✨ Bem-vindo ao meu espaço! ✨ Este blog é o diário de um otaku apaixonado por animes, tecnologia de mainframe e viagens. Cada entrada é uma mistura única: relatos de viagem com fotos, filmes, links, artigos e desenhos, sempre buscando enriquecer a experiência de quem lê. Sou quase um turista profissional: adoro dormir em uma cama diferente, acordar em um lugar novo e registrar tudo com minha câmera sempre à mão. Entre uma viagem e outra, compartilho também reflexões sobre cultura otaku/animes
domingo, 11 de fevereiro de 2018
Carnaval de Itatiba foi invadido pelos Demônios da Benjamin
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
🚂 Sorocaba/1982 — Arquivo de Trilhos, Banheiros Selvatizados & Carnaval Infantil
🚂 Sorocaba/1982 — Arquivo de Trilhos, Banheiros Selvatizados & Carnaval Infantil
(Tape Load > /memories/1982/sorocaba_train_trip.bin)
Algumas lembranças não vêm em HD — mas vêm quentes.
Vêm com cheiro de diesel, com vento na janela e com aquele tec-tec hipnótico que só trilho antigo sabe fazer.
1982.
Meu pai tinha o velho fusca azul, fiel e barulhento.
Mas naquele carnaval decidimos fazer algo maior — ir de trem até Sorocaba.
Sim, aventura ferroviária pura, raiz, sem tutorial, sem Google Maps, apenas alma e trilhos.
Lembro da chegada à Estação da Luz, imponência de cartão-postal.
Dali, seguimos rumo à plataforma da Sorocabana, para embarcar no trem da antiga Sorocabana, já sob comando da Fepasa — gigante paulista dos tempos em que ferrovia ainda era mapa vivo no Estado.
A viagem foi mais do que transporte — foi rito de passagem.
A janela era cinema.
O trilho era trilha sonora.
E eu, garoto encantado, absorvia tudo como backup eterno na cabeça.
E tinha o carrinho de guloseimas, claro.
Pipoca estalando, refrigerante de garrafa pesada, biscoito de polvilho, amendoim torrado com cheiro que invadia vagão inteiro.
A experiência completa.
Mas a parte que o tempo nunca apagou —
o banheiro da estação.
Aquele banheiro ferroviário raiz, digno de paleontologia social brasileira:
Sem privada.
Duas plataformas para apoiar os pés, agachar e rezar para a estabilidade.
Se eu não estivesse surpreendido, vem a maior de todas as surpresas, daquelas de cair o queixo. Tínhamos ido ao banheiro da estação, mas nada nos surpreenderia mais que o banheiro no vagão de passageiros do trem.
Aquela cabine minuscula, assento plástico e a privada, melhor dizendo vaso sanitário era metálica com um estranho botão na lateral.
E o mais surreal — a descarga despejava o nosso serviço direto nos trilhos, sem filtro, sem poesia, sem engenharia sueca.
Você apertava, um estanho barulho e lá ia o passado direto para os dormentes, em movimento.
Selvagem. Primitivo. E, para uma criança de 7-8 anos, incrivelmente fascinante.
Foi longa a viagem, extensa como filme épico.
Mas eu não queria que terminasse.
Em Sorocaba, as memórias são borradas como foto velha, mas eu ainda sinto o riso, a correria, a liberdade infantil com as primas — filhas do primo Claudio e sua esposa Marli.
E o ápice do roteiro: Carnaval de rua.
Sambódromo improvisado, escola na avenida, crianças farreando, os primos brincando: Ana Claudia, Vagner, Giovana e Viviane, a fantasia brilhando na noite quente do interior.
Pulso cultural batendo forte, suor, serpentina e alegria solta como confete ao vento.
E os pequenos bebês Daniel e Claudio presos aos colos nada puderam fazer...
Sorocaba, trem, trilhos, banheiro bárbaro e carnaval —
é assim que guardo 1982 no peito.
Não é sobre luxo, nem sobre conforto: é sobre primeira aventura.
Porque crescer é isso —
de vez em quando o Fusca fica na garagem,
e a gente embarca naquilo que ainda não sabe explicar,
mas nunca mais esquece.
PS: Este adendo é coisa da Vivi, que lembrou de um acidente curioso nesta viagem, onde meu pai foi querer testar suas habilidades sobre patins, acabou batendo a cabeça no muro e um furo dolorido com um prego escondido.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
📸 O Pequeno Vendedor de Salgadinhos & O Carnaval Mítico de Pirassununga (1983)
🌙 El Jefe Midnight Lunch apresenta:
📸 O Pequeno Vendedor de Salgadinhos & O Carnaval Mítico de Pirassununga (1983)
— Uma crônica Bellacosa Mainframe sobre liberdade, samba, coxinhas e destino —
Existem histórias que chegam para mim como um dump do JES2: cheio de linhas caóticas, mensagens truncadas, e no meio da bagunça... um registro vital, um checkpoint da vida.
Pois bem: 1983, Pirassununga. Brasil em final de ditadura, moralismo fervendo, e um personagem que eu jamais esqueceria — Bene.
🏳️🌈 Bene, a entidade de Pirassununga
Bene não era apenas uma pessoa. Era praticamente um CICS Transaction ambulante:
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Rápido,
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Direto,
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Chamado por todos,
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E impossível de ignorar.
Em plena época de conservadorismo sufocante, ele era um homossexual efeminado assumido, colorido por natureza, vida e espontaneidade. Sambista nato, porta-bandeira de uma escola paulistana importada para o interior só para “causar”. Bene era aquilo que o Japão chamaria depois de ikemen invertido: exuberância em vez de contensão.
Ele era o próprio “easter-egg” vivo da cidade — algo que ninguém esperava ver num ambiente tão fechado… mas que todo mundo secretamente respeitava, porque Bene fazia a festa acontecer.
Nota de rodapé Pirassununga é uma cidade famosa pela sua base da Força Area, a Esquadrilha da Fumaça e milicos para todos os lados, a existência do Bene era uma prova da força divina e santo forte do rapaz. Imagine que ele escapou ileso aos porões do DOI-CODE sem nunca entrar nos radares desse povo louco.
📸 E onde entra a família Bellacosa?
Como sempre: onde há uma confusão, há um Bellacosa sendo puxado para dentro.
Numa daquelas noites aleatórias em que tudo parecia quieto demais para a década de 80, Bene aparece com um pedido insolito, quase divino:
“Ô, seu Wilson Bellacosa… cê não quer fazer a reportagem fotográfica do Carnaval?”
A promessa de dinheiro brilhou como painel do 3270 quando o VTAM finalmente conecta.
E lá vai meu pai — fotógrafo profissional, retratista raiz — abrir a temporada oficial de fotos do Carnaval de Pirassununga 1983.
Mas, como sabemos, ninguém da família Bellacosa trabalha sozinho. O caos sempre é distribuído como JCL mal comentado.
🥟 A vó Anna, pipeline master do destino
A vó Anna, grande arquiteta da vida Bellacosa, observando a inquietação do meu pai, irresponsabilidade para governar a família, incrível capacidade de ferrar com tudo, fez o que toda matriarca visionária faz:
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Pegou minha mãe pela mão
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Levou-a para a igreja
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Colocou-a num curso de fabricação de salgados para festas
E pronto: nasceu um microempreendimento familiar antes mesmo do MEI existir.
Coxinhas, risoles, croquetes, tudo gerado em batch noturno diretamente na cozinha da casa.
👦 E eu, pequeno padawan?
Promovido — sem concurso público — a vendedor de salgadinhos.
Melhor dizer, convocado, alistado e inscrito nessa operação especial. Sem direito a fuga...
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Meu pai no meio da rua fotografando tudo, parecendo repórter oficial do Globo Repórter: edição folia interiorana
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Minha mãe numa calçada vendendo os salgados
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Eu na outra calçada, um mini-hardware humano processando vendas, troco e clientela com throughput digno de MQSeries
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Vivi e Dandan… off-line, sem escalonamento naquela missão
Esse foi o primeiro job remunerado do jovem Bellacosa.
O JOB001, o início de uma longa sequência de execuções bem-sucedidas, cada uma com sua história, suas exceções e suas mensagens $HASP aleatórias da vida.
🎭 O Carnaval que me iniciou no “modo trabalhador”
Entre um sambista, um fotógrafo, uma cozinheira recém-formada, uma matriarca estrategista e eu — o pequeno vendedor — nasceu o primeiro workflow profissional Bellacosa.
E tudo isso no meio de:
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Fantasias improvisadas
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Sambas ecoando pela praça
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O povo celebrando a liberdade recém permitida era final da ditadura
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Bene, radiante, reinando como supernova em meio à poeira conservadora
🌟 Easter-egg que só quem é da época sabe
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Em 1983, várias cidades pequenas ainda proibiam travestis de desfilar — Pirassununga permitiu Bene sem pestanejar.
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As fotos do meu pai se tornaram parte da memória oral da cidade — muita gente ainda lembra e guarda estas relíquias de família.
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A polícia olhava torto, mas deixava passar. Carnaval é exceção até para militar.
📌 Moral do episódio (versão Bellacosa Mainframe)
Às vezes, a vida me coloca para vender coxinhas no meio da rua, achando que é só um bico…
Mas ali nasceu o meu senso de:
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trabalho,
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responsabilidade,
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criatividade,
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improviso,
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e principalmente… resiliência.
E tudo isso graças a Bene — o trigger humano — que, só por existir livre, bagunçou positivamente a história da sua família.