Crônicas Mainframe — Enigma (TV Cultura, 1987–1990)
Para padawans do audiovisual: história, origem, conceito, curiosidades, apresentadores, teatro — e por onde cavar os vestígios hoje.
Resumo rápido: Enigma foi um game show ao vivo da TV Cultura que misturava quiz de conhecimentos (história antiga, geografia, arqueologia/astrologia, curiosidades contemporâneas) com uma ambientação teatral inspirada no universo de aventura/arqueologia (pense: ecos de Indiana Jones). Estreou em 1987, passou pelo fim de tarde/noite de sábado as 19 horas e teve exibições até o fim da década, a princípio somente no estado de São Paulo, posteriormente em rede nacional num consórcio das diversas TV Culturas estaduais. — hoje vive em trechos arquivados no YouTube e nas lembranças da plateia.
Origem & conceito
A ideia nasceu de Vagner Anselmo Matrone, que pegou referências do cinema de aventura (os filmes Indiana Jones e O Enigma da Pirâmide aparecem como influência declarada) e traduziu isso para um palco de auditório: abertura com um faraó, trilha épica, cenografia que simulava o interior de uma pirâmide, melhor dizendo uma tumba egípcia, cheia de referências ao Antigo Egito e havia provas/armadilhas que remetiam a maldições egípcias — tudo para transformar perguntas de cultura geral em espetáculo.
O formato valorizava plateia, ao vivo e interação: Concurso de Cartazes, Fantasias e ligação do telespectador para Responder o Enigma da Noite.
Quando e onde foi exibido
O programa estreou em abril de 1987 e foi exibido ao vivo no Auditório Cultura (Teatro Franco Zampari) às tardes/noites de sábado; a veiculação em rede aconteceu até o fim dos anos 80. Trechos e programas completos estão resgatados em canais de vídeo e arquivos de fãs.
Apresentadores e elenco fixo
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Cassiano Ricardo — coapresentador, figura central na apresentação do jogo, muito zoeira e adorava interagir e bagunçar com a plateia, quebrando a quarta parede constantemente.
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Cornélia Herr — coapresentadora ao lado de Cassiano, contribuía para a dinâmica “par de heróis/heroínas” que lembrava os personagens dos filmes de aventura da época. Mais reservada, porém dona de um sorriso, que derrubava os adolescente e fazia uma ebulição de hormonas.
- Roslaine Savieiro foi uma das assistentes de palco (Cleópatra).
Os participantes usando jalecos de arqueologos, sendo composto por 4 elementos, o campeão da semana anterior e 3 que passavam pelo portal, acertando uma pergunta sobre o Tema Historia Antiga.
- Conceição Marques foi uma outra das assistentes de palco (Cleópatra). Houve outras Cleópatras, ao longo do programa, mas a memória do tiozão já não é mais a mesma.
Formato do jogo (como funcionava na prática)
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Inscrição/seleção: candidatos chegavam cedo ao estúdio e inscreviam-se para participar.
As 15 horas era feito um sorteio entre os inscritos, 40 pessoas passavam por pré-seleção e dinâmicas de grupo no interior do Teatro.
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Fases: de um grupo inicial de 40 pessoas, eram escolhidos 12.
Esses sortudos, passavam por um portal que remetia a Tumba de Thutankhamon, onde tinham que acerta a pergunta sobre história Antiga, era um momento hilário, pois saiam cada pérola de participantes despreparados.
Ate que depois eliminatórias levavam a 3 + o campeão da semana anterior (total 4).
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Provas: perguntas de Geografia, História Geral e Astrologia; provas senográficas (Câmara Sagrada, Corredor da Morte,) que "eliminavam" participantes.
No decorrer do programa os apresentadores iam fornecendo pistas sobre o Enigma da Noite, algo sobre cultura contemporanea e
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Prêmios: itens que eram cobiçados na época — videogame Atari, computadores (no fim dos 80), videocassetes, aparelhos de som, etc.
Desafios e provas:
- Pistas para o Enigma da Noite
- Furar a urna e pegar a pergunta
- Degraus da tumba
- O Segredo das 7 chaves
- Corredor da morte
- Prova de Osíris
- Câmara Sagrada
- Blefe do Farao
- Xarada de Tutankhamon
- Ser amaldiçoado pelo Faraó
- entre outros
Teatro / palco / auditório — por que importa hoje
O programa era gravado/exibido ao vivo do Auditório Cultura (actual Teatro Franco Zampari), um espaço de plateia que reforçava a sensação teatral do show. Esse elo com o teatro é importante para entender por que Enigma permanece como memória viva: era um híbrido entre game show e teatro de arena.
Hoje o próprio Teatro Franco Zampari continua a ser tema de notícias e projetos da Fundação Padre Anchieta/TV Cultura — há editais e parcerias recentes para uso e revitalização do espaço, o que mantém uma ponte entre a memória do Enigma e iniciativas culturais atuais. tvcultura.com.br
O Segredo mais bem guardado do Farao
Curiosidades para impressionar no café da redação
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A abertura tinha um “faraó” que lançava a maldição-voz: “Eu sou Tutancâmon… Vocês perturbaram o meu descanso de 34 séculos…” — trechos que viraram bordão nostálgico.
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A estética buscava deliberadamente o pastiche: logotipo, trilha e apresentadores faziam referências cinéfilas aos anos 80.
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Parte do material sobre Enigma sobrevive em uploads de fãs e no acervo digital de TV Cultura; há playlists/episódios no YouTube com episódios completos (úteis para quem pesquisa formato e direção de arte).
Para aqueles que participaram a emoção de ser sorteado não tinham igual.
Vencer a sargentona da produção na dinâmica de grupo e entrar no seleção grupos dos 12, era a gloria para rememorar por meses.
Existia um batismo aos frequentadores, ser carregado e jogado numa lata de lixo no centro do pátio.
Na plateia havia espaço para 300 pessoas, muitos, inclusive eu, costuma chegar 9 da manhã do sábado, para reservar um bom lugar.
Existiam inúmeras torcidas organizadas: Veteranos, Enigmania, Professia, Farraos, Arqueologos entre outras
Pessoas que marcaram uma epoca: Edu, Sheila, Patricia, Amelia, Alcione, Regina, Maelo, Milton, Edon, Alex, Brustein, Igor, Bozo, Luciana, Betinha e tantos outros, que a memória não guardou os nomes.
Existia uma padaria nas proximidades, que vendia um nostálgico pão doce recheado com doce de leite.
Onde achar material hoje (guia prático para o padawan pesquisador)
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YouTube — canais com episódios/extretos: procure por Programa Enigma TV Cultura; há uploads do primeiro programa (04/04/1987) e edições avulsas. Ideal para ver a cenografia, ritmo e dinâmica ao vivo.
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Acervos da TV Cultura / Fundação Padre Anchieta: a emissora já fez material comemorativo (50/55 anos) que resgata lembranças de programas clássicos — vale checar o site oficial e canais sociais.
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Matéria e listas de nostalgia (jornais e portais culturais) — artigos de retrospectiva citam Enigma como marco dos anos 80 na emissora. TV Cultura
Mini-dossiê Padawan — perguntas que valem a investigação
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Existem gravações completas no arquivo da Fundação Padre Anchieta? (procure contato com o acervo da TV Cultura).
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Há créditos de direção/roteiro nas fitas preservadas — quem assinou a direção artística do programa? (isso ajuda a mapear influências estéticas).
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Entrevistas com Cassiano Ricardo ou Cornélia Herr sobre Enigma: busque jornais de época e programas de nostalgia.
Para ir mais longe
Fechamento estilo Bellacosa Mainframe (curto e bonito)
Enigma é um daqueles programas que parecem um artefato: mistura de quiz, teatro e cinema de aventura, embalado por plateia e por uma estética decidida. Para o padawan curioso, é um playground de estudo: direção de arte (cenografia de “pirâmide”), design de som (trilhas emprestadas do épico), mecânica de jogo ao vivo e relação televisão–teatro. Se queres entender como a TV dos anos 80 transformava cultura geral em espetáculo, comece pelos vídeos no YouTube, depois bata à porta do acervo da Cultura.
E foi nesse espaço magico, um portal para um mundo de fantasia, que tive o momento mais feliz da vida, ao conhecer a Paty.










