quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

🌱 Usagi Drop — A Doçura e o Peso de Ser Adulto



 🌱 Usagi Drop — A Doçura e o Peso de Ser Adulto

Alguns animes não gritam, não têm batalhas, nem poderes místicos — apenas histórias humanas contadas com delicadeza.
Usagi Drop é um desses raros retratos da vida que fazem a alma respirar devagar.
Um slice of life sobre amadurecimento, amor silencioso e a inesperada beleza de cuidar de alguém.




📖 Sinopse

Daikichi Kawachi, um homem solteiro de 30 anos, descobre que seu falecido avô deixou uma filha ilegítima de 6 anos — a pequena Rin.
Ignorada pela família, a menina desperta em Daikichi algo que ele mesmo desconhecia: a vontade de proteger, amar e crescer.
Ele decide criá-la, e o que começa como uma decisão impulsiva se transforma em uma jornada sobre paternidade, responsabilidade e ternura.

Em cada manhã apressada e cada lanche compartilhado, Usagi Drop revela que o amor mais puro nasce das pequenas rotinas.




👨‍👧 Personagens Principais

  • Daikichi Kawachi — Um adulto comum, trabalhador, sincero e um pouco perdido. Aprende que ser responsável é também aprender a ser vulnerável.

  • Rin Kaga — Uma criança madura e reservada, mas cheia de sensibilidade. Sua presença transforma o mundo de Daikichi.

  • Kouki & Yukari Nitani — Mãe e filho que se tornam espelhos e apoio na nova vida de Daikichi e Rin.


🧠 Mensagem Filosófica

Usagi Drop não é sobre a paternidade em si — é sobre crescer através do amor.
A série desmonta o mito do adulto completo, mostrando que maturidade é algo que se aprende ao cuidar de outro ser humano.
No fundo, é uma história sobre encontrar sentido na simplicidade — um lembrete de que a vida não precisa ser grandiosa para ser bonita.


🎬 Ficha Técnica

  • Autor: Yumi Unita

  • Ano de Lançamento: 2011

  • Estúdio: Production I.G

  • Gênero: Slice of Life / Drama / Cotidiano

  • Episódios: 11


💡 Dicas Bellacosa

  • Repare nas cores suaves e na trilha sonora minimalista — cada acorde é uma extensão da serenidade de Rin.

  • É um anime perfeito para assistir em dias de chuva, acompanhado de chá ou café — o tipo de obra que abraça em silêncio.

  • Não espere drama exagerado: o impacto está nas entrelinhas, nos gestos e nas pausas.


🔍 Curiosidades

  • O mangá original tem um salto temporal polêmico, mas o anime encerra antes dessa parte — focando apenas na relação pura e paterna.

  • O título “Usagi Drop” (うさぎドロップ) faz alusão à leveza e à vulnerabilidade de Rin — como um pequeno coelho deixado aos cuidados de um adulto desajeitado.

  • A produção do estúdio Production I.G foi elogiada pela fidelidade emocional e pela estética aquarelada das cenas domésticas.


Reflexão Bellacosa

Em Usagi Drop, o herói não empunha espada — ele segura uma lancheira.
Não há batalhas épicas, apenas o esforço silencioso de acordar cedo, preparar o café e chegar a tempo na escola.
E é ali, entre os gestos cotidianos, que o anime nos mostra o que é amor real: aquele que não promete eternidade, mas presença.

Porque, às vezes, o ato mais revolucionário é simplesmente cuidar de alguém — e, nesse processo, descobrir quem você é.


Assista devagar. Sinta. E talvez perceba que, no fundo, todos nós temos uma pequena Rin dentro de nós — esperando ser acolhida.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

📸 O Pequeno Vendedor de Salgadinhos & O Carnaval Mítico de Pirassununga (1983)

 


🌙 El Jefe Midnight Lunch apresenta:
📸 O Pequeno Vendedor de Salgadinhos & O Carnaval Mítico de Pirassununga (1983)
Uma crônica Bellacosa Mainframe sobre liberdade, samba, coxinhas e destino


Existem histórias que chegam para mim como um dump do JES2: cheio de linhas caóticas, mensagens truncadas, e no meio da bagunça... um registro vital, um checkpoint da vida.
Pois bem: 1983, Pirassununga. Brasil em final de ditadura, moralismo fervendo, e um personagem que eu jamais esqueceria — Bene.



🏳️‍🌈 Bene, a entidade de Pirassununga

Bene não era apenas uma pessoa. Era praticamente um CICS Transaction ambulante:

  • Rápido,

  • Direto,

  • Chamado por todos,

  • E impossível de ignorar.

Em plena época de conservadorismo sufocante, ele era um homossexual efeminado assumido, colorido por natureza, vida e espontaneidade. Sambista nato, porta-bandeira de uma escola paulistana importada para o interior só para “causar”. Bene era aquilo que o Japão chamaria depois de ikemen invertido: exuberância em vez de contensão.

Ele era o próprio “easter-egg” vivo da cidade — algo que ninguém esperava ver num ambiente tão fechado… mas que todo mundo secretamente respeitava, porque Bene fazia a festa acontecer.

Nota de rodapé Pirassununga é uma cidade famosa pela sua base da Força Area, a Esquadrilha da Fumaça e milicos para todos os lados, a existência do Bene era uma prova da força divina e santo forte do rapaz. Imagine que ele escapou ileso aos porões do DOI-CODE sem nunca entrar nos radares desse povo louco.



📸 E onde entra a família Bellacosa?

Como sempre: onde há uma confusão, há um Bellacosa sendo puxado para dentro.

Numa daquelas noites aleatórias em que tudo parecia quieto demais para a década de 80, Bene aparece com um pedido insolito, quase divino:

“Ô, seu Wilson Bellacosa… cê não quer fazer a reportagem fotográfica do Carnaval?”

A promessa de dinheiro brilhou como painel do 3270 quando o VTAM finalmente conecta.
E lá vai meu pai — fotógrafo profissional, retratista raiz — abrir a temporada oficial de fotos do Carnaval de Pirassununga 1983.

Mas, como sabemos, ninguém da família Bellacosa trabalha sozinho. O caos sempre é distribuído como JCL mal comentado.



🥟 A vó Anna, pipeline master do destino

A vó Anna, grande arquiteta da vida Bellacosa, observando a inquietação do meu pai, irresponsabilidade para governar a família, incrível capacidade de ferrar com tudo, fez o que toda matriarca visionária faz:

  1. Pegou minha mãe pela mão

  2. Levou-a para a igreja

  3. Colocou-a num curso de fabricação de salgados para festas

E pronto: nasceu um microempreendimento familiar antes mesmo do MEI existir.
Coxinhas, risoles, croquetes, tudo gerado em batch noturno diretamente na cozinha da casa.



👦 E eu, pequeno padawan?

Promovido — sem concurso público — a vendedor de salgadinhos.

Melhor dizer, convocado, alistado e inscrito nessa operação especial. Sem direito a fuga...

  • Meu pai no meio da rua fotografando tudo, parecendo repórter oficial do Globo Repórter: edição folia interiorana

  • Minha mãe numa calçada vendendo os salgados

  • Eu na outra calçada, um mini-hardware humano processando vendas, troco e clientela com throughput digno de MQSeries

  • Vivi e Dandan… off-line, sem escalonamento naquela missão

Esse foi o primeiro job remunerado do jovem Bellacosa.
O JOB001, o início de uma longa sequência de execuções bem-sucedidas, cada uma com sua história, suas exceções e suas mensagens $HASP aleatórias da vida.



🎭 O Carnaval que me iniciou no “modo trabalhador”

Entre um sambista, um fotógrafo, uma cozinheira recém-formada, uma matriarca estrategista e eu — o pequeno vendedor — nasceu o primeiro workflow profissional Bellacosa.

E tudo isso no meio de:

  • Fantasias improvisadas

  • Sambas ecoando pela praça

  • O povo celebrando a liberdade recém permitida era final da ditadura

  • Bene, radiante, reinando como supernova em meio à poeira conservadora

🌟 Easter-egg que só quem é da época sabe

  • Em 1983, várias cidades pequenas ainda proibiam travestis de desfilar — Pirassununga permitiu Bene sem pestanejar.

  • As fotos do meu pai se tornaram parte da memória oral da cidade — muita gente ainda lembra e guarda estas relíquias de família.

  • A polícia olhava torto, mas deixava passar. Carnaval é exceção até para militar.

📌 Moral do episódio (versão Bellacosa Mainframe)

Às vezes, a vida me coloca para vender coxinhas no meio da rua, achando que é só um bico…
Mas ali nasceu o meu senso de:

  • trabalho,

  • responsabilidade,

  • criatividade,

  • improviso,

  • e principalmente… resiliência.

E tudo isso graças a Bene — o trigger humano — que, só por existir livre, bagunçou positivamente a história da sua família.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O PODER DE UMA PINTURA

 


O PODER DE UMA PINTURA
Crônica ao estilo Bellacosa Mainframe
Para o El Jefe Midnight Lunch


Existem casas que não são casas.
São repositórios de memória, versões ancestrais do nosso data lake afetivo.
E a casa dos seus bisavós Paco e Isabel — o Francisco e a eterna vó Bel — era exatamente isso:
um sistema vivo, cheio de charme, cheiro, sons e pequenos tesouros espalhados como easter eggs para qualquer criança curiosa.

Mas havia ali um elemento que ultrapassava o simples conceito de “decoração”.
Uma peça que fazia load direto na alma de todo bisneto que passava pelo corredor.

Uma pintura.
Um mural.

E não qualquer mural.




O Banco de Ônibus e o Laboratório do Pequeno Doutor

Antes de chegar ao mural, era preciso atravessar cenários icônicos do universo Bellacosa.

Na área, um velho banco de ônibus — presente do seu pai aos bisavós — havia sido promovido do transporte coletivo ao trono afetivo.

Era nele que as crianças sentavam para conversar, brincar, imaginar, disputar espaço…
Uma espécie de console central da infantaria da família.

Seguindo um corredor lateral, que saia do lado de uma mureta daquelas com piso cerâmico e coluninhas, ao lado um portão de ferro que guiava até o fundo do quintal onde ficava o quartinho externo, cheio de ferramentas, sucatas, parafusos e relíquias mecânicas.
Ali nascia o Pequeno Doutor Vagner, cientista-mirim, desmontador compulsivo, capaz de abrir um rádio com a mesma determinação de um engenheiro do CICS tentando entender um ABEND 0C7.

Havia ainda o canteiro da horta, guardado pelo lendário jaboti, um Highlander, sobrevivente de guerras, gerações e intempéries — provavelmente imortal, silencioso e sábio como as máquinas Z da IBM.

E, claro, a garagem na frente da casa coberta: o playground oficial de dias de chuva, onde as aventuras ganhavam eco, velocidade e imaginação.

Mas nada — absolutamente nada — se comparava ao que havia na varanda.




A PINTURA QUE ABRIA PORTAIS

Na parede, pintado por um amigo da família, havia um mural que poderia, tranquilamente, ter sido catalogado pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Infância Brasileira.

Um pôr do sol magnífico.
Quase dourado, quase mágico.
Aquela luz que não existe mais, que só os anos 70 sabiam produzir.

E nele, caminhando para a esquerda, um surfista.
Magro, forte, despreocupado.
Segurando uma prancha enorme.
Rumo ao infinito.

As crianças da família paravam diante daquela pintura como quem para diante de uma tela de login de um universo paralelo ou mesmo sentadas no banco de ônibus, olhavam para ela.

Ali, cada bisneto se imaginava o surfista:

  • correndo pela areia;

  • enfrentando ondas gigantes;

  • vivendo aventuras tropicais totalmente incompatíveis com a vida urbana da Mooca ou de Taubaté.

O mural era mais do que tinta.
Era um motor gráfico da imaginação.
Um gateway afetivo que alimentava sonhos, coragem e fantasia.

Era ali que o futuro adulto começava a ser desenhado — sem que ninguém percebesse.




Os Quitutes, os Vidrinhos e o Arroz com Ovo

E enquanto a arte nos transportava, a casa nos ancorava.

Tia Maria servia bolinhos de chuva tão divinos que mereciam IPL especial só pra carregar o cheiro.
Os vidrinhos vazios de remédio viravam frascos de laboratório dos pequenos cientistas.
E o arroz com ovo frito mole — aquele clássico absoluto — possuía algum tipo de opcode sagrado que registrava memória afetiva até o fim da vida.

Sem falar nos iogurtes caseiros, aqueles feitos com bacilos vivos, guardados em potes reciclados da geladeira, cuidadosamente produzidos como se fossem uma batch job culinária passada de geração a geração.

Era amor.
Simples.
Caseiro.
Imenso.
Do tipo que dura décadas, como as máquinas Z, como as histórias bem contadas, como os avós que moldam nosso código-fonte sem dizer uma palavra.


O Poder de uma Pintura

Hoje, olhando para trás, fica claro:

Aquele mural não era só um mural.
Era um servidor emocional.

Cada criança que parava ali fazia um login diferente:
um queria ser surfista, outro guerreiro, outro aventureiro.
Mas todos, absolutamente todos, saíam da varanda com o coração mais leve.

Porque o poder da arte é esse:
ela cria mundos dentro da gente.
E quando isso acontece na casa de avós amorosos, acompanhada de café, cheiro de chuva e iogurte caseiro…
o mundo inteiro fica melhor.

Aquela pintura não era apenas tinta na parede.
Era um lembrete silencioso de que a infância foi boa,
foi rica,
foi cheia de brilho,
de sonhos
e de amor.

E esse tipo de lembrança — ah, meu amigo —
é do tipo que nem o tempo, nem a vida, nem os tombos…
conseguem apagar.

sábado, 24 de novembro de 2012

Florença e o show de fantoches.

Firenze a disneylandia da Italia


De todas as cidade italianas que visitei, Firenze me marcou por ser a mais viva. Comparando-a ha um grande parque de diversões, imagine uma cidade que atrai multidões.



Justamente por ter tantos turistas a cidade se converteu em uma grande parque, com inúmeras atraçoes desde lojas sofisticadas de marcas famosas, a igrejas milenares e a museus famosos no mundo inteiro.

Uma das coisas que mais me encantaram foram os diversos shows de rua, este pequeno video é um show de fantoches, cantando e dançado, era impossível não parar e assistir um pouco.




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

🍖 GRUPO SÉRGIO — Meu Primeiro Rodízio, Minha Primeira Side Quest Gastronômica




🍖 GRUPO SÉRGIO — Meu Primeiro Rodízio, Minha Primeira Side Quest Gastronômica
Bellacosa Mainframe — Blog El Jefe Midnight Lunch


Há coisas que a vida guarda numa gaveta secreta da alma.
Pequenas, bobas até.
Mas que quando abertas, uau, soltam luz, cheiro, sabor e uma saudade doce.

Nos anos 1970, aquilo que hoje se faz sem pensar — pedir iFood, entrar no Outback, comer rodízio no almoço da firma — era coisa de outro mundo.
Raro. Festivo.
Um evento com brilho próprio.

E eu tenho uma dessas joias guardadas:
a primeira vez que fui a um restaurante de rodízio.




🍞 Antes do luxo existia marmita afetiva

Eu fuço os cantos da memória e não lembro exatamente quando.
Só sei que veio depois de muitas viagens onde o restaurante era o céu, mas nós ficávamos com os pés bem plantados na terra.

A regra era clara:
Dona Mercedes não gastava no que podia cozinhar.

A gente viajava com:

  • pão caseiro com manteiga e mortadela

  • bolo gelado embrulhado em papel alumínio

  • refrigerante enrolado em jornal pra ficar fresco

  • e aquele cheirinho de lar que vinha junto no porta-malas

Restaurante era luxo.
Piquenique era realidade.
E olha — era bom demais.

Mas veio o grande dia.




🥩 GRUPO SÉRGIO — Radial Leste, na Quarta Parada: o portal para outro mundo

Não lembro quem casou.
Se era primo, vizinho, amigo do meu pai… tanto faz.
Meu foco de pequeno oni devorador era um só:
festa + comida + novidade.

Chegamos ao lendário GRUPO SÉRGIO, na Radial Leste — um salão de rodízio tão grande que mais parecia ginásio de escola técnica.
Dizem — e eu confirmo — cabiam mil pessoas lá dentro.
E não é exagero da minha pena saudosista não, hein?



💫 E lá estava eu, com os olhos faiscando…

✨ Mesas enormes, toalhas brancas impecáveis
✨ Pratos de porcelana do tamanho da lua cheia
✨ Talheres pesados como espada de samurai
✨ Garçons desfilando como NPCs de missão principal
✨ O cheiro sagrado da carne assando no altar de fogo

Atrás do balcão, três homens duelavam com as brasas.
Era arte. Era magia. Era churrasco.

Primeiro veio a massa:
spaghetti, fusili, lasagna, penne — o chef apontava, eu dizia sim pra tudo.

Depois saladas, palmito, queijo, azeitona.
Tudo chique, tudo brilhante, tudo novo.

E então…




🔥 ROUND 3 — A INVASÃO DAS CARNES

A verdadeira quest começou.

  • linguiça calabresa

  • filé macio e escapando do garfo

  • costela que quase chorava no corte

  • maminha, frango, pernil, carneiro

  • e mais, e mais, e mais…

Eu comia como se o amanhã fosse ficção científica.
Como se aquele fosse o último jantar antes do apocalipse.
E talvez fosse — afinal, quando a vida daria outro banquete daquele?

Pequeno Vaguinho entrou no modo glória + buff de apetite + XP infinito.

Mas o final boss ainda viria…




🍮 O Carrinho das Sobremesas — Game Clear

Quando as bandejas se foram e o estômago já tocava o céu,
surge ele…

O carrinho brilhante, celestial, a nave mãe do açúcar.

Em cima:

  • pudim de leite — o mais brilhante dos artefatos

  • pudim de creme

  • bolo recheado com camadas impossíveis

  • pêssego em calda

  • gelatinas tremelicando como geleia de pixels

  • compotas, tortas, doce até a alma ficar grudenta

Resultado?

Game zerado.
Final feliz desbloqueado.
NPCs sorriam. O mundo piscava.
E eu sabia: aquele dia ficaria guardado para sempre.


Hoje, rodízio é trivial.
PF vira almoço de qualquer terça.
A vida segue, o paladar amplia.

Mas nenhum churrasco — por mais caro, fino, premiado que seja — superou
o primeiro portal aberto na Radial Leste, o Rodízio Grupo Sérgio.

Foi como derrotar o chefão final e, de brinde, ganhar o pergaminho da lembrança eterna.

E toda vez que fecho os olhos, ainda vejo:
a carne brilhando, o prato pesado, o sorriso da infância.

E sinto fome de novo.
Não só de comida —
de vida. 🥩🔥

– Bellacosa Mainframe, Vagner menino, Vagner hoje.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Último Grande Natal — 1982, O Encerramento de um Ciclo na Famiglia Bellacosa



 🜂 El Jefe Midnight Lunch apresenta

O Último Grande Natal — 1982, O Encerramento de um Ciclo na Famiglia Bellacosa

Uma memória guardada em fita cassete, cheiro de porco assado, risada de 50 adultos, e o brilho inalcançável de um caminhão da Estrela.


Existem datas que não passam.
Existem fotos que desbotam, mas não desaparecem.
E existem festas que, mesmo quando terminam, continuam iluminando o coração como lâmpadas coloridas que ninguém teve coragem de guardar.

Para mim, Vagner do século XXI,
o Natal de 1982 foi essa constelação inesquecível.

Venha me acompanhar nesse mergulho no tempo —
para revisitar o último grande ritual da Famiglia,
uma despedida involuntária, doce e amarga,

antes de o Brasil virar o Brasil dos anos 80,

antes da inflação morder os sonhos, 

antes do cruzeiros novos derreterem,

antes dos adultos perderem o silêncio,

antes de entender o peso da palavra “última”.


🜁 O Anúncio — A Profecia de Anna

Era um domingo qualquer,
mas toda família sabe que os domingos nunca são só domingos.

Minha avó Anna, mulher de fibra, tecelã de vida e de fios,
sentou-se no almoço com aquele ar de quem guarda uma decisão maior que ela mesma.

No meio da macarronada, da criançada correndo, dos tios discutindo futebol,
ela falou a frase que dividiria a história em duas metades:

“Este será o último grande Natal.”

E o mundo parou sem parar.

Eu tinha 8 anos,
não entendia política,
não entendia inflação,
não entendia custo de carne,
não entendia aposentadoria.

Mas entendi — por alguma mágica especial que só crianças têm —
que aquilo significava que algo grande estava acabando.


🜃 O Avô Pedro e o Fim de Uma Era

Meu avô Pedro, homem sério e carismático à sua maneira,
estava se aposentando, após uma longa vida nas fábricas da Mooca.

E na sua casa — como na de milhões de brasileiros —
aposentadoria era sinônimo de “dinheiro mais curto”.

Somado à crise econômica dos anos 80,
à hiperinflação que começava a devorar salários antes do dia 10,
à incerteza do país que entrava numa tempestade…

ficou claro:

O Natal de 1982 não era apenas uma festa.

Era uma despedida de um estilo de vida.
Da fartura repartida.
Do porco criado no quintal e abatido exclusivamente para as ceias, eram dois um para o natal e outro para o ano novo.
Dos 20 primos correndo pelo quintal.
Dos mais de 50 adultos conversando, rindo, brigando, reconciliando —
essas coisas de família italiana que só quem vive sabe.



🜄 O Melhor Presente — O Caminhão Basculante da Estrela

E como é curioso o coração infantil:
enquanto o mundo dos adultos desmoronava,
você ganhava o que seria o melhor presente de Natal da sua vida.

Um caminhão basculante a pilha, da lendária fabrica de brinquedos Estrela.

Não era só um brinquedo —
era uma máquina do tempo.
Era a prova brilhante de que aquele Natal tinha sido pensado com amor,
que mesmo na sombra do “último”,
houve espaço para alegria genuína.

Criança não entende o fim das coisas,
mas entende brilho nos olhos.



E aquele caminhão brilhou, fisicamente durou somente um ano, destruído pelo incêndio de 1983, a grande tempestade, mas minha memória, ainda viva décadas dentro de você.


🜁 Um Ano de Partidas — Adeus, Luigi

1982 também carregou luto.

O adeus ao bisavô Luigi, figura carismática,
pilar moral, emocional e espiritual da família.

Sua partida não apagou a festa —
mas deu a ela aquele tom meio sépia,
meio nostálgico,
meio de fotografia antiga guardada na gaveta da cozinha.

Foi o último Natal da velha guarda completa.
O último com a mesa cheia de verdade.


🜃 O Ano Seguinte — A Tempestade de 1983

Depois da festa, veio a realidade.

1983 foi duro. Mudei, cresci na marra, morei em 3 cidades num unico ano...
Muito duro.

O país mergulhou ainda mais na crise,
as famílias apertaram o cinto,
e o ciclo dourado das festas da Famiglia Bellacosa
virou memória.

Não por falta de amor.
Mas por falta de condições.

E às vezes, a vida é assim:
não acaba com estrondo,
acaba com um anúncio no almoço de domingo.


🜄 Mas Nada Apaga 1982

O Natal de 1982 não está perdido.
Ele vive em:

  • cada cheiro que lembra o porco assado,

  • cada risada registrada na mente,

  • cada primo que cresceu e se espalhou pelo mundo,

  • cada adulto que partiu,

  • cada gesto de Anna e Pedro,

  • cada tradição que não volta mais, mas também não morre.

Ele vive, principalmente,
em mim.

No menino de 8 anos que assistiu sem entender
um ciclo inteiro se fechar.

E que hoje, décadas depois,
escreve, sente, recorda —
e revive.


🜂 Conclusão — O Derradeiro Adeus às Festas da Famiglia Bellacosa

As famílias são como sistemas legados:
robustas, emocionais, cheias de histórias,
mas também sensíveis às mudanças externas.

1982 foi o shutdown de um módulo inteiro da vida familiar:

  • encerrou uma tradição,

  • selou uma era,

  • marcou a transição entre abundância e adaptação,

  • e se tornou um cartão-postal emocional,
    guardado como o último backup de um tempo que não volta.

Mas, como todo bom sistema mainframeiro,
ele continua rodando na sua memória —
estável, íntegro, imutável.

Porque eu não lembro apenas da festa.
Me lembra do que ela significa:

Que mesmo quando o mundo aperta,
a família encontra um jeito de celebrar.

E alguns Natais não são apenas datas.
São destinos.


Peposa

A sobrevivente com seus 43 anos a Peposa da Vivi... os carrinhos se perderam no tempo,mas essa pequena testemunha de pelúcia, sobreviveu ao tempo.






segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Modo Pequeno Oni — Acidente, imprudência e baratas em formação tática

 


📜 El Jefe Midnight Lunch – Bellacosa Mainframe Files
Modo Pequeno Oni — Acidente, imprudência e baratas em formação tática

Senhoras e senhores deste coffee-break digital, puxem suas cadeiras para mais perto da churrasqueira emocional, porque hoje venho com mais um daqueles relatos que só poderiam nascer da mente de um mini-humaninho com excesso de energia, nenhuma noção de perigo e um planeta inteiro para destruir aos poucos — vulgo eu, versão 1984, Cecap Edition.




🕳 O império subterrâneo das fossas e o ataque das baratas vermelhas

Quem cresceu naquele condomínio experimental do caos sabe: rede de esgoto pública era lenda urbana. Cada quadra tinha sua fossa própria — uma espécie de HDFS orgânico de água duvidosa, odores indescritíveis e baratas em cluster.

E quando o caminhão pipa chegava para o dump + clean daquele reservatório das trevas, era um espetáculo digno de filme do John Carpenter:
baratas de todas as classes, tamanhos e versões — as pretas, as francesas , as assustadoras vermelhas voadoras e as lendárias brancas, que pareciam saídas do inferno com firmware turbo.

Mas ainda não é aqui que o servidor travou.
Não, não... o crash veio depois.




🛠 A obra faraônica – Manilhas EA3, o parque de diversões proibido

A subprefeitura do Quiririm iniciou a obra que para olhos infantis parecia coisa de faraó:
escavadeiras cavando trincheiras épicas, caminhões trazendo manilhas EA3 gigantes, empilhadas sem proteção, sem cerca, sem placa de não entre, sem firewall, sem nada.

E o que acontece quando você entrega um labirinto militar feito de concreto para um bando de crianças com energia nuclear no sangue?

Exato.

Modo SWAT ativado.
Corre. Sobe. Pula. Entra no túnel. Sai do túnel. Salta de três metros.
Missão impossível sem dublê.

O cronograma da obra dizia instalar esgoto.
O cronograma das crianças dizia sobreviver ao impossível antes que escureça.



☠ E quando a corda estica…

…ela arrebenta.
E o mini Bellacosa aqui despencou de uns três metros, rolando entre manilhas até o gramado — apagando o sistema operacional por alguns minutos.

Meu primo Celo desesperado — choro, pânico, bug geral.
Os outros achando que eu tinha dado shutdown permanente.

Para eles foram longos minutos.
Para mim? Apenas um reboot rápido com erro de memória e dores no kernel.

Acordei zonzo, vendo estrelas, com a cabeça latejando como se alguém tivesse feito um IPL com parâmetros errados. Mas levantei. Firme. Manquejando, mas inteiro.




🏠 E a atitude madura do jovem Bellacosa?

Voltar para casa sem contar nada para ninguém.
Banho. Janta. Lição. Cabeça doendo. Ego intacto.
Medo absoluto de levar bronca maior do que a queda.

No dia seguinte?
De volta ao campo de guerra.
Brincando de SWAT nos mesmos tubos, como se o firmware tivesse atualizado e agora eu fosse à prova de falhas.

Juventude, meus caros, é o mainframe mais resiliente já inventado.




Um dia o esgoto foi concluído. As fossas sumiram.
As baratas perderam o território.
Mas o campo de manilhas?
Esse ficou registrado na minha ROM emocional para sempre.

Porque ali descubro — olhando para trás — que criança alimentada por curiosidade e ausência de medo é uma força da natureza.
Destrutiva. Imprevisível.
E totalmente inesquecível.

👀
E eu ainda acho que tinha algo naquela água do Cecap…