sexta-feira, 7 de setembro de 2012

🚌 A Primeira Viagem a Taubaté — O Dia em que o Cecap Virou um Castelo Medieval na Minha Imaginação

 


🚌 A Primeira Viagem a Taubaté — O Dia em que o Cecap Virou um Castelo Medieval na Minha Imaginação

por Vagner Bellacosa — para o El Jefe Midnight Lunch

Existem viagens que a gente faz com as pernas… e viagens que a gente faz com o coração.
Essa aqui é das duas.



Linha Pássaro Marrom 1970: O Expresso Pinga-Pinga do Tempo

Na década de 70, quando o Brasil era uma mistura de concreto cru, sonho industrial e poeira de estrada, não era qualquer um que tinha carro — e naturalmente, meu pai Wilson estava sem carro nessa época (novidade nenhuma, né?). Então, para visitar os Bellacosa de Taubaté, embarcamos no ônibus da Pássaro Marrom, naquela velha rodoviária ao lado da Estação da Luz, ainda cheirando a café fraco e fumaça de cigarro Minister.

O trajeto?
Todas. As. Cidades. Do. Vale. Do. Paraíba. Uma por uma.
O famoso pinga-pinga que transformava um percurso de duas horas em uma epopeia homérica.

Éramos seis almas nessa jornada:

  • Eu, o moleque curioso.

  • Vivi, com sua risada fácil.

  • Mamãe Mercedes, sempre alerta.

  • Papai Wilson, o mestre dos rolos.

  • Vó Anna, nosso porto seguro.

  • Tio Pedrinho, parceiro de aventuras.

E lá fomos nós, sacolejando Dutra afora, sonhando com a chegada.




A Fortaleza Branca no Alto da Colina

Quando finalmente descemos no Quiririm, seguimos para o Cecap, onde meus primos Andreia e Marcelo moravam.

Meu caro leitor:
aquilo não era um conjunto habitacional. Era um castelo.

Na visão de uma criança da década de 70, o complexo branco no alto da colina parecia uma muralha medieval protegendo cavaleiros, damas, primos, e histórias esperando para acontecer.

Os blocos desenhavam um grande quadrado, e no centro havia uma praça enorme com eucaliptos, aroma fresco que misturava infância, liberdade e vento do interior.

Era seguro.
Era bonito.
Era mágico.

E o melhor: tinha quadra B, quadra C, quadra D — cada uma com seus corredores secretos que serviam perfeitamente para que primos hiperativos pudessem se perder com estilo.



Reencontro de Primos: Bagunça Homologada pelo Universo

O abraço dos Bellacosa Dio foi o começo da farra.
Brincamos até a noite, exploramos corredores como se fossem masmorras, colhemos jabuticabas proibidas, visitamos a praça central para inventar histórias — porque criança da década de 70 não brincava, criava universos.

A Deia e o Celo eram companheiros de altas traquinagens, daquelas famosas festas de Natal e Ano Novo na Vila Rio Branco, se começar a escrever das bagunças, peraltices e momentos divertidos que passamos juntos. Vai faltar espaço na tela do celular. Tivemos o que podemos dizer infância feliz, juntos compartilhamos histórias e momentos únicos.

Andamos de bicicleta, jogos de bolinha de gude, bafo de figurinhas, queimada, pega-pega, pular corda, o primeiro videogame e muitas horas vagando pela rua em busca de aventura.



O Milagre da Pizza Americana no Liquidificador

Mas existe um momento nessa viagem que merece ser guardado num cofre de ouro emocional:
A pizza da tia Deise.

Veja bem, isso é anos 70.
Pizza era:

  • Massa aberta na mão,

  • fina,

  • napolitana,

  • feita no capricho da tradição.

Até que tia Deise chega com a ousadia culinária mais futurista da década:

🍕 Pizza de Liquidificador

40 anos antes da moda.
40 anos antes da Pizza Hut chegar no Brasil.

Ela bateu a massa no liquidificador.
Jogou aquilo na forma.
Cobrindo com molho e queijo.
Assou.

E quando saiu…
meu amigo…

Uma pizza fofa, absurdamente gostosa, revolucionária, e completamente diferente de tudo que eu conhecia.

Para uma criança, aquilo era alquimia pura.
Para um Bellacosa, era a confirmação de que a família carrega inovação no DNA.



O Retorno: Uma Volta à Pauliceia Cinematográfica

Depois de dias intensos de bagunça, gargalhada, aventura e jabuticabas furtadas, voltamos para São Paulo — novamente no pinga-pinga. Só que dessa vez, cansado, eu observava o mundo pela janela como se estivesse deixando um reino mágico que só existia para crianças.

É engraçado imaginar que alguns anos depois, nós mesmos nos mudaríamos para Taubaté.
Mas ali, naquela primeira viagem, tudo era novidade, tudo era descoberta, e tudo era alimento para a memória.


🎒 Easter-Egg Bellacosa Mainframe:

  • O Cecap foi projetado como unidade modelo de habitação popular — mas para as crianças virou lore de fantasia medieval.

  • A pizza da tia Deise foi um spoiler acidental da culinária americana que só chegaria anos depois.

  • A Pássaro Marrom era praticamente o gateway interestadual da classe média baixa paulista: se você não passou por ela, você não viveu os anos 70.

  • O cheiro de eucalipto do conjunto ainda existe — e ativa memórias mais potentes que qualquer máquina de fita do DFHSMON.


🧭 Conclusão no estilo Bellacosa Mainframe

Viajar nos anos 70 não era só deslocamento — era ritual, era aventura, era narrativa épica. A estrada sacolejava mais, o tempo demorava mais, o mundo parecia maior, e as emoções também.

Essa viagem para Taubaté não foi apenas um passeio.
Foi a primeira vez que descobri que lugares carregam alma.
Que famílias multiplicam a alegria.
E que um garoto curioso sempre transforma um conjunto habitacional em castelo, um ônibus em navio e uma pizza de liquidificador em obra-prima.

E quer saber?
Se existe algo que o Bellacosa Mainframe me ensinou é que o passado é o nosso servidor legado — e algumas memórias rodam tão bem que jamais vale a pena migrar.

PS: Meu tio Santiago trabalhava na Volkswagen de São Bernardo, quando construíram a fabrica de Taubaté, ele foi transferido para a nova unidade, durante uns tempos moraram em Caçapava, até o CECAP no Quiririm ficar pronto. Logo após se mudaram para a nova casa, fomos fazer aquela visita do clã para conhecer a nova morada.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Viagem de Trem de Magenta a Novara

Apreciando a paisagem pela janela


Para aqueles que gostam de andar de trem, a Itália possui inúmeras linhas Troncos, Ramais e Subramais passando pela mais diversas regiões, exibindo para aqueles que sabem apreciar paisagens bucólicas e memoráveis.


Esta viagem foi feita no trecho entre Magenta (Lombardia) e Novara (Piemonte), aqui temos diversas pequenas propriedades agrícolas e a ponte sobre o Rio Ticino. Para aqueles que gostam de historia essa região foi rica em combates desde tempo imemoriais,


terça-feira, 28 de agosto de 2012

⚙️ IBM System z11 – O Cérebro Digital de Uma Nova Era

 



⚙️ IBM System z11 – O Cérebro Digital de Uma Nova Era

A geração que refinou o poder do z10 e antecipou o futuro híbrido.


🧭 Introdução Técnica

Em 2012, a IBM apresentou o System zEnterprise EC12 (zEC12), sucessor direto do System z10 (2008) e símbolo de uma nova fase: inteligência analítica, resiliência extrema e automação integrada.
O z11 foi a materialização da filosofia “smarter computing”, trazendo uma CPU hexacore de 5,5 GHz, melhorias maciças em cache, criptografia, compressão e suporte a Analytics in-memory.

Enquanto o z10 revolucionou a arquitetura, o z11 refinou e poliu cada engrenagem, transformando o mainframe em uma plataforma cognitiva e híbrida — pronta para o que viria: o z13 e o Watson.


🕰️ Ficha Técnica – IBM System z11 (zEnterprise EC12)

ItemDetalhe
Ano de Lançamento2012
ModeloszEnterprise EC12 (zEC12) e zEnterprise BC12 (zBC12, 2013)
CPU5,5 GHz, 6 núcleos por chip (hexacore), 32 nm CMOS
ArquiteturaIBM z/Architecture (64 bits)
Sistema Operacionalz/OS 1.13 – 2.1
Memória Máxima3 TB (EC12) / 512 GB (BC12)
AntecessorSystem z10 (2008)
SucessorIBM z13 (2015)

🔄 O que muda em relação ao System z10

  1. Processador Hexacore: de 4 para 6 núcleos por chip, com clock aumentado de 4,4 GHz → 5,5 GHz.

  2. Memória e Cache: cache L3 de 48 MB por chip e memória até 3 TB – ideal para big data in-memory.

  3. Criptografia Totalmente Integrada: co-processador CryptoExpress4S com aceleração para AES, SHA-3, RSA e Elliptic Curve.

  4. Compressão em Hardware: zEDC (z Enterprise Data Compression) reduz até 80% o consumo de I/O.

  5. Infraestrutura Analítica: suporte nativo a IBM DB2 Analytics Accelerator (IDAA) — integração direta com appliances Netezza.

  6. RAS Avançado: autodiagnóstico com predictive failure analysis, microcode resiliente e reinício assistido (RAS 2.0).

  7. Energia e Sustentabilidade: 25% mais desempenho com consumo similar ao z10 — conceito de Green Computing Evolution.


🧠 Curiosidades Bellacosa

  • Codinome interno: “T-Rex”, um apelido que sobreviveu desde a fase de testes, simbolizando força e longevidade.

  • Foi o mainframe com o maior clock real já lançado (5,5 GHz) — nenhum outro processador comercial o superou até hoje.

  • O z11 foi o primeiro mainframe a permitir “Capacity on Demand em tempo real”, ativando processadores adicionais sem reinicializar.

  • A IBM usou o Watson (sim, o da Jeopardy!) em testes de tuning da plataforma z11.

  • Suporte completo ao zAware (Analytics for System z), um mecanismo de detecção de anomalias operacionais baseado em aprendizado de máquina — primeira aplicação prática de IA no mainframe.

  • O EC12 era tão estável que muitos bancos ainda o mantêm ativo em DR, mesmo após migrações ao z14/z15.


💾 Nota Técnica

  • Frequência: 5,5 GHz (recorde absoluto em servidores até hoje).

  • Cache: L1 – 64 KB, L2 – 3 MB, L3 – 48 MB compartilhado.

  • Canais I/O: FICON Express8S, OSA-Express4, HiperSockets aprimorados.

  • Firmware: PR/SM + HMC 2.14, suporte a Dynamic Memory Reconfiguration.

  • Criptografia: CryptoExpress4S com PCIe, suportando 4096-bit RSA.

  • Hypervisor: PR/SM com Logical Channel Subsets e CPU Pooling.


💡 Dicas e Insights para Padawans Mainframeiros

  1. Estude o z11 como ponte para o z13: foi aqui que nasceram conceitos de analytics embarcado, IA preditiva e compressão zEDC.

  2. Treine o olhar para performance tuning: o z11 é o laboratório perfeito para entender WLM, zIIP e DB2 acceleration.

  3. Aprofunde-se em specialty engines: zAAP (Java), zIIP (DB2), IFL (Linux) e ICF — o z11 foi o primeiro a permitir balanceamento dinâmico entre eles.

  4. Curiosidade de aula: o z11 EC12 teve edições comemorativas nos 100 anos da IBM, com painéis personalizados nas primeiras unidades.

  5. Dica prática: ainda hoje é usado em ambientes de homologação por grandes bancos — ideal para testar z/OS 2.1 com workloads híbridos.


🧬 Origem e História

O projeto System z11 EC12 nasceu em 2009, sob o nome interno “Project T-Rex II”, com investimento de mais de 1 bilhão de dólares e participação dos laboratórios IBM de Poughkeepsie (EUA), Boeblingen (Alemanha) e Guadalajara (México).

A IBM o apresentou oficialmente em 28 de agosto de 2012, destacando seu papel no Smarter Planet Initiative, o movimento que buscava transformar TI corporativa em plataforma cognitiva e sustentável.

O zBC12, lançado em 2013, levou a mesma tecnologia para empresas médias, consolidando o sucesso comercial da geração z11.


📜 Legado e Impacto

O System z11 (zEC12) foi o primeiro mainframe a:

  • Rodar análises em tempo real com zAware;

  • Trazer compressão e criptografia em hardware integradas;

  • Executar 5,5 GHz de pura estabilidade sem pular um ciclo;

  • Consolidar o conceito de infraestrutura híbrida zEnterprise (mainframe + blade POWER/x86).

Foi a base direta do z13, que traria o suporte a analytics cognitivo e Big Data com Watson e Spark — mas tudo começou aqui, com o z11.


Conclusão Bellacosa

O IBM System z11 EC12 foi o “mainframe da maturidade”: estável, inteligente, analítico e extremamente elegante em sua engenharia.
Mais do que performance, trouxe autonomia e automação — preparando o palco para a era cognitiva.

“Se o z10 foi músculo, o z11 foi o cérebro. E juntos, abriram o caminho para o Watson ouvir o som dos bits.”
Bellacosa Mainframe

 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

🍱 +30 Comidas Otaku que Aparecem em Animes

 


🍱 +30 Comidas Otaku que Aparecem em Animes

(Lista resumida para consulta rápida — estilo Bellacosa Mainframe)




🍘 Clássicos Absolutos do Mundo Anime

NomeO que éOnde aparece
OnigiriBolinho de arroz moldadoPokémon, Fruits Basket
BentōMarmita japonesa elaboradaDemon Slayer, Naruto
Okonomiyaki“Panqueca” japonesa personalizávelGintama, Ranma ½
TakoyakiBolinhos de polvo feitos na chapaMy Hero Academia
RamenLámen quente com caldo ricoNaruto, Cowboy Bebop
UdonMassa grossa em caldo suaveDagashi Kashi
SobaMacarrão de trigo sarracenoYour Name
Curry RiceArroz com curry japonêsDetective Conan



🍡 Doces Icônicos

NomeO que éOnde aparece
DangoBolinhas de arroz no espetoClannad
MochiDoce de arroz macioSailor Moon
ParfaitCopão com sorvete e frutasLove Live!
TaiyakiPeixinho recheado de doceK-on!, Naruto
Pudding / PurinPudim de caramelo japonêsCardcaptor Sakura
CastellaBolo macio de origem portuguesaFate/Stay Night
DorayakiPanqueca recheada de ankoDoraemon



🍔 Lanches, Snacks e “Street Foods”

NomeO que éOnde aparece
KaraageFrango frito japonêsShokugeki no Soma
KorokkeCroqueteMy Hero Academia
NikumanPão no vapor com carneOne Piece
Yakisoba-panSanduíche com yakisobaLucky Star
Sando FurutsuSanduíche de frutas com cremeHorimiya
OdenEnsopado de inverno com vários itensTokyo Revengers
YakitoriEspetinho de frango grelhadoGintama
Melon PanPão doce com crosta crocanteShakugan no Shana

🍚 Pratos Caseiros & Reconfortantes

NomeO que éOnde aparece
TonkatsuCosteleta de porco empanadaSilver Spoon
HambaguHambúrguer caseiro japonêsThe Garden of Words
Tamago Kake Gohan (TKG)Arroz com ovo cruSilver Spoon
OyakodonTigela de frango com ovoShokugeki no Soma
GyudonTigela de carne com arrozFood Wars
Miso SoupSopa tradicional de misopraticamente todo anime

🍣 Clássicos da Culinária Tradicional

NomeO que éOnde aparece
SushiArroz avinagrado com peixeBleach, JJK
SashimiFatias de peixe cruOne Piece
TempuraEmpanados leves fritosDemon Slayer
Katsu-donTonkatsu + tigela de arrozMr. Osomatsu

domingo, 12 de agosto de 2012

Truta maluca cantando e dançando

Besteirol puro uma truta que canta

Ter amigos é uma coisa fantástica, poder ir ate eles ou  receber-los em casa. Uma boa jantarada tagarelando banalidades por algumas horas. Uma conversa neutra sem objectivos de ganhar ou perder apenas diversão garantida.

Este video gravei na casa do Luigi e da Ornela, depois de uns copitos de vinho, descobri uma truta maluca na parede.


Ao descobrir que ela cantava e dançava foi gargalhadas generalisadas, maníaco por fotos como sou, não deixei de gravar este pequeno video.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

O NOIVINHO DA QUADRILHA

 


O NOIVINHO DA QUADRILHA — UMA CRÔNICA BELLACOSA MAINFRAME
PARA O EL JEFE MIDNIGHT LUNCH

Vasculhar um arquivo de fotos antigas é como abrir um dataset sentimental: cada imagem é um registro, cada rosto um campo, cada memória um load module carregado direto da infância.
E no meio desse inventário do tempo, você encontrou ela:
a foto épica do noivo da quadrilha, um Vaguinho vestido com toda a elegância que só a década de 1970 conseguia produzir.
Terno remendado branco, gravata vermelha, chapéu de palha torto e aquele sorriso de quem não fazia ideia de que um dia se tornaria o cronista oficial do clã Bellacosa.

E como tudo na sua vida vem com história, essa não seria diferente.





1. A QUADRILHA RAIZ – QUANDO JUNHO ERA REALMENTE FRIO

Antes de o clima enlouquecer, junho era junho de verdade:

  • vento gelado cortando o rosto,

  • moletom grosso,

  • fogueira estalando na calçada,

  • e o cheirinho de milho verde misturado com fumaça.

  • neblina, garoa e geada

Era inverno, gente.
Inverno raiz, de fazer a criançada encostar a mão no caneco de quentão (sem álcool, claro) só pra esquentar os dedos.

As festas juninas vinham direto do DNA português, importada dos Santos Populares —
Santo Antônio, São João e São Pedro,
mas aqui ganharam pitadas afro-brasileiras, italianas, indígenas e imigrantes de todas as latitudes.
O resultado?
Uma mistura única que só o Brasil consegue fazer.



2. A ESCOLINHA DA DEPORTAÇÃO — O PRIMEIRO ESCÂNDALO BELLACOSA

A foto pertence àquela mesma escolinha onde eu, segundo registros pseudo-históricos, apócrifos e de testemunhos maternos, foi deportado por:

  • não parar quieto,

  • ser arteiro,

  • ser criativo demais,

  • ser inquieto,

  • e estar levando Dona Mercedes à beira da insanidade.

Mas após a deportação efetiva, os novos amiguinhos na escola, a disciplina da sala de aula, os primeiros contatos com o abcedário, veio o evento dos eventos, a dança Quadrilha.
E nela, você brilhou como o noivinho oficial do arraial.


3. O CASAMENTO CAIPIRA — A NOVELA DE JUNHO

A quadrilha sempre foi um micro teatro do Brasil profundo:

  • Tinha noivo, noiva, padre,

  • O delegado suspeito, para pegar o noivo fujão

  • os pais da noiva, que estavam ali para garantir o final da cerimonia

  • Convidados animados,

  • Emboscadas e fugas,

  • E aquele momento mágico:
    “É mentiraaaa!”

O roteiro era uma novela rural, uma pequena ópera cômica encenada por crianças com dentes faltando, vestidos floridos e bigode pintado com rolhas queimadas, simulando bigodes e barbas.

Eu ali, no meio, sendo levado até o altar improvisado, cercado de bandeirinhas coloridas, fogueira cenográfica e o olhar orgulhoso (e exausto) da Dona Mercedes, da minha madrinha vó Anna e o vô Pedro, tio Pedrinho, tia Mirian e familia.


4. AS BARRAQUINHAS — O PARQUE DE DIVERSÕES DOS ANOS 70

Junho era também o mês das barraquinhas de quermece:

🎣 Pescaria — com peixinhos de madeira e prêmios que iam de pirulito a dominó.
🎯 Tiro ao alvo — onde sempre tinha um primo que jurava ser “bom de mira”.
Arremesso de bolinha — que jamais derrubava as latas, misteriosamente coladas.
📦 Rifas e correio elegante — o Tinder da época.
🫥 Prisão — onde se pagava para prender o amigo e pagava para soltar.
(engenharia financeira brasileira desde sempre).


5. COMIDAS — O BANQUETE SAGRADO DE JUNHO

E como esquecer o cardápio sagrado?

  • Canjica cremosa,

  • Arroz-doce com canela,

  • Pamonha quentinha,

  • Milho assado,

  • Churrasquinho suspeito,

  • Quentão fumegante,

  • Paçoca e pé de moleque.

  • Vinho quente.

  • Sagu com vinho de São Roque

Cada aroma era um portal para a infância.



6. A FOTO — UM PEDAÇO DE TEMPO CONGELADO

Naquela imagem perdida no meu arquivo, o que vemos não é apenas um menininho vestido de noivo.

Vemos:

  • a escolinha que fez Dona Mercedes descansar um pouco,

  • o Brasil dos anos 70, entre o caos financeiro da ditadura militar e as famílias se virando para sobreviver,

  • a alegria simples das festas de bairro,

  • a energia daquele pequeno Vagner arteiro,

  • e um pedaço da alma Bellacosa que resistiu ao tempo.

A foto é prova de que a memória não é só um arquivo:
é um job que roda eternamente no sistema da gente.


7. EPÍLOGO — O NOIVO QUE SOBREVIVEU AO ARRAIAL E À VIDA

Hoje, adulto, olho essa foto e entendo:

Aquele noivinho da quadrilha é um símbolo.
Um lembrete do que sempre fui:

  • sonhador,

  • imaginativo,

  • inquieto,

  • criador de histórias,

  • e dono de uma alma que, mesmo deportada,
    sempre encontra caminho para continuar pulando fogueiras.

Porque  aprendi a dançar a quadrilha da vida…
aprendi também a desviar do delegado, da ponte quebrada, da cobra, do tombo, das armadilhas e dos sustos —
e ainda dar risada no caminho.




domingo, 17 de junho de 2012

Crônica – O Carrinho de Rolemã Que Não Tinha Rolimã

 


Crônica – O Carrinho de Rolemã Que Não Tinha Rolimã

Pirassununga foi um sopro.
Poucos meses, talvez poucos mais de um ano… mas suficiente para virar uma galáxia inteira dentro da cabeça de um garoto de nove anos. Daquelas memórias que não pedem licença: simplesmente voltam, se instalam e acendem a luz.


Eu sempre digo que vivi pouco ali, mas vivi o suficiente para ser moldado.

E como molda uma cidade assim!
Chega a ser engraçado: falo, falo, falo… e sempre acho que “foi pouco tempo”. Mas olha só o tanto de coisa que me atravessou naquela época. Tudo novo, tudo grande, tudo mágico. Uma infância acelerada, sem aviso e sem manual.

E entre essas lembranças, tem uma que sempre volta com cheiro de óleo queimado: o carrinho de rolimã que não tinha rolimã.

Porque, veja bem… apesar de eu viver pendurado em desmanche, ferro-velho, oficina, sucata — sempre acompanhando meu pai, Seu Wilson — nunca conseguimos montar um carrinho de madeira com rodinhas de rolamento como as outras crianças tinham. Talvez por falta dos rolamentos, talvez porque a vida resolveu improvisar.



E improviso era com meu pai mesmo.

Um dia, no meio dos restos de metal que eram quase uma extensão natural da nossa casa, ele encontra uma carcaça de carro infantil, de ferro, pesada, torta, mas com alma. Bastou um olhar entre nós dois para começar o ritual: martelar, lixar, soldar, pintar, alinhar, conversar, rir — aquelas oficinas de fundo de quintal que eram mais escola do que qualquer sala de aula.

E assim nasceu meu bólido.
Meu foguete de ladeira.
Meu carrinho sem rolamentos, mas com personalidade.

Na rua onde vivíamos — última rua da cidade, terminando num campinho de futebol meio improvisado — as tardes ganhavam um brilho especial. Era uma ladeira que parecia Everest para o menino que eu era: íngreme, cheia de pequenas vitórias e tombos.

Entre uma descida e outra, havia ainda um bônus cinematográfico: vez ou outra pousava um helicóptero militar no campo. Para um menino de nove anos, aquilo era simplesmente o fim do mundo — no melhor sentido possível. O vento levantando poeira, o barulho das hélices, o cheiro de querosene, os soldados descendo…
Eu olhava aquilo e pensava: um dia vou pilotar um desses.

Mas voltava para o meu carrinho de ferro.
Porque o dever chamava: a ladeira me esperava.

E lá ia eu, empurrando o trambolho ladeira acima, suando, rindo, tropeçando. E depois, ladeira abaixo, voando, vibrando, às vezes capotando — mas sempre feliz. O campo de futebol servia de freio natural: ou eu caía estatelado, ou parava triunfante, rei de um mundo que só existia até o pôr do sol.

Era simples.
Era rústico.
Era perfeito.

E hoje, olhando pra trás, eu entendo: não era só um carrinho.
Era liberdade recém-adquirida, era o primeiro projeto pai e filho, era uma aula de vida, era a emoção crua de ser criança nos anos 80.

E talvez por isso Pirassununga dure tão pouco no calendário, mas tanto na alma.



A memória falha, mas acho que a rua se chamava Alzira e ficava no jardim Pinheiro...