sexta-feira, 10 de outubro de 2014

🎄 Taubaté e o final boss Bailinhos, amigo secreto e luz meia-boca

 


🎄 Taubaté e o final boss: Bailinhos, amigo secreto e luz meia-boca

Memórias doces das escolas de Taubaté

Esta é, sem dúvida, uma das lembranças mais doces que carrego de Taubaté. Um conjunto de eventos simples, mas carregados de significado, vividos entre 1983 e 1984 no Quiririm e depois em 1985 e 1986 no Parque Sabará, nas escolas Deputado Cesar Costa e Amador Bueno da Veiga.

Naquele tempo, existia um ritual sagrado de fim de ano. Cada sala, de forma quase autônoma — algo bem stand-alone, sem centralização — escolhia um dia para fazer sua festinha de confraternização. Tinha de tudo: amigo secreto, comes e bebes, musiquinha, risadas e aquele clima de “missão cumprida” por mais um ano letivo finalizado sem abend.





Lembro com carinho da primeira caneta “de adulto” que ganhei da Adriana, ainda na quarta série. Para muitos era só uma caneta. Para mim, era quase um upgrade de sistema operacional, um sinal claro de que eu estava subindo de versão.

Os comes e bebes tinham sua própria organização social:
rapazes levavam bebidas, meninas traziam quitutes.
Quando dava, fazíamos uma vaquinha — crowdfunding analógico raiz — para melhorar o cardápio. E, claro, sempre surgia alguém com aquele toca-fitas parrudo estilo boombox, com dois alto-falantes, orgulho tecnológico da época, pronto para animar o bailinho.



No quinto ano, ganhei uma das minhas melhores memórias: a Gisele me ensinando a dançar música lenta. Dois passinhos para lá, um prá cá, corpos colados, mão na cintura e no ombro. Gisele, Gisele, danadinha. Nada de exageros. O som tinha que ficar baixo, porque outras salas ainda estavam em aula. Mesmo assim, era mágico.

Chegávamos mais cedo para preparar a sala:
arrastar cadeiras, empurrar mesas, criar um salão improvisado.
Fechávamos as cortinas para dar aquele escurinho estratégico e íamos ao painel de luzes desligar metade das lâmpadas. Um dimmer manual, na raça.

A professora coordenadora ficava ali, presente, fiscalizando — nosso RACF humano, garantindo que nada saísse do controle. E não saía. Era tudo muito saudável:
o bailinho,
o baile da vassoura,
as risadas,
a confraternização.



Claro que os outros professores apareciam para dar um alozinho, era um dia que as barreiras se quebravam, não existiam professores e alunos, apenas colegas de viagem, que terminaram com sucesso mais uma jornada. O Ômega escolar, vencer o chefe final e avançar para o nível seguinte.

Era a alegria pura de terminar mais um ano, passar de série, estreitar laços, criar histórias. Coisa simples. Coisa de interior nos anos 1980. Mas que rendia causos infinitos:
casalzinhos se formando,
paqueras evoluindo,
a chance de dançar com a mais gata da turma,
a zoação dos que amarelaram na hora H.

Troca de presentes, música baixa, luz meia-boca, coração acelerado.
Nada sofisticado. Nada artificial. Tudo real.



Hoje, muitos nomes se perderam na memória. Mas naquela época, cada colega era parte ativa do meu mundo. E lembrar desses momentos ainda anima o coração, como um job antigo que, quando relido, continua funcionando perfeitamente — sem precisar de manutenção.

Bons tempos. Tempos doces. Tempos que não dão rollback, mas deixam logs eternos na alma.


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Conheça as regras da dança da vassoura:

Momentos divertidos em bailinhos fosse na escola, fosse festas na garagem, onde houvesse um baile e uma pessoa espirituosa com uma vassoura disponivel


Regras da Dança da Vassoura

https://eljefemidnightlunch.blogspot.com/2014/10/danca-da-vassoura.html


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

🔥 PARTE 2 — LANCHES & STREET FOOD OTAKU

 


🔥 PARTE 2 — LANCHES & STREET FOOD OTAKU

(Versão Bellacosa Mainframe: snackado, cacheado e com zero ABEND… a não ser que você coma demais.)

Se no Mainframe a rua é o SPOOL e a galera se encontra na fila do JOB, no Japão a rua é o templo sagrado dos lanches rápidos. São comidas portáteis, simples, baratas e com o poder misterioso de aparecer na hora certa no anime — geralmente quando o herói está com fome, fugindo de um monstro ou simplesmente vivendo a vida.

Vamos aos 10 primeiros lanches forjados no fogo da cultura otaku:


1. Onigiri – O checkpoint alimentar do Japão

🍙 O Triângulo Sagrado do Arroz

Origem: Século XI, usado por samurais como comida portátil.
Ingredientes: Arroz japonês, sal, recheios variados (salmão, umeboshi, atum com maionese).
Por que aparece tanto? Porque é o “IF THEN ELSE” do herói pobre: funciona sempre.
Animes: Naruto, K-On!, Sailor Moon, Jujutsu Kaisen.
Easter Egg: Em animes antigos no Ocidente, onigiri virou “bolinho de arroz” ou… “donut” (Pokémon, sim, eu olho pra vocês).


2. Takoyaki – O commit perfeito no mundo real

🐙 Bolinho de polvo, quente e mortal (para a língua)

Origem: Osaka, anos 1930.
Ingredientes: Massa, gengibre, cebolinha, pedaços de polvo, molho especial e katsuobushi dançando.
Por que aparece? É perfeito para cenas de festival escolar.
Animes: My Hero Academia, Clannad, Kanon, Noragami.
Comentário Bellacosa: Você sabe que é bom quando o vapor sobe igual fumaça de Job Cancelado e ainda assim você come.


3. Taiyaki – O peixinho lendário do XP nostálgico

🐟 O Save State dos doces de rua

Origem: 1909, Tóquio.
Ingredientes: Massa de panqueca e recheios (anko, creme, chocolate).
Símbolo: Sorte, abundância e aquele buff de +50 alegria.
Animes: Kanon, One Piece, Gintama.
Easter Egg: Em alguns animes, o personagem azarado sempre perde o taiyaki para um corvo.


4. Korokke – O crocante OTIMIZADO

🥔 O bolinho frito “nivelado” no JES2

Origem: Adaptação japonesa do croquete europeu (Era Meiji).
Ingredientes: Batata amassada, carne ou legumes, empanado e frito.
Por que aparece? Porque é barato e vendido em qualquer combini.
Animes: Haikyuu!!, Shin Chan, Bleach.
Curiosidade: No Japão, as avós têm orgulho do “som do croc” perfeito. É quase uma SMF do som.


5. Yakisoba – O deploy mais rápido da feira escolar

🍜 Macarrão de rua com alto throughput

Origem: Pós-guerra, inspirado no chow mein chinês.
Ingredientes: Macarrão especial, legumes, porco e molho yakisoba.
Cena clássica: Festival escolar → protagonista vira vendedor de yakisoba suado.
Animes: Great Teacher Onizuka, Food Wars, ReLIFE.


6. Karaage – O “fried chicken” que passou por tuning japonês

🍗 Frango frito otaku-level

Origem: Kyushu, século XX.
Ingredientes: Frango temperado com shoyu, gengibre, alho, empanado e frito.
Por que aparece tanto? Porque personagens comem com a mão, fazendo “humf humf” que ativa nosso gatilho da fome.
Animes: Demon Slayer, Chainsaw Man, Rent-a-Girlfriend.
Easter Egg: Gohan, de Dragon Ball, é praticamente movido a karaage.


7. Nikuman – O “pãozinho doce de vapor” que salva vidas

🥟 O checkpoint de calor no inverno japonês

Origem: China → Japão; século XIX.
Ingredientes: Massa macia + recheio de carne suculenta.
Quando aparece: Dia frio → protagonista comendo nikuman na rua.
Animes: Tokyo Revengers, Bleach, Doraemon.
Comentário: No Japão, sai da máquina automática quente. No Brasil, só sonho mesmo.


8. Imagawayaki (ou Obanyaki) – Versão circular do Taiyaki

🍪 O disco rígido da felicidade

Origem: Período Edo.
Ingredientes: Anko, creme, chocolate dentro de discos fofinhos.
Animes: Kanon, Fate stay/night, Shokugeki no Soma.
Curiosidade: A imprensa ocidental confunde com panqueca, mas é muito melhor.


9. Yaki Onigiri – Onigiri versão hard-mode

🔥 Arroz grelhado + shoyu = sua língua implodindo

Origem: Tempo dos samurais.
Ingredientes: Onigiri + shoyu tostado.
Animes: Non Non Biyori, Silver Spoon, Yuru Camp.
Comentário: Esse é o “modo difícil” do onigiri…
… mas o gosto é tão bom que vale o abend.


10. Pan de Melon (Melonpan) – O “cookie-pão” mais amado dos animes

🍈 O carb-load universal do mundo otaku

Origem: Mistura de influências europeias + criatividade japonesa.
Ingredientes: Pão doce com casquinha crocante.
Animes: Shakugan no Shana, Attack on Titan, Sword Art Online.
Easter Egg: A Shana é praticamente o “daemon patrocinado pelo Melonpan”.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

📼 Episódio Especial: “Os Caçadores de Içá — Parte 2: A Primavera dos Onis”

 


🌙🍱 El Jefe Midnight Lunch — Crônicas de um Bellacosa Mainframe 🍱🌙
📼 Episódio Especial: “Os Caçadores de Içá — Parte 2: A Primavera dos Onis”
por Vagner Bellacosa – direto do dataset das memórias de 1983


Se você leu a Parte 1, já sabe que minha introdução ao universo gastronômico do interior — as lendárias tanajuras — aconteceu em Novo Horizonte. Mas, quando nos mudamos pro CECAP de Taubaté, descobri que a cultura formigueira não tinha CEP. Ali também apreciavam a famosa içá, a tal formiga bunduda que deixava qualquer oni de olho brilhando e barriga roncando.

Estamos em outubro de 1983.
Passado o tempo de Cosme e Damião, comemorado em 27 de Setembro, quando a garotada fazia o looping completo pelas quadras do CECAP atrás de doces, muito antes da moda do Halloween chegar ao Brasil. Mas outubro tinha outro evento ainda mais aguardado — e este, sim, fazia o coração dos pequenos caçadores acelerar como CICS em pico de transação:

🌧️ A Primeira Grande Chuva da Primavera

Quando a chuva caía forte pela primeira vez, não era só sinal de estação nova.
Era o trigger oficial, o SVC 13, o chamado ancestral.

Era o início da Revoada das Rainhas, quando as içás aladas deixavam os ninhos para criar novas colônias. E, meu amigo… quando isso acontecia… era festa pura... momentos emocionantes, ferroadas e cicatrizes para contar historia.



Dezenas de pequenos onis se espalhavam pelo CECAP numa verdadeira operação de guerra, em busca dos enormes formigueiros de salvas.

Era Black Friday do mato.



Acreditem em mim, esses formigueiros eram enormes com dezenas de câmaras, atingindo uns 5 metros de profundidade e um raio de 10 metros de circunferência com inúmeros tuneis de saída, por onde voavam as saúvas, os sabitus e saiam enormes guerreiros com ferrões monstruosos.





🪖 A Batalha dos Formigueiros

Não pense que era fácil, não.
Os formigueiros tinham defesa anti-invasão digna de mainframe militar.

De dentro dos buracos saíam centenas de milhares de soldados, mordendo tudo o que se movia — inclusive nós. E olha, vou te dizer…

A mordida daquelas formigas era um corte profundo, ardido, que fazia qualquer criança repensar suas escolhas. Mas os onis eram resilientes, adaptáveis, como programadores de JCL lidando com abends misteriosos.



🔧 As Técnicas dos Caçadores

Cada oni tinha seu framework pessoal:



  • Bacias de água para coletar as içás boiando;

  • Dois baldes — um para as aladas, outro para as que perdiam as asas, brincadeira alguns artista ficavam com um pé em cada balde;

  • Botas de borracha (só os ricos do CECAP tinham);

  • E eu?

Eu era mais criativo.



Eu reciclava e vestia sacos plásticos de 5 kg de arroz nos pés.
Aqueles sacos eram grossos, fortes e anti-formiga, quase um RACF PERMIT CLASS(FORMIGA) ACCESS(NONE) para proteger meus tornozelos.

Com os pés devidamente blindados, eu me sentia um cavaleiro medieval enfrentando um exército inimigo — só que o prêmio, eram formigas, não castelos.



Quando as formigas venciam, levávamos mordidas extramente dolorosas, pois fechavam a pinça na carne, profundamente e rápido. A única maneira de parar era arrancando a cabeça e pedacinhos de carne junto, saindo bastante sangue, que deixava as formigas mais loucas ainda.




🏆 A Colheita

Depois de horas de caça, mordidas, correria e gritos, vinha a recompensa.

Às vezes 500g.
Com sorte, 1 kg de tanajura.



Era ouro entomológico.

Mas aí vinha a parte realmente difícil: nenhuma mãe no CECAP — e eu repito, NENHUMA — queria a casa cheirando a formiga frita.

Não dava pra usar o fogão.
Era proibido.
Era ABEND S0C7 na hora.



🔥 A Gambi-Tecnologia do Oni

Eu, como bom engenheiro de soluções improvisadas (treino que mais tarde me levaria ao mundo do mainframe), resolvia assim:

  1. Pegava uma lata de leite grande (Ninho, claro — sempre ele).

  2. Montava uma fogueira no campinho atrás dos prédios.

  3. Fazia ali mesmo a fritura ritualística.

Problema resolvido.
Casa sem cheiro.
Barriga feliz.
Oni orgulhoso.




🍛 O Caviar Tupiniquim

Um professor de ciências dizia:

“A tanajura é o caviar brasileiro.”

E não é que era mesmo?

Crocante, gordurosa na medida, um sabor que até hoje volta na memória com aquele cheiro de terra molhada da primavera de 83.

A infância salgada, doce e crocante, tudo ao mesmo tempo.

PS: Curioso hoje ver a polémica gerada por alguns grupos do consumo de proteína oriunda de insetos, realmente esses meninos e meninas, que nasceram em apartamento sabem pouco sobre as aventuras do interior de antigamente.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

🟣✨ Log da Memória – Job CECAP.SPRING84.AZARANDO

 


🟣✨ Log da Memória – Job CECAP.SPRING84.AZARANDO

A Saga da Andreia, da Rose… e do temido Marreco

Sabe aquelas memórias que ficam guardadas no tape library do coração, esperando o mount para rodar de novo? Pois é… hoje o cartucho que subiu foi de primavera de 1984, lá no glorioso CECAP, onde cada quadra era uma microzona diplomática e cada fofoca percorria o bairro na velocidade de um VTAM na veia.

Eu já falei aqui da Andreia da quadra G — a garota que praticamente abendeu o coração meu e do meu primo Celo. Um sorriso tão bonito que ia direto para a SYSOUT, sem filtro. Pois bem… quem diria que iríamos revê-la tão rápido depois daquele encontro enquanto limpávamos o jardim? Ah, 1984, você sabia fazer triggers perfeitos.



🎞️ O Casamento da ADPM – Onde tudo começou (ou continuou)

Meu pai, fotógrafo incansável, foi contratado por amigos para cobrir um casamento no clube ADPM — aquele com salão enorme, quadras, campo e a piscina que no verão parecia a Disneylândia da molecada.

Cerimônia na igreja do Cecap → job step concluído.
Festa no clube → step crítico com alto potencial de aventura.

E eis que, quando entramos no salão… BOOM: Andreia estava lá. Lindíssima num vestido que fez até o CICS engasgar.
Eu e o Celo, dois onis desgovernados, olhamos um para o outro e já partimos para um par-ou-ímpar mortal, versão melhor de três, valendo o direito de azarar a Andreia.

Advinhe quem perdeu?
Sim. Eu.
Eu, o pobre Barney, F1-F2-F3 no teclado do destino.



😎 Mas o Mainframe da Vida sempre tem uma Saída Alternada

Enquanto o Celo ia todo pavão jogar charme na Andreia, meus olhos encontraram uma menina loirinha, mais nova, super simpática, amiga dela: Rosemeire.

E aí, meu caro leitor, o abend virou milagre.

Fui falar com a Rose e… conexão estabelecida.
Dançamos, brincamos, conversamos, rimos e — como manda o script clássico das festas da época — rolaram uns beijinhos sob a lua cheia.

Foi uma noite incrível:
Celo com Andreia.
Eu com Rose.
Os dois jobs rodando com RC=00.
Tudo lindo.
Tudo suave.
Little did I know… a fatura viria no domingo.

📣 Domingo: Broadcast Geral do CECAP

CECAP era assim:
— Um beijo dado no sábado…
— …virava pauta pública no domingo pós-missa.

E eis que meu nome surge nas conversas.
Mas não pelo motivo que eu desejava.

A Rose — ah, a Rose… — tinha namorado.

Um tal de Marreco.

Que não foi ao casamento.
Logo, ganhou o chapéu viking by yours truly.

E o Marreco, na fúria de macho ferido em 1984, rodou o bairro dizendo que ia “pegar o Barney”.
Sim, eu mesmo.
O apelido que me perseguia feito JES2 jogando warning:
“Barney pisou na bola!”

Quem me trouxe a bomba?
Marquinhos, vindo da missa, assustado:

Vagner, corre… o Marreco tá atrás de você, falou que vai te arrebentar!

Eu gelei.
Ge-li.
Por uns 15 dias, reduzi meu trânsito às zonas seguras da quadra B e C.
No catecismo, era entra e sai igual job de step único.

Depois de dois meses, assunto esquecido.

Ou assim eu achei…



⚽ O Campinho – O Momento do Veredito

Tô jogando bola no campinho.
Sol gostoso.
Molecada rindo.

De repente…

Barulho estranho no ar.
Coisa de filme.
Ou de SMF logger capturando evento crítico.

A molecada olha:
Ih, o Barney rodou!
Vai dar ruim!
É o Marreco!

Eu parei.
Bike longe demais pra tentar fuga.
E fugir seria feio, coisa de covarde — status inválido para um garoto do CECAP.

O rapaz se aproxima…

Segundos que pareceram anos-luz.

Quando ele chega perto, me olha fixo e:

Pô, Vagner… é você? Você que é o Barney?

Eu já preparando o último Pai Nosso…

E então ele completa:

Sou eu, o Claudio… da escola.
O Marreco sou eu, pô!

A explicação veio:
Ficou chateado com a Rose, óbvio, mas entendeu que eu era novo no bairro e não tinha como saber da existência do namoro.

Resultado: escapei bonito.
RC=00
No abend.
No dump.
No hematoma.

E ainda ganhei um amigo.


🟡🖥️ Conclusão do Job

A vida no CECAP era assim:
rapidez de boato nível JES2, aventuras épicas com orçamento zero e emoções que deixariam qualquer novela no chinelo.

E 1984…
Ah, 1984 foi um batch inesquecível.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

 


**🥤 A Gini, a Caçulinha e as Caminhadas —

Memórias de Infância ao Estilo Bellacosa Mainframe**

Existem memórias que ficam guardadas na gente como datasets que nunca passam por scratch. São arquivos afetivos com RETPD=FOREVER, que resistem a incêndio, mudança, ditadura, separação e ao famigerado tempo — esse SYSOP invisível que tenta dar purge na gente.

A minha infância… ah, essa roda em fitas cartucho de 1600 bpi, guardando aventuras, tombos, corridas e, principalmente, caminhadas. Porque se existe uma família que nunca soube ficar parada foi a minha.
Bellacosa não anda; percorre.

E no topo desse ranking afetivo, estão três figuras míticas:

  • meu tio Rubens, o lendário Rubão, caminhante olímpico, contador de causos e dono de um pulmão que deixava qualquer criança exausta;

  • meu avô Pedro, senhor das histórias, dos conselhos, dos silêncios e dos passeios à beira-mar;

  • meu pai, o protagonista de dezenas de quilômetros percorridos em todas as direções possíveis da Pauliceia.

Cada um deles foi um mestre Jedi da arte de caminhar — e eu, o padawan de calças curtas.




👣 Rubão: o andarilho de bairro e de coração

O Rubão não caminhava — ele deslizava.
Era aquele cara que dava o passo largo, firme, decidido, como quem sempre sabia para onde estava indo, mesmo quando não sabia.

Com ele eu aprendi a ver detalhes do bairro:
a vendinha que ninguém dá bola, o vizinho reclamão, a senhora com o cachorro temperamental, o cheiro de café saindo das janelas às seis da tarde.

Rubão tinha o dom de transformar qualquer volta na quadra numa microaventura.




🌊 Vô Pedro: caminhadas à beira-mar e histórias na mochila

Com meu avô Pedro, a caminhada tinha outra vibração.
Era praia, mar batendo na canela, areia quente e histórias de família sendo desfiadas como rosário antigo.

Ele contava sobre a Itália, sobre seus pais, sobre sua juventude, sobre a dureza do trabalho e o orgulho do sobrenome.
E eu, pequeno, ia ouvindo…
absorvendo…
construindo meu próprio repertório de lendas Bellacosa.

Caminhar com ele era como abrir um livro vivo — cheio de personagens que eu nunca conheci, mas que moldaram quem eu sou.




👣🌆 E aí vinha meu pai — o maior caminhante de todos

Ah… meu pai.

Caminhar com ele era aventura, caos, espontaneidade e quilometragem infinita.
Não existia destino definido.
O homem simplesmente andava.

Podia ser:

  • da Vila Rio Branco até a Vila Alpina,

  • da Vila Rio Branco até a  Vila Esperança 

  • da Vila Rio Branco até o Cangaíba,

  • do bairro até o centro,

  • do centro até a próxima missão fotográfica,

  • dos laboratórios às lojas de revelação,

  • dos desmanches de carro às oficinas,

  • ou apenas caminhadas porque era domingo, porque tinha sol, porque era o jeito dele de viver.

Com ele aprendi a observar gente, esquina, rua, placa, padaria, boteco, ferro-velho.
Sim, ferro-velho fazia parte do nosso roteiro afetivo.
Nada mais Bellacosa do que uma boa loja de sucata.



🥤 E quando eu cansava? Entrava em cena a lendária GINI.

Ahhh…
A Gini.

Aquele refrigerante doce, amado pelas crianças, meio gasoso, meio mágico — e que era também conhecida como caçulinha, a bebida oficial das nossas aventuras.
Era o save point das longas jornadas.

A dinâmica era simples:

  1. Eu cansava.

  2. Meu pai percebia.

  3. Entrávamos em algum boteco, mercearia, armazém ou bar.

  4. Ele pedia algo para ele.

  5. E eu ganhava minha Gini.

E de repente:
✨ Energia restaurada
✨ Ânimo de volta
✨ Caminhada retomada
✨ Conversa fluindo
✨ O mundo ficando bonito de novo

Até hoje sinto o gosto da Gini no meio da memória — doce, simples, inesquecível.




🥾 E então… Santiago de Compostela. Porque Bellacosa não para.

Cresci.
O mundo girou.
Outras cidades entraram na minha vida.
Outros caminhos se abriram.
E numa dessas, lá estava eu:

👉 andando quilômetros e quilômetros até Santiago de Compostela.

Sim.
Aquele mesmo menino que bebia Gini em boteco de bairro percorreu caminhos milenares na Europa, como se estivesse repetindo o gesto ancestral de três homens que moldaram sua infância.

Rubão, vô Pedro e meu pai caminharam sem nunca sair do Brasil.
Eu caminhei o mundo — carregando os três na sola do pé.

Mas isso…
ah…
isso é história para outro post.




💾 Conclusão Bellacosa: memórias boas têm cheiro, gosto e passada.

As caminhadas da infância não foram só deslocamentos.
Foram rituais.
Foram conversas.
Foram vínculos.
Foram GPS emocional.
Foram Gini gelada em copo de vidro grosso.
Foram fundações de quem eu me tornaria.

E cada vez que eu ando — sozinho, com gente, no Brasil, na Europa, em trilhas ou avenidas — uma parte de mim ainda é aquele menino que descansava numa mercearia, bebendo um refrigerante barato, feliz da vida por estar ao lado de quem amava.

Porque memórias assim…
meu caro…
nem o tempo ousa deletar.


Andarilho no Caminho de Santiago

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

🥥 Travessuras no Quiririm — As Guerras Territoriais dos Cecapianos

 


🥥 Travessuras no Quiririm — As Guerras Territoriais dos Cecapianos

Crônica ao estilo Bellacosa Mainframe, para o blog El Jefe Midnight Lunch

Existem infâncias que são parques de diversão.
A minha, em 1984, no Quiririm e no recém-criado Fabrilar e no enorme conjunt Cecap, era mais parecida com um tabuleiro de War misturado com Os Goonies.

Cada garoto tinha seu território.
Cada território tinha sua lei.
E cada lei era respeitada como se fosse JCL em produção:
errou, abend imediato.

E assim vivíamos numa espécie de guerra fria infantil, onde nem a ONU ousaria meter o bedelho.


🏘️ Os Três Povos do Vale Encantado

Naquele microcosmo taubateano, existiam três facções principais:



🏰 1. Os Cecapianos

Nascidos nos sobrados brancos, erguidos como fortalezas modernas.
Crianças com trilhas, bosques e quadras como reinos particulares.
Uma sociedade organizada, com líderes tribais, hierarquia e fronteiras bem definidas.

🌽 2. Os Quiririm Raiz

Moradores antigos, herdeiros da tradição italiana e dos quintais cheios de frutas.
Conheciam cada árvore, cada jabuticabeira, cada pedra do caminho.
E defendiam suas áreas com fervor digno de cavalaria medieval.


🏭 3. Os Fabrilarenses

Vindo do recente conjunto habitacional, criado por último, eram considerados os nômades urbanos, os NOVATOS — rápidos, espertos e com fama de brigões.
Para eles, território era motivo de honra.



🎒 A Escola: Nosso Acordo de Paz de Genebra

A EEPG Deputado César Costa era o único campo neutro.
Lá as três facções conviviam como se fosse um servidor compartilhado:

  • Nada de briga

  • Nada de provocações

  • Nada de declarar guerra no recreio

Porque ali, meus amigos, era campo santo.
Lugar onde até os mais valentões viravam alunos comportados.

Mas bastava cruzar o portão para o mundo se dividir de novo em fronteiras invisíveis.


🍒 As Expedições Secretas: Goiabas, Pitangas e Jaboticabas

O ápice das aventuras?
Invasões frutíferas.

Entrar escondido no território do Quiririm para comer jaboticaba era tipo missão impossível:

  • avançar rastejando

  • vigiar os coqueiros

  • fazer reconhecimento de área

  • calcular rota de fuga

  • subir no pé de fruta como quem toma uma torre de castelo

E então, claro…
ser descoberto.

A fuga era cinematográfica:
correria, gritos, galhos arranhando braços, risada nervosa e…
os cascudos ritualísticos quando capturado.
Nada grave.
Era o protocolo diplomático da época.


🌰 Guerras de Coquinhos e Mamonas — Nosso Paintball Pré-histórico

Se hoje a molecada brinca de laser tag, nós tínhamos:

Coquinhos + Bodoques

e

Mamonas + Pontaria treinada

As batalhas eram épicas:

  • Quadra D vs. Quadra B

  • Quadra B vs. Quadra E

  • Quadras unidas vs. Fabrilarenses

  • Quiririm vs. Todo mundo

Os líderes organizavam o ataque:
posições estratégicas atrás de muros, sincronização na contagem regressiva, estilingues preparados.

O impacto dos coquinhos deixava marcas de guerra.
Cicatrizes que hoje viraram memes pessoais.



🚴‍♂️ A Arte de Fugir, Brincar e Crescer

Vivíamos uma liberdade que o mundo moderno nem sonha mais.

  • Correr até perder o fôlego

  • Fugir de perseguições que eram parte do jogo

  • Se esconder atrás de eucaliptos

  • Brincar de pega-pega nos campinhos

  • Jogar taco nas ruas de terra

  • Disputar quem encontrava primeiro um riacho limpo

  • Receber os primeiros beijinhos roubados

E cada dia parecia maior que o anterior.
Dias de verão infinito.
Dias de infância verdadeira.



🌄 Epílogo: O Reino Que Só Criança Enxerga

Crescer no Quiririm, no Cecap, no meio daquela geopolítica infantil, foi viver numa pequena epopeia.

Numa era sem celular, sem internet, sem videogames modernos, a gente tinha:

  • território,

  • aventura,

  • guerra,

  • diplomacia,

  • fuga,

  • risos,

  • e descobertas.

Tudo isso sem que nenhum adulto percebesse a complexidade estratégica envolvida.

Aquela “guerra fria” era na verdade uma das fases mais quentes e doces da vida.

E no fim, todos nós — quiririnenses, cecapianos, fabrilarenses — crescemos juntos, cada um guardando suas histórias como quem guarda o mapa de um tesouro.



domingo, 17 de agosto de 2014

Ir Para a Cidade: A Epopeia Mágica do Mappin

 


El Jefe – Ir Para a Cidade: A Epopeia Mágica do Mappin

Por Vagner “Formiguinha” Bellacosa – Versão Bellacosa Mainframe

Existem viagens que não precisam de avião, navio ou estrada longa.
Basta um domingo, uma avó guerreira e uma criança de cinco anos com os olhos arregalados para que um simples percurso se transforme em portal.

Na Vila Rio Branco, Zona Leste, ir ao centro de São Paulo não era deslocamento.
Era ritual quase duas horas de ônibus para ir, mais duas para voltar.
Atravessando Vila Esperança, Penha, Tatuapé, Belenzinho, Brás na sua histórica Avenida Celso Garcia, ora parando no parque Dom Pedro, ora indo mais longe até a Praça Ramos de Azevedo...



Era dito com respeito, língua solene, sílaba cheia:
“Vamos pra… CI-DA-DE.”

Sair do bairro com casinhas terreas, um ou outro sobrado para ir num lugar cheio de arranha-ceus, espigões, hoje espalhados pelos 4 cantos da cidade, mas naquela época, visíveis somente nas regiões centrais. A avenida Paulista ainda era coroada pelos imensos casarões decadentes, que nos anos posteriores foram sendo demolidos e transformados em magníficos edifícios do coração financeiro da América Latina.

Um decreto real, quase uma SVC 13 chamando o próximo job da memória.

E lá ia o pequeno Vagner — inquieto, curioso, formiguinha gulosa — escoltado pela avó Anna: tecelã, doceira, general das panelas e sacerdotisa da fé.
Dessa vez, rumo ao templo supremo do consumo elegante:
O MAPPIN.




O Mappin não era loja. Era outro mundo.

Antes dos shoppings, antes das multimarcas, antes do consumo pasteurizado, existia um gigante de salões amplos e decoração de novela.
Entrar ali era como mudar de realidade —
uma espécie de isekai paulistano, só que sem magia digital:
a magia era real.

As portas se abriam e o cheiro vinha na hora: perfume, tecido, madeira encerada e o ar-condicionado que parecia soprar riqueza.

E então ele aparecia:
o ascensorista.

Um senhor de terno impecável, geralmente esverdeado, luvas brancas, sorriso cordial — tão elegante quanto um maître parisiense, mas muito mais carismático.
Segurava a porta de ferro, olhava para cima e anunciava, como narrador de rádio antiga:

— Terceiro andar… cama, mesa e banho.
Quarto andar… mobiliário.
Quinto andar… brinquedos.

E cada anúncio era uma promessa.
Cada andar, um universo cheio de possibilidades. E seus fabulosos e prestativos funcionários com elegante roupa verde, mantendo a identidade visual do grande magazine. 




A escada rolante: a montanha-russa da infância

Hoje banal.
Naquele tempo?
Tecnologia futurista.
Uma linha de montagem mágica que engolia crianças e devolvia adultos sorrindo.

O pequeno Vagner subia como quem vai para o espaço.
Sentia o coração bater.
As mãos suavam.
E a avó sorria — ela já tinha visto isso mil vezes, mas gostava de ver o menino se maravilhar.




A lanchonete e a invenção da “praça de alimentação”

Antes dos shoppings transformarem comida em sistema, o Mappin já sabia fazer a coisa acontecer.
Mesinhas impecáveis, talheres brilhando, garçons com educação britânica.
Sorvete de casquinha cremoso, perfeito.
Um caldo de cana ou um doce que parecia ter vindo de um reino distante.

Para uma criança da Vila Rio Branco, aquilo não era lanche.
Era glamour com gosto de infância.




O relógio do Mappin

Atravessando a rua, reinando em frente ao Teatro Municipal, estava ele:
o relógio que marcava a hora de São Paulo.

Imponente, elegante, com aquele ar de “eu sei que você olha para mim todos os dias”.
Ponto de encontro de casais, famílias, profissionais, fotógrafos — e, claro, da avó Anna e seu neto explorador.





O jingle que virou tatuagem da memória

Você lembra.
Todo mundo lembra.
É impossível esquecer.

🎶 “Mappin, venha correndo, Mappin, é a liquidação…” 🎶

Naquela época, jingle era marketing.
Hoje, virou patrimônio emocional.




Presentes com pedigree

Não se embrulhava um simples presente.
Se embrulhava status.
O papel verde, o logotipo inconfundível — abrir aquilo era receber um pedaço de São Paulo.

E para o garoto que vivia entre armazéns simples da periferia, aquilo era quase um passe para outro mundo:
um mundo onde tudo brilhava, cheirava bem, funcionava, sorria.




O que fica quando tudo passa

O Mappin faliu.
Fechou.
Virou fantasma arquitetônico, história contada entre cafés e saudades.

Mas…
Dentro do adulto Vagner, ele continua vivo.
Vive no garoto curiosíssimo que andou de elevador dos anos 1970,
se encantou com escadas rolantes,
comeu sorvete de casquinha,
e acreditou, com toda a força da inocência,
que aquele lugar era uma porta para o infinito.

E era.

Porque quem vive intensamente uma memória nunca perde o lugar — carrega o lugar dentro.

O Mappin quebrou.
Mas na sua lembrança?
Ele ainda está de portas abertas.

Com elevadorista sorrindo,
com brinquedos no quinto andar,
com o papel verde esperando embrulhar um sonho,
com Anna segurando sua mão,
com você olhando para cima como quem descobre o mundo.



Um dia o Mappin se foi, ganância de empresários, erros estratégicos, crise financeira e um legado da cultura paulistana do século XX, se foi, ficando somente memorias e lembranças. Que vão se apagando da mente humana.