sexta-feira, 16 de outubro de 2015

📜 Tio Queijo e o Reino da Fartura – Crônica de um Menino em visita na Quarta-Parada


 


📜 Tio Queijo e o Reino da Fartura – Crônica de um Menino em visita na Quarta-Parada

Por El Jefe • Bellacosa Mainframe Midnight Edition

Existem memórias que não são apenas lembranças — são fotos Polaroid gravadas na alma, cheirando a naftalina, pão fresco, queijo curado e infância pobre, mas rica no que importa.

Eu cresci numa família onde o dinheiro fazia o mesmo que os JOBs do mainframe:
às vezes rodava; às vezes travava; às vezes sumia na fila de execução.

Era uma vida em ciclos:
30% fartura, 70% aperto — mas sempre com amor o suficiente para ninguém perceber que faltava açúcar no armário ou feijão no saco. A família fazia sua mágica silenciosa. Nos piores momentos, as mãos se estendiam. A união era o “SAVERESTORE” da pobreza.



Mas existiam momentos mágicos, que expandiam o mundo como se eu tivesse entrado num CICS pela primeira vez:


✨ As visitas ao bisavô José no Curaçá
✨ As tardes na casa da Tia-avó Guiomar
✨ O aconchego dos avós Pedro e Anna
✨ O abraço ancestral dos bisavós Francisco e Isabel

✨ As caminhadas com o Tio Rubens

✨ As visitas do carteiro-telegrafista Tio Benício

✨ As idas à casa da avó Alzira em Guaianazes

✨ As visitas na casa da Tia Miriam

✨ As longas viagens a Taubaté para visitar a Tia Deise

✨ As jornadas ao interior para visitar o primo Claudio em Sorocaba e primo Eduardo por onde ele estivesse.

✨ A viagem mais longa, que o clã Wilson Bellacosa indo até o Paraná, estado natal de minha mãezinha

✨ Viagens rumo ao noroeste de São Paulo : São José do Rio Preto, Urupês e Catanduva

Só que havia um lugar que… ah… esse lugar era cheat code da vida.
Era o “God Mode” da infância pobre.
Era o paraíso dos pequenos.

Era a casa do nosso lendário tio-bisavô Arthur.
O homem que, para nós, parecia mais rico que o Mappin.



🏆 O parente lendário: Arthur Dudu, o ex-Palmeiras

Dudu — como os antigos o chamavam — era figura.
Ex-jogador do Palmeiras, dono de imobiliária, presidente de time de futsal lá na Quarta-Parada…
Para nós, crianças, ele era algo entre:

  • Papai Noel,

  • Willy Wonka,

  • e um grande patriarca romano da Mooca.

Ele tinha esse sorriso paternal, aqueles olhos bondosos que brilhavam quando a casa enchia de gente.

E a mesa…
ah, a mesa
ela era um capítulo à parte.



🧀 O “Tio Queijo” e o armário mágico da fartura

A gente o chamava — brincando, mas com amor — de Tio Queijo.
Porque foi lá, naquela casa grande no Belenzinho, que aprendi o que era fartura.

Ele abria a despensa como quem revela um segredo de família.
Um armário gigantesco, que para minhas mãos de menino parecia o cofre do Tio Patinhas:

  • queijos pendurados

  • salames curando

  • frios de todos os tipos

  • goiabadas, pães, manteiga

  • engradados de refrigerante e cerveja

  • e um perfume de fartura que a casa exalava como mil natais juntos

E nós, pequeninos, éramos reis por um dia.
Brincávamos pelos corredores, corríamos no quintal, comíamos como se nunca tivéssemos visto comida na vida — porque, às vezes, não tínhamos mesmo.

Era a prova viva de que riqueza não é dinheiro:
é partilha, mesa cheia, porta aberta.



👨‍👩‍👧‍👦 A constelação Bellacosa do lado leste da cidade

O núcleo familiar era uma constelação cheia de figuras únicas:

  • O bisavô Luigi, sábio e calmo, lá na Vila Alpina

  • Seu irmão, Arthur Dudu, o coração generoso do Belenzinho

  • O primo Dimas, ator de teatro, brilho e cultura na família

  • As irmãs Aracy e Guaraci sempre atenciosas

  • Tios, tias, agregados, compadres, vizinhos — todos parte de um grande dataset afetivo

Cada visita era um snapshot perfeito de alegria.


🎄 Conclusão: a infância pobre, mas rica – muito rica

Olhando agora, percebo como aquelas visitas foram indexadas no meu coração.
Em um tempo onde a vida se dividia entre o pouco e o quase nada,
aquele armário cheio de queijos parecia o paraíso.
O riso do tio, o cheiro da casa, a bagunça feliz dos primos…
tudo isso era a verdadeira riqueza que hoje entendo.

A infância foi humilde, sim.
Mas o amor — esse era abundante.
E nos dias em que íamos ao Belenzinho,
a pobreza tirava folga e deixava a gente brincar em paz.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Tadashii (正しい): O Kanji da Correção e da Justiça

 


Tadashii (正しい): O Kanji da Correção e da Justiça

Se você já começou a estudar japonês, provavelmente já se deparou com o kanji . Mas quando ele se transforma em 正しい (tadashii), o significado ganha vida e se conecta profundamente com a cultura e a linguagem japonesa. Hoje, no El Jefe, vamos explorar tudo sobre esse kanji: o que ele significa, curiosidades, dicas de uso e alguns detalhes interessantes para você impressionar seus amigos com conhecimento linguístico.

O que é Tadashii?

Tadashii (正しい) é um adjetivo japonês que significa “correto”, “justo”, “verdadeiro” ou “adequado”. Ele é usado tanto para situações objetivas — como respostas certas em uma prova — quanto para comportamentos éticos ou socialmente aceitos.

Exemplos de uso:

  • この答えは正しいです。
    Kono kotae wa tadashii desu.
    Esta resposta está correta.

  • 正しい道を歩む。
    Tadashii michi o ayumu.
    Seguir o caminho correto / justo.

Curiosidades sobre o Kanji 正

  1. Origem e forma: O kanji representa originalmente cinco traços que simbolizam contagem ou correção — como quando você risca linhas para contar. É curioso como esse kanji evoluiu de uma ideia de “contagem correta” para “correção” no sentido moral e factual.

  2. Pronúncias diferentes:

    • On’yomi (leitura chinesa): せい (sei) ou しょう (shō)

    • Kun’yomi (leitura japonesa): ただしい (tadashii)

  3. Expressões comuns:

    • 正直 (shōjiki) — honesto, sincero

    • 正義 (seigi) — justiça

    • 正月 (shōgatsu) — Ano Novo (literalmente “mês correto”)

Dicas de Uso

  • Verifique o contexto: “Tadashii” pode se referir a uma resposta correta, uma conduta ética ou até uma atitude adequada para a situação.

  • Combinação com partículas: É comum aparecer com a partícula です para formalidade: 正しいです (tadashii desu).

  • Como adjetivo: Lembre-se que tadashii é um adjetivo i-adjective, ou seja, termina em “i” e pode ser conjugado: 正しくない (tadashikunai, não é correto) ou 正しかった (tadashikatta, estava correto).

Comentário Cultural

O conceito de tadashii vai além do que está certo ou errado. Na cultura japonesa, muitas vezes ele está ligado à harmonia social e ao respeito às regras. Ou seja, algo “tadashii” é não só factual, mas também adequado ao contexto social. Isso reflete uma mentalidade de equilíbrio e respeito que é muito valorizada no Japão.

Detalhes que Enriquecem seu Estudo

  • Memorizar o kanji pode ser mais fácil se você pensar nele como uma contagem correta: cada traço marcado é um passo em direção à precisão.

  • Combine com outros kanjis para formar palavras poderosas:

    • 正解 (seikai) — resposta correta

    • 正体 (shōtai) — verdadeira identidade

    • 正当 (seitō) — legítimo, justo

Conclusão

Tadashii (正しい) não é apenas “correto” no sentido literal, mas um reflexo da busca japonesa por precisão, justiça e adequação social. Aprender esse kanji vai muito além da tradução: é entender uma pequena parte do pensamento japonês, e isso enriquece qualquer estudo de língua ou cultura.

Se você quiser dominar kanjis importantes, comece pelo 正 — ele é simples, versátil e cheio de significado!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

🔥 PARTE 3 — Pratos Quentes & Caseiros Otaku

 


🔥 PARTE 3 — Pratos Quentes & Caseiros Otaku

(Ou: o “JOB” que nunca dá ABEND, porque comida quente é o SPOOL da alma.)

Se no Japão a rua tem sua magia, é dentro de casa — no bentô, na cozinha pequena, no jantar simples — que acontece o verdadeiro commit de afeto.
São comidas que aparecem em animes não pela estética, mas porque representam lar, aconchego, cura e aquele warm start do coração.


1. Ramen – O “IPL da alma”

🍜 Quando o protagonista toma um golpe moral, sabe qual é o recovery? Ramen.

Origem: China → Japão, era Meiji.
Base: Caldo (shoyu, miso, tonkotsu), macarrão, ovo, nori, carne.
Por que aparece? Porque é barato, rápido e tem simbolismo:
“Você não está sozinho, coma direito.”
Animes: Naruto, Bleach, Tokyo Ghoul, Durarara!!
Easter Egg: Ichiraku Ramen existe de verdade em Fukuoka (e virou ponto otaku obrigatório).


2. Curry Japonês – O “batch job” perfeito: simples, confiável, delicioso

🍛 É o PF favorito do Japão — curry + arroz = throughput culinário.

Origem: Trazido pela Marinha Britânica no século XIX.
Textura: Espesso, doce-picante, com cenoura, batata e carne.
Por que é tão popular?
→ Fácil de fazer.
→ Serve muita gente (good for bulk loads).
Animes: Shokugeki no Soma, Detective Conan, Steins;Gate.
Curiosidade: Há escolas no Japão que têm curry toda sexta-feira — uma espécie de “Sexta do Deploy”.


3. Katsudon – O prato da VITÓRIA

🥩 Katsu = empanado. Don = tigela. Juntos: o buff +100 determinação.

Origem: Período Meiji.
Simbolismo:
→ “Katsu” soa como “vencer” → prato dos estudantes antes de prova.
Animes: Yuri!!! on Ice, My Hero Academia, Gintama.
Easter Egg: É o prato policial mais famoso do Japão — aparece nas cenas de interrogatório (o clichê do “confesse e te dou um katsudon”).


4. Gyūdon – O “JCL da fome”

🥣 Carne fatiada + arroz = a refeição de quem vive correndo.

Origem: Século XIX.
Sabor: Doce-salgado, com cebola no dashi.
Por que aparece? É literalmente o PF de trabalhador e estudante quebrado.
Animes: Food Wars, Death Note, Silver Spoon.
Curiosidade: Yoshinoya e Sukiya são rivais tão fortes quanto Quadra B vs Quadra C no CECAP.


5. Udon – O macarrão “kernel mode”

🍜 Grossão, macio, reconfortante — tipo abraço quente de vó.

Origem: China → Japão, século IX.
Destaque: Caldo leve, macarrão espesso.
Animes: Boruto, Hanasaku Iroha, Ristorante Paradiso.
Comentário Bellacosa: Slurp barulhento é cultural. No Brasil parece feio. No Japão significa “tô feliz”.


6. Oyakodon – O prato com o nome mais estranho

🐔 Literalmente “Tigela Pai-e-Filho” (frango + ovo). Japão sendo Japão.

Origem: Século XIX.
Ingredientes: Frango, cebola, ovo cremoso sobre arroz.
Simbolismo:
→ Conforto, família, cuidado.
Animes: Shokugeki no Soma, Lucky Star.
Easter Egg: No mundo otaku, é meme desde sempre por causa do nome.


7. Nikujaga – O prato que toda mãe japonesa tem no repertório

🥔 Carne ensopada com batata. O “feijão com arroz” do Japão.

Origem: Inspirado no beef stew britânico.
Sabor: Doce-salgado, suave, nostálgico.
Animes: Clannad, March Comes in Like a Lion, Anohana.
Curiosidade: É considerado teste de “boa esposa” nos dramas antigos — cringe, mas culturalmente real.


8. Tamagoyaki – O omelete OTIMIZADO

🍳 Camadas enroladas de ovo. Tão bonito que parece editado no Photoshop.

Origem: Século XVII.
Uso: Bentô, cafés da manhã, sushi.
Animes: Bungo Stray Dogs, Demon Slayer, Ghibli em geral.
Easter Egg: Em Ghibli, tamagoyaki sempre aparece quando o protagonista está prestes a virar gente grande.


9. Sukiyaki – O prato das festas e encontros importantes

🥘 Carnes finas cozidas à mesa, molho doce, vegetais e tofu.

Origem: Era Edo.
Simbolismo: Reunião, amizade, celebração.
Animes: Working!!, Ranma ½, Fruits Basket.
Comentário: É quase uma feijoada japonesa — não pelo sabor, mas pelo clima social.


10. Oden – O “buffer quente” do inverno japonês

🍢 Rabanete, ovo, tofu, konnyaku, tudo nadando num caldo quente e suave.

Origem: Século XIV.
Sabor: Leve, reconfortante, perfeito pro frio.
Animes: One Piece, Tokyo Revengers, Mob Psycho 100.
Easter Egg: Luffy ama oden — e quem não ama?


11. Bento Caseiro – O pacote .ZIP da comida japonesa

🍱 Tudo organizado, fofo e pensado com carinho — parece JCL bem comentado.

Origem: Século XIII.
Por que é especial nos animes?
→ Demonstra amor ou cuidado.
→ Mostra personalidade (bentôs desastrados são clássicos).
Animes: Kimi ni Todoke, Tonikawa, Your Name.


12. Miso Soup – O “IPL nutritivo” diário

🥣 Sopa de pasta de soja fermentada. Simples, mas identitária.

Origem: Século VIII.
Importância: Presença obrigatória no café da manhã japonês.
Animes: Barakamon, Way of the Househusband, Angel Beats.


13. Nabe (Hot Pot) – Quando junta todo mundo no mesmo caldeirão

🍲 O prato social definitivo.

Origem: Antigo Japão rural.
Função: Aquece o corpo e a relação entre personagens.
Animes: Yuru Camp, Haikyuu!!, Kuroko no Basket.
Easter Egg: Episódios de nabe geralmente fazem o fandom shippar casais.


14. Okonomiyaki – A “panqueca que aceita parâmetros”

🥞 “Okonomi” = do jeito que quiser. “Yaki” = grelhar.

Origem: Hiroshima e Osaka (rivalidade eterna).
Ingredientes: Repolho, massa, carne, queijo, frutos do mar.
Animes: Shokugeki no Soma, Ranma ½, Silver Spoon.
Curiosidade: Hiroshima e Osaka se odeiam por causa da receita — tipo briga de SYS1 e SYS2.


15. Tonjiru – A sopa reforçada dos trabalhadores

🥩 Miso soup turbinada com carne de porco e legumes.

Origem: Pós-guerra.
Sabor: Forte, quente, sustenta mesmo.
Animes: Laid-Back Camp, Ghibli.


domingo, 6 de setembro de 2015

📜 A Latrina de Ibitinga — O Vilão Final do Arc Rural

 


📜 A Latrina de Ibitinga — O Vilão Final do Arc Rural
Ao estilo Bellacosa Mainframe, para o glorioso El Jefe Midnight Lunch.


Ah, Ibitinga
Terra mágica das tanajuras crocantes, do sítio encantado, onde o fusquinha vermelho desafiando estradas sem pavimento, no barro, com buracos, com poeira, onde a comida do forno a lenha tinha gosto de abraço de avó, onde os vaga-lumes piscavam como LEDs de placa-mãe iluminando a noite rural.

Ali, entre galos orgulhosos, galinhas tagarelas, pintainhos confusos e frutas colhidas no pé, o coração da criança pulsava mil aventuras por minuto.
Mas como todo bom enredo — seja anime, HQ, novela mexicana ou crônica mainframe — sempre existe um vilão.

E naquele sítio o vilão tinha nome, cheiro, presença e uma arquitetura digna de Silent Hill Rural Edition:

💀 A Latrina.



🚪 A Cabine do Terror em Madeira Duvidosa

A latrina de Ibitinga era uma estrutura icônica:
uma casinha de madeira simples, meio torta, feita com tábuas que rangiam como portas de dungeon mal lubrificadas.

Ali, no meio do cafezal, parecia um boss final aguardando a vítima entrar:

“Você precisa enfrentar o medo para liberar o buffer interno.”

Podia ter vaga-lume, grilo, galinha, até o galo cantando sinfonias matinais…
Mas pisou na porta da latrina: reset emocional.



🕳️ A Fossa Abissal

A parte inferior da latrina era uma fossa funda, negra, úmida, fedida, viva.

Um verdadeiro poço das trevas, um buraco de RPG com level 99 de toxicidade.
Embaixo, borbulhando, estava o inferno biológico:

O Abismo da Merda.

Se Dante Alighieri tivesse visitado Ibitinga antes de escrever A Divina Comédia,
teria acrescentado esse círculo do inferno, com certeza.

E, sobre esse abismo, sustentando a integridade da missão fisiológica, havia:

🪵 Duas tábuas.

Só isso.
Duas tábuas velhas.
Passadas, empenadas, talvez carcomidas.
Tábuas que pareciam olhar pra você e sussurrar:

“Vai cair, campeão.”



🧎‍♂️ O Ninja Rural: Operação Cocorô

Para executar o famoso número 2, não era simples sentar e contemplar a vida.
Era uma operação de guerra:

  1. Entrar.

  2. Fechar a porta torta.

  3. Ajustar os pés sobre as tábuas suspeitas.

  4. Abaixar-se cuidadosamente.

  5. Encontrar equilíbrio zen.

  6. Rezar para todas as divindades conhecidas e desconhecidas.

  7. Executar o processo sem tremer as pernas.

  8. Torcer para que nada caia (incluindo você).

Era literalmente ficar de cócoras, como um ninja do esgoto, a centímetros de despencar no buraco existencial.

E o medo era real.
Muito real.

Não importava que nunca tivesse acontecido com ninguém.
Na cabeça da criança, havia sempre a possibilidade de:

BREAKPOINT: TÁBUA QUEBRA
FATAL ERROR: MERGULHO EM MERDA
GAME OVER



🎉 O Duplo Prazer da Sobrevivência

O ato era físico, claro.
Mas a vitória era psicológica.
Ao sair da latrina, duas coisas aconteciam ao mesmo tempo:

  1. A alma ficava leve.

  2. O coração celebrava: “Eu sobrevivi!”

Era quase um rito tribal.
Uma iniciação rural.
Um achievement desbloqueado:

“Escapei da Fossa +10 de coragem.”

E, depois disso, tudo voltava à magia:
os grilos, as cigarras, o brilho dos vaga-lumes, as galinhas em fila indiana, a charrete na madrugada com lampião tremulando, o colchão de palha fazendo crec crec, o céu estrelado que mais parecia BIOS gráfico da natureza.

Sim, Ibitinga era quente.
Quente na memória, no coração e no afeto.

Mas nada — absolutamente nada — supera a emoção de ter enfrentado…

A Latrina Maldita do Sítio.


terça-feira, 1 de setembro de 2015

📼 El Jefe Midnight Lunch — Release 1970: ABEND Susto RC=911 🔥💾

 


📼 El Jefe Midnight Lunch — Release 1970: ABEND Susto RC=911 🔥💾
Logs de um sobrevivente do botijão 13kg – Versão Bellacosa Mainframe


Ainda estamos nos anos 1970.
Uma década granulada, cor sépia Kodak, som de Chacrinha ecoando longe e cheiro de Kibon Chicabon derretendo no papel. Eu, pequeno Bellacosa, arquivo vivo em fita magnética, presente naquele sábado na casa de Douglas e sua esposa — amigos dos meus pais, gente boa, riso largo, casa cheia do tipo JES2 lotado em horário de pico.



Homens na mesa com cerveja gelada, mulheres no CICS da cozinha montando o jantar — transação constante, sem timeout.
E nós, as crianças, orbitando como tape drives inquietos, buscando petiscos, travessuras e qualquer oportunidade de rodar um job proibido.

Nada muito incomum.
Seria só mais um encontro normal, desses que o storage da memória arquiva e depois descarta por falta de espaço.



Mas aí aconteceu o evento PQP – Panic Queue Protocol.
E este sim ficou gravado com retenção permanente em HD emocional.


No auge do preparo da janta, o gás do botijão acabou.
Douglas — root user da residência — foi trocar o cilindro. Só que anos 1970 eram um sistema operacional sem patch de segurança, sem ITIL, sem NR nenhuma. Era plug and pray.

E no swap do botijão, a válvula de contenção falhou.

De repente:
gás pressurizado jorrando como um dump em tela verde.
Gritos. Correria. Jobs cancelados. Checkpoints ignorados.
O ambiente virou um SDSF com ABEND em massa.

Meu pai, por instinto, agarrou Vivi e correu para o quintal.
Minha mãe, movida pelo mesmo desespero mas outro raciocínio, me puxou e correu para dentro da casa. Sim, para dentro.

E aqui entra o detalhe arquitetônico brasileiro:
Casa brasileira é máquina de segurança física nível RACF ultra restritivo.
Grades, fechaduras, ferrolhos, trancas.
Tudo pensado para impedir entrada — e sem rollback para saída.



Minha mãe me levou, na melhor das intenções, para uma armadilha perfeita.
Se o gás acendesse… nós dois viraríamos job zombie, sem saída, presos atrás de barras de aço. Um "halt and catch fire" literal.

Mas como você percebe — console ainda online, sessão ativa — o pior não aconteceu.
O botijão era pequeno, 13kg, liberou o inferno por uns 10 minutos, talvez menos, talvez mais — criança conta tempo como CPU sem relógio.
Quando a pressão diminuiu e o risco passou, meu pai entrou, nos resgatou do quarto como herói com override de segurança.

E como era 1970 —
não teve psicólogo, não teve auditoria de segurança, não teve SMS de incidente crítico.



Pegaram outro botijão. Continuaram a cozinhar.
E no final, jantamos todos juntos, rindo, reconstruindo o dump daquele quase-desastre.
Uma história que quase se perdeu no spool da vida, se não fosse pelo evento P-Q-P estampado na memória ROM da infância.

E cá estou.
Bit sobrevivente, bloco íntegro, registro ativo.



Vivo para contar.
E jantar outra vez.

🔥🐇💾
Bellacosa — log registrado, commit efetuado, RC=0 (por milímetros).

sábado, 15 de agosto de 2015

🌸 Japão em Anime: Do Futuro à Rebeldia, da Juventude à Alma Urbana

 


🌸 Japão em Anime: Do Futuro à Rebeldia, da Juventude à Alma Urbana

Por ElJefe / Bellacosa Mainframe – Cultura Pop e Sociedade Japonesa


🤖 Astro Boy – O Menino Robô que Moldou a Sociedade

Criador: Osamu Tezuka
Ano: 1952 (mangá), 1963 (anime TV)
Sinopse: Em um Japão pós-guerra, o cientista Tenma cria um robô com aparência humana, chamado Atom, para substituir seu filho falecido. Atom tem inteligência, sentimentos e senso de justiça.

Impacto social:

  • Inspirou jovens a se interessarem por ciência, engenharia e robótica.

  • Introduziu temas de ética e responsabilidade social, debatendo direitos, tecnologia e coexistência.

  • Popularizou o estilo visual de grandes olhos no anime e consolidou o mangá/anime como cultura mainstream.

Legado:

  • Pavimentou o caminho para personagens de influência cultural como Doraemon, Sailor Moon e Naruto.

  • Tornou-se um ícone internacional, representando tecnologia, moral e esperança japonesa.

Curiosidade Bellacosa:
O mangá original abordava temas pesados como discriminação e corrupção corporativa, décadas antes de tais debates se tornarem globais.


🔥 Yankii – Os Delinquentes de Coração Nobre

O que é:

  • “Yankii” designa o delinquente escolar ou urbano com estilo próprio, atitude rebelde e código de honra.

  • Surgiu nas décadas de 70-80, como reação à rigidez social e urbanização acelerada.

Estética:

  • Cabelo descolorido, uniformes alterados, jaquetas longas, postura desafiadora, motos barulhentas.

  • Mais que moda: protesto silencioso contra conformismo.

Espírito Yankii:

  • Violência com honra: luta por justiça, protege amigos, segue códigos próprios.

Exemplos em anime:

  • Yu Yu Hakusho – Yusuke Urameshi

  • Tokyo Revengers – Takemichi Hanagaki

  • Great Teacher Onizuka – Eikichi Onizuka

  • Slam Dunk – Hanamichi Sakuragi

Curiosidades Bellacosa:

  • Inspirados nos bōsōzoku (gangues de motoqueiros).

  • Fala rude, gírias e sotaque diferenciam o Yankii do japonês educado (keigo).

Reflexão:
O Yankii é a válvula de escape da alma japonesa: desafia regras, mas mantém honra e moral — símbolo do espírito humano em meio ao conformismo.


🌸 Nana – Juventude, Moda e Emoção Urbana

Criadora: Ai Yazawa
Ano: 2000 (mangá), 2006 (anime)
Gênero: Drama, romance, slice-of-life, música

Sinopse sem spoiler:
Dois jovens mulheres chamadas Nana se cruzam em Tóquio, buscando independência, amor e realização pessoal, enfrentando os desafios da vida urbana e das relações humanas.

Contexto social:

  • Reflete jovens adultas migrando para grandes cidades, equilibrando carreira, amizade e amor.

  • Explora a mudança dos papéis femininos e a busca por independência no Japão moderno.

  • Mostra pressões sociais e desafios emocionais da vida urbana.

Impacto cultural:

  • Moda: inspirou tendências de cabelo, roupas e estilo punk chic.

  • Música: trilha sonora e bandas fictícias influenciaram gosto musical jovem.

  • Identificação emocional: debate sobre independência feminina, amizades e escolhas de vida.

Curiosidades Bellacosa:

  • Considerado marco do gênero josei, voltado a mulheres jovens adultas.

  • Influenciou comportamento urbano e tendências culturais no Japão dos anos 2000.


🧩 Conexão Entre os Três Fenômenos

TemaAstro BoyYankiiNana
ContextoPós-guerra, reconstruçãoUrbanização, rebeldia juvenilVida urbana, independência feminina
SímboloTecnologia e éticaLiberdade com honraJuventude, amizade e estilo
Impacto socialInspiração científica e éticaExpressão cultural e contestação socialModa, música e reflexão emocional
Legado culturalBase do anime modernoEstilo e comportamento juvenilIdentificação feminina e urbanismo emocional

Reflexão Bellacosa:
O Japão em anime não é apenas fantasia. É um espelho histórico e social:

  • Do futurismo e ética tecnológica de Atom,

  • À rebeldia e liberdade do Yankii,

  • À introspecção urbana e emocional de Nana.

Cada personagem e movimento reflete, critica e inspira a sociedade japonesa em diferentes épocas, mostrando que o anime é mais que entretenimento: é cultura viva.

🌌 O Primeiro Programa no Mainframe: A Jornada do Padawan na Galáxia do COBOL

 


🌌 O Primeiro Programa no Mainframe: A Jornada do Padawan na Galáxia do COBOL

Por Vagner Bellacosa — Bellacosa Mainframe Chronicles


“Antes de um Jedi empunhar seu sabre de luz, ele aprende a sentir a Força. No Mainframe, antes de rodar um programa, o Padawan precisa aprender a sentir o zumbido do MVS.”
— Mestre Bellacosa


🚀 Capítulo 1: O Despertar do Terminal

Todo Jedi Mainframe começa no TSO/ISPF, o templo sagrado onde o código nasce.
Aqui, não há cliques, não há mouse, só o poder dos comandos.

🌀 Dica do Mestre:
TSO significa Time Sharing Option. É o modo como o z/OS permite que vários usuários interajam simultaneamente com o sistema.
O ISPF (Interactive System Productivity Facility) é o ambiente gráfico textual — sim, gráfico de ASCII, mas ainda assim — onde tudo acontece.

Para começar:

  1. Entre no TSO (geralmente com um logon ID e senha).

  2. Ao ver o menu do ISPF, escolha a opção 2 – Edit.

  3. Crie seu primeiro dataset para o código-fonte:

    CREATE 'USERID.COBOL.SOURCE'

    (substitua USERID pelo seu logon)


🧙‍♂️ Capítulo 2: Invocando o Espírito do COBOL

Dentro do dataset USERID.COBOL.SOURCE, vamos escrever o primeiro feitiço:

IDENTIFICATION DIVISION. PROGRAM-ID. HELLOMF. PROCEDURE DIVISION. DISPLAY 'HELLO MAINFRAME WORLD!'. STOP RUN.

💡 Curiosidade Bellacosa:
O primeiro programa COBOL Hello World rodou em 1959. Desde então, milhões de “HELLOs” ecoaram nos datacenters do mundo — inclusive em satélites e sistemas bancários.

🧩 Easter Egg Técnico:
Se você escrever DISPLAY 'HELLO WORLD' sem o ponto final (.), o compilador pode engasgar!
No COBOL, o ponto é sagrado — é o ponto final das sentenças, não só da gramática. 😉


🧰 Capítulo 3: O Ritual do JCL

Nenhum programa vive sem o JCL (Job Control Language) — o pergaminho que instrui o Mainframe a compilar e executar seu código.

Crie outro dataset:

CREATE 'USERID.JCL'

Agora o job:

//HELLOJOB JOB 'COBOL TEST',CLASS=A,MSGCLASS=X,NOTIFY=&SYSUID //STEP1 EXEC PGM=IGYCRCTL //COBOL.SYSIN DD DSN=USERID.COBOL.SOURCE(HELLOMF),DISP=SHR //COBOL.SYSLIN DD DSN=&&LOADSET,UNIT=VIO,SPACE=(CYL,(1,1)),DISP=(MOD,PASS) //SYSOUT DD SYSOUT=* //SYSPRINT DD SYSOUT=* //STEP2 EXEC PGM=HELOWMF //STEPLIB DD DSN=USERID.LOADLIB,DISP=SHR //SYSOUT DD SYSOUT=*

⚙️ Explicando o feitiço:

  • JOB é o início da magia — identifica o job ao JES2, o oráculo do spool.

  • EXEC chama o compilador (IGYCRCTL) e depois o programa.

  • SYSOUT=* manda a saída para o spool, visível com o comando SDSF ou OUTLIST.

🪄 Easter Egg Jedi:
O compilador COBOL chama o “IGYCRCTL” (IBM Guy’s Compiler Routine Control) — sim, o “IGY” vem da IBM Guy, apelido do engenheiro que escreveu o protótipo original em 1959 (piada interna).


🖥️ Capítulo 4: Invocando o Spool

Após submeter o job com o comando SUBMIT, use:

=SD

ou

SDSF -> ST (Status)

Para ver o job rodando. Quando terminar, veja a saída (? ou S).

Se tudo der certo, o spool mostrará:

HELLO MAINFRAME WORLD!

🎉 Parabéns, Padawan!
Você acaba de executar seu primeiro programa em um dos sistemas mais poderosos e estáveis do planeta.


🧭 Capítulo 5: As Trilhas do Aprendizado

Agora que sentiu o gosto da Força, siga o mapa dos próximos passos:

NívelMissãoFerramentaDica do Mestre
🥉 InicianteCriar programas COBOL simplesISPF EditSempre compile com atenção às mensagens IGY*
🥈 AprendizManipular VSAMIDCAMS + COBOLAprenda REDEFINES e FILE STATUS
🥇 CavaleiroCriar programas CICSCEDA + BMSDomine COMMAREA e LINKAGE SECTION
🧙 MestreCriar Web Services no z/OSCICS Web Services / z/OS ConnectCOBOL + JSON = futuro clássico

Curiosidade Bellacosa:

  • O z/OS ainda roda código compilado há 40 anos — sim, o seu HELLOMF pode rodar em 2065 se bem armazenado.

  • Em alguns bancos, a política é: “nunca mexa em programa que funciona há mais de 20 anos” — o código é tratado como reliquia sagrada.

  • O STOP RUN. equivale ao “May the Force be with you” do COBOL — encerra o ciclo do programa com honra.


🌠 Conclusão: O Caminho do Código Antigo

O Mainframe não é um sistema — é uma filosofia.
Cada tela azul do ISPF é um portal para o passado, e cada DISPLAY é um elo com o futuro.
Ser um Padawan Mainframe é aprender que, antes de tudo, o poder está na paciência, na curiosidade e no amor por sistemas que nunca morrem.