Uma noite de rock alternativo no Garage Bar
Com um cover do Linkin Park e mais uma salada russa de rock desdes os primórdios até o rock nacional, este pequeno e humilde vídeo apresenta o Garage Bar na Avenida Brasil em Campinas.
✨ Bem-vindo ao meu espaço! ✨ Este blog é o diário de um otaku apaixonado por animes, tecnologia de mainframe e viagens. Cada entrada é uma mistura única: relatos de viagem com fotos, filmes, links, artigos e desenhos, sempre buscando enriquecer a experiência de quem lê. Sou quase um turista profissional: adoro dormir em uma cama diferente, acordar em um lugar novo e registrar tudo com minha câmera sempre à mão. Entre uma viagem e outra, compartilho também reflexões sobre cultura otaku/animes
Existem infâncias que são parques de diversão.
A minha, em 1984, no Quiririm e no recém-criado Fabrilar e no enorme conjunt Cecap, era mais parecida com um tabuleiro de War misturado com Os Goonies.
Cada garoto tinha seu território.
Cada território tinha sua lei.
E cada lei era respeitada como se fosse JCL em produção:
errou, abend imediato.
E assim vivíamos numa espécie de guerra fria infantil, onde nem a ONU ousaria meter o bedelho.
Naquele microcosmo taubateano, existiam três facções principais:
Nascidos nos sobrados brancos, erguidos como fortalezas modernas.
Crianças com trilhas, bosques e quadras como reinos particulares.
Uma sociedade organizada, com líderes tribais, hierarquia e fronteiras bem definidas.
Moradores antigos, herdeiros da tradição italiana e dos quintais cheios de frutas.
Conheciam cada árvore, cada jabuticabeira, cada pedra do caminho.
E defendiam suas áreas com fervor digno de cavalaria medieval.
🏭 3. Os Fabrilarenses
Vindo do recente conjunto habitacional, criado por último, eram considerados os nômades urbanos, os NOVATOS — rápidos, espertos e com fama de brigões.
Para eles, território era motivo de honra.
A EEPG Deputado César Costa era o único campo neutro.
Lá as três facções conviviam como se fosse um servidor compartilhado:
Nada de briga
Nada de provocações
Nada de declarar guerra no recreio
Porque ali, meus amigos, era campo santo.
Lugar onde até os mais valentões viravam alunos comportados.
Mas bastava cruzar o portão para o mundo se dividir de novo em fronteiras invisíveis.
O ápice das aventuras?
Invasões frutíferas.
Entrar escondido no território do Quiririm para comer jaboticaba era tipo missão impossível:
avançar rastejando
vigiar os coqueiros
fazer reconhecimento de área
calcular rota de fuga
subir no pé de fruta como quem toma uma torre de castelo
E então, claro…
ser descoberto.
A fuga era cinematográfica:
correria, gritos, galhos arranhando braços, risada nervosa e…
os cascudos ritualísticos quando capturado.
Nada grave.
Era o protocolo diplomático da época.
Se hoje a molecada brinca de laser tag, nós tínhamos:
e
As batalhas eram épicas:
Quadra D vs. Quadra B
Quadra B vs. Quadra E
Quadras unidas vs. Fabrilarenses
Quiririm vs. Todo mundo
Os líderes organizavam o ataque:
posições estratégicas atrás de muros, sincronização na contagem regressiva, estilingues preparados.
O impacto dos coquinhos deixava marcas de guerra.
Cicatrizes que hoje viraram memes pessoais.
Vivíamos uma liberdade que o mundo moderno nem sonha mais.
Correr até perder o fôlego
Fugir de perseguições que eram parte do jogo
Se esconder atrás de eucaliptos
Brincar de pega-pega nos campinhos
Jogar taco nas ruas de terra
Disputar quem encontrava primeiro um riacho limpo
Receber os primeiros beijinhos roubados
E cada dia parecia maior que o anterior.
Dias de verão infinito.
Dias de infância verdadeira.
Crescer no Quiririm, no Cecap, no meio daquela geopolítica infantil, foi viver numa pequena epopeia.
Numa era sem celular, sem internet, sem videogames modernos, a gente tinha:
território,
aventura,
guerra,
diplomacia,
fuga,
risos,
e descobertas.
Tudo isso sem que nenhum adulto percebesse a complexidade estratégica envolvida.
Aquela “guerra fria” era na verdade uma das fases mais quentes e doces da vida.
E no fim, todos nós — quiririnenses, cecapianos, fabrilarenses — crescemos juntos, cada um guardando suas histórias como quem guarda o mapa de um tesouro.
Tem histórias do CECAP que parecem programas mal estruturados, daqueles que entram em loop eterno porque ninguém colocou um IF de saída.
E uma dessas joias do meu arquivo SMF mental envolve o Neury da quadra D — amigo, adversário, vítima, comparsa e mascote não oficial das confusões da época.
Pra entender, você precisa lembrar:
O CECAP não era um bairro.
Era um cluster de mini-feudos, cada quadra com seu líder, seus guerreiros, seus onis e suas rivalidades medievais.
Quadra B aliada a C, C contra D, D contra E…
Se deixasse, virava Game of Thrones versão mamona.
E as guerras de mamona, meu amigo…
Ali era bala real.
Nem a tropa de choque da SHCP daria conta.
Mas entre uma guerra e outra, surgiam as alianças improváveis — e também as tretazinhas clássicas, aquelas que começavam por bobagem:
✔ jogo de bafo com figurinhas dos chicletes Ploc, Ping Pong
✔ bolinha de gude
✔ valendo tazo que nem existia ainda
✔ disputa boba por garota
✔ ou só porque alguém respirou mais forte no campinho
Às vezes, muito raro, por que eram preciosas figurinhas da editora Abril de algum álbum do momento.
Eu e o Celo, meu primo e parceiro de crimes lúdicos, éramos uma dupla perigosa:
juntos, virávamos um sistema integrado, quase um CICS+DB2 da malandragem infantil.
Quando jogávamos contra os outros — fosse bafo, bila, pipas ou o que aparecesse — a união fazia a força… e o lucro.
E o Neury, coitado, sempre topava jogar.
O problema é que ele tinha um mal perder tão grande quanto o manual do MVS.
E ele reclamava.
Chorava.
Esbravejava.
Aí sobrava pra quem?
Pra mim, claro.
Eu tinha que dar cascudos pedagógicos para “resetar” o garoto.
Mas o Neury tinha um amigo maior, mais velho e mais forte:
➡️ Maurício, o tanque de guerra humano da quadra D.
E aí nascia o loop eterno mais famoso da história do CECAP:
Eu dava cascudo no Neury
Maurício vinha e batia no Celo
Aí eu ia e batia no Neury de novo
Maurício batia em mim
O Celo — bravo, porém imprudente — batia no Neury
E tudo recomeçava…
Sim, era isso mesmo:
um WHILE TRUE DO da violência controlada e perfeitamente equilibrada.
Até que um dia, do nada, Maurício juntou nós três:
— Chega. Não vou mais me meter, cês que se virem.
E foi embora, tipo um sysadmin largando o sistema e dizendo: “se virar, molecada”.
A partir dali, o loop foi diminuindo.
Mas o Neury continuou sendo aquele personagem icônico:
apanhava, brigava, reclamava…
e no dia seguinte aparecia lá:
— Vamo jogar?
— Vamo brincar?
Era quase um RETURN CODE 00 automático.
Ele não guardava rancor — apenas hematomas.
Quadra B → Luciano, o líder.
Quadra D → Alessandro, primo do Luciano, meio diplomata, meio general romano.
Quadra C → Xulapa, o líder oficial.
Número 2 da C → Celo, meu primo, rei das tretas e das ideias ruins.
Eu → recémt-chegado, sem direito até a foto do crachá ainda.
Mas, vou te falar…
Mesmo sem cargo oficial, vivi as melhores tardes da minha vida:
✔ jogos de taco
✔ queimada
✔ pega-pega
✔ esconde-esconde
✔ “mana-mula”
✔ SWAT de bicicleta (uma obra-prima antes de existir videogame decente)
✔ futebol no campinho
✔ jaboticabas colhidas na base da ousadia
✔ nadar no córrego perto do arrozal (proibido, claro — por isso era bom)
1984 foi um batch perfeito.
Rodou com RC=00.
Tirando os cascudos.
Tirando as tretas.
Tirando o Marreco — que ainda me perseguia em meio a todas essas aventuras.
Mas, sinceramente?
Era parte do charme.
Era parte do caos.
Era parte do aprendizado on-line da vida real, sem manual, sem JIRA, sem logs.
Era só a vida acontecendo, linda e cheia de bugs corrigíveis.