🎃👻 El Jefe Midnight Lunch – Bellacosa Mainframe Especial Halloween
Log nº 006 — “O IAHAAAAAAAAAAA da Estrada Morta”
Halloween chegou, e como manda o JCL cultural, é tempo de puxar do arquivo morto aquelas histórias que deixam o SYSOUT tremendo, que fazem o dataset da alma fragmentar, que instalam no peito um ABEND UFFF de pura geladeira na espinha.
Pois hoje eu revisito uma lembrança real.
Nada de lenda urbana, nada de filme de terror italiano mal dublado.
Eu estava lá.
Eu ouvi.
Eu tremi.
E até hoje não sabemos o que foi.
📍Contexto: década de 1970
Antes do Dandan nascer, quando a unidade de produção familiar tinha apenas 4 membros — meu pai, minha mãe, minha irmã e este pequeno Bellacosa que vos escreve.
Meu pai, claro, era o cavaleiro da estrada, volante de caminhão, de ônibus, de táxi e principalmente de nosso Fusca vermelho, o cão fiel de batalha, todo remendado mas sempre indo… até aquela noite.
Rodovia provavelmente era a Washington Luiz, quando interior ainda era silêncio e pasto infinito, pista sem movimento e nenhuma base de apoio, nada de SOS, nada SAT, nada celular.
Era tudo no modo raiz, olho no farol e fé no carburador.
Mas o velho Fusquinha, nessa noite — parou.
Simples assim.
Morreu no escuro mais preto que alma de político.
🌑 CENÁRIO DE TERROR
Meus pais empurram o carro para o acostamento.
Tampa do motor aberta.
Lanterna fraca, quase sem pilha — um fio de luz impotente tentando domar um universo de trevas.
Meu pai mexe no motor.
Minha mãe segura a lanterna.
Nós, duas crianças, dentro do carro, mudinhas, duras, coração batendo mais forte que pistão de Opala SS.
Nenhum carro.
Nenhuma casa.
Nenhum poste de luz.
Só o vento e o breu.
E então, do absolutamente nada — o grito.
— IAHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Um urro rasgado.
Animal?
Humano?
Morto-vivo?
ET da Dutra?
Não sabemos.
Gelou a espinha.
Meu cérebro infantil formatou no mesmo instante.
Olhei pro rosto dos adultos e vi algo terrível: eles também estavam com medo.
E quando adulto treme — a criança implode.
Silêncio.
Depois de alguns minutos…
IAHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Mais alto.
Mais perto.
E assim madrugada adentro — o grito vinha, sumia, voltava.
Nós quatro encolhidos dentro de um carro morto no fim do mundo.
Sem saber se dali sairíamos a pé… ou carregados.
🌅 SALVAÇÃO
Só quando o sol tocou o asfalto é que um caminhoneiro apareceu.
Meu pai pegou carona, voltou com guincho, o Fusquinha foi remendado num posto de beira de estrada e seguimos viagem.
Vivos.
Inteiros.
Mas com a alma marcada como fita magnética arranhada.
Porque o IAHAAAAAAAAAAAAA
até hoje ecoa.
Não era rádio.
Não era bicho conhecido.
Não era gente pedindo socorro.
Era alguma coisa.
Talvez perdida entre mundos.
Talvez só querendo companhia.
Ou talvez — e essa é a versão que prefiro —
foi o Halloween que chegou adiantado naquela madrugada.
Bellacosa, encerrando transmissão com o farol apagando, motor engasgando, e o grito distante ainda sussurrando no spool mental:
IAHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA…


