lembrança.



Hoje, quando fecho os olhos, o som do disco girando ainda ecoa.
O corredor continua iluminado.
O cheiro da comida sobe do fogão.
E eu ainda sou aquele menino curioso, com a mão no telefone, descobrindo o tamanho do mundo.


segunda-feira, 19 de junho de 2017

Estação Tanquinho e seu museu

Primórdios da Linha Telefônica na Linha da Mogiana.


A locomotiva 215 nos trouxe ate a estação Tanquinho e nesta estação tem um pequeno museu ferroviário com diversas peças, equipamentos históricos utilizados neste ramal ferroviário. Aqui o revisor nos faz uma pequena apresentação contando como eram o dia a dia em outros tempos.

No Museu Ferroviário  esta exposto um sistema telefônico, a central de PABX de outra época permite ver e entender como eram feitas as chamadas telefônicas no inicio do século, graças ao nosso imperador Dom Pedro II que foi um dos primeiros governantes a comprar o invento do senhor Gharam Bell, este telefone foi instalado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, onde estava instalado o Palácio Imperial.

A Cidade de Campinas comprou também algumas linhas telefônicas e instalou na cidade, para saber mais assista o video.





segunda-feira, 2 de setembro de 2013

“86-13-37: Quando a casa ganhou voz”. Um conto do Pequeno Trabalhador, Parte 4

 


📞 El Jefe Midnight Lunch —  Um conto do Pequeno Trabalhador, Parte 4
“86-13-37: Quando a casa ganhou voz”
Por Bellacosa Mainframe

Estamos de volta ao Cecap no Quiririm em 1984.


O cheiro de tijolo novo, tinta fresca e esperança misturado a caótica mudança de Sampa a Taubaté. A família Bellacosa em modo multitarefa, estilo “z/OS em IPL pós-pânico”: todo mundo executando job, subtarefa, batch noturno, tarefa oculta… tudo ao mesmo tempo. Era reconstrução física, emocional e financeira — tudo junto, tudo misturado — depois do incêndio de 1983.

Foram meses puxados.
Arregaçamos as mangas, suamos, improvisamos, reciclamos e substituímos cacarecos velhos para devolver dignidade ao lar, meu pai com sua experiência em fazer funiliaria em seus automóveis velhos, usou massa plástica para reconstruir o gabinete da fiel TV CRT Preto e Branco Phico Ford. A geladeira parcialmente destruída, foi reformada tanto na lataria como no motor, e colocada em estado de novo, servindo nosso lar, por mais de uma década, sendo aposentada, quando eu ja trabalhava e comprei uma zero bala nas lojas Arapuam. Cada martelada era um checkpoint. Cada móvel novo (ou semi-novo) era uma vitória. E foi no meio desse caos organizado que surgiu a grande novidade.

Algo que, para muita gente hoje, não faz nem cócegas.
Mas pra nós… era a chegada do futuro.



O telefone. Nosso primeiro telefone. O lendário número 86-13-37.

Meus pais, sempre visionários, resolveram alugar um aparelho — porque na época telefone era quase um carro: caro, raro e valioso. A justificativa era prática: “pra divulgar trabalho, ligar pra clientes, fazer panfletagem…” — sim, panfletagem real, analógica, raiz, sem algoritmo, sem impulsionamento.

E adivinha quem ficou encarregado de distribuir spam manual, caixa postal por caixa postal, por todo o CECAP?

Sim, eu mesmo.
E o Celo, meu companheiro de aventuras.
Formávamos uma dupla dinâmica que hoje renderia um spin-off só nosso: dois moleques pedalando, colando panfletos, enfiando papel nos correios, correndo de cachorro, conversando com vizinhos… éramos quase um cluster de entrega distribuída, versão 1.0.

Mas nada — absolutamente nada — superava a sensação de ter um telefone em casa.

Parecia magia.
Era como se tivéssemos instalado um gateway para o mundo.



Com o 86-13-37, tudo mudou:

📞 falar com parentes distantes;
🏖 ligar para meus avôs Anna e Pedro na Praia Grande;
👋 ouvir histórias, novidades… e broncas;
🤣 ouvir as “historinhas” no 200-1234 (quem viveu, sabe!);
😂 aplicar e receber os primeiros trotes telefônicos — o proto-meme da década.

Era um universo novo.
Era CICS aberto, sessão iniciada, TSO READY.




E aí, abro um parênteses do século XXI, porque é impossível não comparar:

O telefone fixo virou fóssil.
Tenho um até hoje… não uso há séculos. Veio grudado no pacote da fibra ótica e ficou ali como quem guarda uma peça de museu — funcional, mas ignorado.

O celular então… virou mico.
Nos primórdios custava uma fortuna, cada impulso parecia preço de mainframe por MIPS. Depois virou SMS, depois WhatsApp, Telegram… e hoje quase ninguém usa pra ligar.
A ironia: as operadoras mataram o próprio produto com ganância e tarifas absurdas. Empurraram todos nós para alternativas mais baratas, eficientes e… livres.

O triste fim do telefone.
O outrora símbolo de status, comunicação e progresso… hoje é quase um ornamento.




Mas sem chatices, porque aqui é Midnight Lunch e nostalgia merece brilho:

Ainda lembro a emoção real, quase palpável, de ver aquele aparelho instalado na sala.
A liberdade que ele trouxe.
A sensação de que o mundo estava, literalmente, a um toque de distância.

O velho 86.13.37.
A primeira voz da casa renascida.

E um dia, prometo, conto a história da central móvel de telefonia, dos filamentos de cobre coloridos, das pulseirinhas estilosas feitas com restos de cabo multicolorido… um verdadeiro ASSEMBLER de memórias.

Porque cada fio daqueles carregava uma história.
E muitas delas ainda estão aqui, vivas, prontas pra ganhar outro capítulo.

Até a próxima chamada. 📞💾✨