quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

⚓ O Submarino de Cimento — A Viagem ao Fundo do Tanque

 


💭 *Poste para o blog El Jefe – Série “Crônicas do Pequeno Bellacosa”
Título:O Submarino de Cimento — A Viagem ao Fundo do Tanque


Existem coisas que simplesmente acontecem. Você não planeja, não deseja… apenas vive — e depois se pergunta como ainda está vivo.

Sempre fui curioso — desses que não se contentam em olhar, precisam entender, testar, desmontar, remontar. Junte isso a uma energia inquieta e um cérebro em constante rotação, e você tem o protótipo perfeito do menino que colecionava acidentes. Vulgarmente chamado a vozes discretas de "O Diabinho".



Era 1978. Eu tinha 4 anos, minha irmã, Vivi, 3. Época em que máquina de lavar era o “iPhone” das donas de casa. Fomos visitar amigos de família, e lá estava ela: a novíssima máquina, reluzente, trono branco da modernidade, ocupando orgulhosamente o local onde antes haviam dois tanques de cimento — daqueles clássicos com cuba e área de esfregar comum em todas as casas brasileiras do século passado.



O terreno tinha um leve aclive, uma mureta, e o tanque removido e preparado para o triste fim do descarte, estava lá em cima, altivo, desafiando a gravidade. Eu olhei para aquele tanque e, claro, vi o que qualquer criança de quatro anos veria: o submarino Seaview, da série “Viagem ao Fundo do Mar”. Vivi e eu seríamos a tripulação. Eu, o comandante intrépido.

Subimos a bordo, ajustamos as alavancas imaginárias, e iniciamos a missão. Tudo ia bem — até que o oceano de concreto se revoltou. O tanque virou da mureta, e o Seaview mergulhou.

Vivi, pequena, encaixou perfeitamente na cuba — saiu praticamente ilesa.
Eu, o grande explorador dos abismos, bati a cabeça, apaguei, e abri um rasgo no rosto com a pancada do tanque.

A próxima lembrança é cinematográfica: meu pai, calça boca de sino, camisa branca de botões — correndo comigo nos braços, a camisa tingida de vermelho. Minha mãe chorando. Eu, meio vivo, meio inconsciente. Aquele corre-corre, aquele caos das urgências, morávamos na Vila Rio Branco na Penha. O hospital, o raio-x, o médico com mãos de anjo que costurou meu rosto sem deixar quase cicatriz.

Saí inteiro. Mas com um bônus: uma radiografia completa do meu crânio.



Nos anos seguintes, eu era o garoto que levava a própria caveira para a feira de ciências.
E fazia sucesso. Sem contar que meu pai como fotografo, usou de suas tecnicas de transformar aquela imagem de raio x em uma fotografia pxb em tamanho 20 x 25, um assombro...


As meninas do primário fugiam apavoradas — e eu, orgulhoso, pensava:
“Missão cumprida, comandante do Seaview.” ⚓




🧩 Easter Egg Bellacosa:
A série Viagem ao Fundo do Mar foi exibida no Brasil entre 1965 e 1968, mas com centenas de reprises em todos os canais brasileiros e tinha o submarino “Seaview”, projetado para explorar os mistérios do oceano e enfrentar monstros marinhos. Se bobear em pleno século XXI algum canal ainda o reprisa.

Na minha versão, o monstro era a gravidade — e venceu por nocaute técnico.


sábado, 13 de dezembro de 2014

Orquestra Sinfonica de Campinas no natal de 2014

Musica clássica para a multidão.

Para aqueles que não conhecem Campinas, existe um parque excelente, popularmente chamado Parque do Taquaral (Parque de Portugal), Aqui existem diversas atraçoes para passar um dia único.

Mas hoje iremos falar da concha acústica e anfiteatro para shows e concertos que no final do ano a Orquestra Municipal de Campinas faz uma apresentação muito concorrida.



Estamos na época natalícia de 2014 e resolvemos vir assistir a apresentação, porem fomos pegos por uma chuva dos diabos, em que ficamos presos dentro do carro no estacionamento por uns 10 minutos, tirando os percalços, foi um final de tarde fantástico.

Saboreando de um momento único, e o regente para cativar o publico fez uma apresentação especial cantando musicas populares ao som da orquestra.

Convido a todos a não perderem, fiquem atentos ao site da Orquestra e vejam a agenda.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Manual do Aprendiz de Dai Maou Como se tornar o Programador Noturno Supremo (nível Enterprise z/OS)

 


🜂 El Jefe Midnight Lunch apresenta

Manual do Aprendiz de Dai Maou

Como se tornar o Programador Noturno Supremo (nível Enterprise z/OS)

A iniciação oficial dos escolhidos pelo batch, pela escuridão, e pelo café da madrugada

Por Bellacosa Mainframe


Existem trilhas de carreira.
Existem certificações.
Existem cursos no LinkedIn Learning.

E existe… A Senda do Dai Maou,
o caminho sagrado — e um pouco amaldiçoado —
dos programadores que resolvem tudo depois da meia-noite.

Este é o manual não-autorizado, não-certificado, porém 100% funcional para você, jovem padawan do mainframe, que deseja um dia atingir o título máximo:

Dai Maou do z/OS — O Grande Rei Demônio da Madrugada Corporativa.


🜁 1. Ritual de Iniciação: Abrace a Noite

Nenhum Dai Maou verdadeiro floresce ao meio-dia.

O poder desperta quando:

  • O prédio está vazio,

  • O WhatsApp da equipe silencia,

  • O ar-condicionado faz barulho de caverna,

  • E só o brilho verde-fosfo dos terminais 3270 ilumina o ambiente.

Treine seu espírito.

O Dai Maou não trabalha APÓS a meia-noite.
Ele começa depois da meia-noite.
Há diferença.


🜃 2. Conheça o Terreno: O Castelo ISPF

O Dai Maou domina seu castelo.
O programador domina o ISPF.

Seu mapa sagrado:

  • 3.4 — Biblioteca de grimórios ancestrais

  • 6 — O altar do comando

  • SDSF — A sala do trono onde vidas (de jobs) são decididas

  • Edit com HEX on — magia proibida

  • O cursor piscando — chama do poder interno

Você precisa aprender a navegar pelas sombras com naturalidade.

Se abrir o SDSF e ouvir um coral latino dentro da sua cabeça,
parabéns: você está no caminho.


🜄 3. Magias Proibidas do Dai Maou Corporativo

Domine estes feitiços:

🜂 1. Reprocessamento Arcano

O equivalente a ressuscitar mortos.

🜂 2. Override de DD

Mistura perigosa de alquimia com gambiarra refinada.

🜂 3. Ler Dump sem chorar

Habilidade rara.
Após três anos de treino, você passa a enxergar hieróglifos ocultos que fazem sentido.

🜂 4. Encontrar um loop infinito pelo cheiro

Geralmente cheira a CPU derretendo.

🜂 5. Dar start em CICS sem derrubar outra região

Feito apenas pelos mais iluminados.

🜂 6. Saber quem mexeu no PROCLIB sem usar logs

O Dai Maou sente quem foi.


🜁 4. Vestimenta do Mestre Noturno

Como todo ser supremo, o Dai Maou tem seu “uniforme”.
O programador também:

  • Camiseta velha com logo de evento que nem existe mais

  • Moleton com capuz (essencial para aura sombria)

  • Chinelos ou meias com furo estratégico

  • Caneca manchada de café com call-stack do COBOL

  • Olheiras que contam histórias

Se você entra no escritório parecendo um personagem do Bleach,
você está progredindo.


🜃 5. Animais de Estimação Espirituais

Todo Dai Maou tem um familiar: corvo, dragão ou lobo.

O programador noturno tem:

  • O gato que senta no teclado,

  • O cachorro que late no meio da call crítica,

  • Ou o papagaio que repete palavrão quando o job dá RC=12.

Se você tem um desses, considere-se alinhado ao destino.


🜂 6. Provas que o Aprendiz Deve Ultrapassar

🜄 1. A Compilação da Meia-Noite

Se compilar COBOL sem errar copybook no primeiro try,
você desbloqueia +5 magia negra.

🜄 2. O Abend Fantasma

Erro que some quando você tenta reproduzir.
Batalha obrigatória.

🜄 3. A Reunião das 8 da Manhã

Você dormiu 2h.
Eles querem explicações.
Ninguém merece.

🜄 4. O Ticket Maldito “URGENTE – MAS SEM PRESSA”

O universo corporativo gosta de testar a sanidade do Dai Maou.

🜄 5. A Fila de Impressão Sem Dono

Uma entidade cósmica.
Ninguém sabe quem enviou.
Ninguém assume.
Ela renasce toda semana.


🜁 7. A Filosofia do Dai Maou

O verdadeiro Dai Maou não grita.

Ele suspira, olha pro log, e diz:

“Isso aqui só pode ser obra de humano.”

O Dai Maou sabe que:

  • código não erra — quem erra é gente;

  • madrugada não perdoa — só ensina;

  • documentação mente — logs não;

  • mainframe é eterno — gerentes não;

  • problemas são constantes — mas você é mais constante ainda.

A serenidade é o maior poder.


🜄 8. Fofoquices da Alta Corte Demoníaca z/OS

  • Em certas equipes, “Dai Maou” virou título oficial de honra.

  • Em outras, chamam discretamente de “o cara que resolve”.

  • Há lendas de programadores que causaram PA1 só de olhar pro terminal.

  • E sempre existe um veterano que diz:
    “No meu tempo, o Dai Maou era o JCL.”

  • Alguns dizem que quando você sabe o nome de todos os datasets PRODUCTION de cabeça, sua alma se separa do corpo e vira entidade independente.


🜃 9. Conclusão — Ascensão ao Trono Sombrio

Tornar-se Dai Maou não é sobre maldade,
não é sobre trevas,
não é sobre dominar goblins.

É sobre:

  • responsabilidade extrema,

  • autoconfiança construída no fogo,

  • conhecimento que ninguém mais tem,

  • força mental para segurar a empresa na unha,

  • e disciplina para continuar mesmo exausto.

Dai Maou é quem mantém o reino funcionando enquanto todos dormem.

E, no mundo corporativo, isso significa:

você é o guardião.
Você é o sistema.
Você é quem impede o caos.

Porque no final do dia, e sobretudo na madrugada…

Todo time precisa de um Dai Maou.
E talvez esse Dai Maou seja você.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O Panetone da Dona Mercedes — Quando a Cozinha Virou Mainframe e 1982 Foi Nosso JOB de Natal




O Panetone da Dona Mercedes — Quando a Cozinha Virou Mainframe e 1982 Foi Nosso JOB de Natal

Existem memórias que não apenas voltam — elas bootam dentro da gente.
Carregam devagar, como um IPL frio de um mainframe antigo, até que de repente tudo aquece, ganha vida e você sente aquele cheiro inconfundível do passado.
No meu caso, esse cheiro é de panetone assando na cozinha da Dona Mercedes, minha saudosa mãezinha, em pleno ano mágico-derradeiro de 1982.




Sim, aquele mesmo 1982 que contei no outro post:

o último grande Natal da Famiglia Bellacosa, o fim de um ciclo de fartura antes que a aposentadoria do vô Pedro e a tempestade econômica dos anos 80 transformassem nossa vida.

Mas antes do adeus às grandes festas, antes da inflação virar o demogorgon da economia brasileira, antes de 1983 dar sua voadora histórica…

teve o panetone da Dona Mercedes.
E, meu amigo… aquilo virou lenda de sistema legado.




O Mistério das Latas de Leite Ninho (Release: Mercedes v1.0)

Durante o ano inteiro, minha mãe foi acumulando latas de Leite Ninho.
Pequenas, médias, grandes…
A cozinha parecia o HSM (Hierarchical Storage Management) da Nestlé.

Nós — eu, Vivi e Daniel — achávamos apenas curioso.
Criança não lê logs administrativos.
Só percebe o evento quando o abend estoura.

Mas lá estava ela, absolutamente determinada, cheia de planos e segredos, como se tivesse recebido um business requirement direto do Papai Noel.

Mais tarde entendemos:
as latas seriam formas improvisadas de panetone, solução engenhosa e totalmente Bellacosa-style para assar dezenas de unidades sem falir nos utensílios.

Improviso nível mainframe:
"Se não tem budget, usa gambiarra."
A escola de engenharia brasileira agradece.


Quando a Cozinha Virou um CPD

No avançar de dezembro, começamos a notar uma movimentação estranha.
Bagunça. Massa para todo lado.
Testes. Compilações gastronômicas.

Primeiro veio a fase POC — Proof of Cake.
Panetones de teste.
Nós, claro, servíamos como QA (Quality Appetites).
E aprovávamos todos.

Depois veio a fase produção:
uma ida épica ao armazém de panificação —

  • frutas cristalizadas,

  • uvas passas (a moeda oficial do Natal),

  • essência de panetone,

  • saquinhos natalinos brilhantes
    …e um aroma que parecia o SNA (Sistema Nervoso Afetivo) inteiro resetando.

E foi ali, naquele ambiente, que percebemos:
minha mãe estava preparando uma operação industrial de panetones caseiros.

A Dona Mercedes virou, literalmente, uma batch job scheduler da própria casa.
Meu pai entrava como operador, abrindo as latas, ajustando, cortando, deixando o “device” pronto para execução.

Cada fornada era uma JCL enviada para execução:
//NATAL82 JOB (FAM), 'PNTONE', MSGCLASS=A
e o forno rodava, firme como um MVS 3.8 rodando o JES2 na unha.


A Produção em Massa — Level: Famiglia Bellacosa

A família era grande.
Muito grande.
Para um Natal com mais de cinquenta adultos e vinte primos,
era preciso escala, meu amigo.

E a Mercedes entregou escala.

Os panetones cresciam lindos dentro das latas de Leite Ninho,
como se dissessem:
“Te prepara, esse será o último Natal grandioso — então vamos fazer bonito.”

E fez.

O aroma tomava a casa inteira.
Subia pelas paredes, entrava nos quartos, grudava na gente.
Hoje entendo: era memória sendo impressa, spoolada no coração.

A produção foi tão épica que até os vizinhos receberam um panetone.
Porque generosidade, naquela época, era default.
E carinho não tinha inflação.


O Ano que Tudo Mudou, Mas Nada Se Perdeu

1982 foi aquele marcador de fim de ciclo.
O último super-Natal.
Depois vieram os anos duros, a crise, as mudanças.

Mas o panetone da Dona Mercedes ficou.

Ficou na lembrança do aroma,
na bagunça da massa grudada na mesa,
nas latas de Leite Ninho empilhadas como discos 3380,
no sorriso das crianças testando cada fornada como se fosse a primeira.

Ficou como fica um dataset catalogado e nunca apagado.
Um membro importante da biblioteca da alma.


Conclusão — O Panetone Como Memory Dump da Infância

Hoje, quando lembro daquele 1982,
percebo que a verdadeira festa não foi apenas a última reunião da família inteira.

Foi ver a Dona Mercedes
criando magia com as próprias mãos,
transformando sucata em ferramenta,
transformando farinha em afeto,
transformando dezembro em história.

É por isso que, aqui no El Jefe Midnight Lunch,
no turno da madrugada, quando minha mente está mais viva,
eu resgato essa memória e a deixo registrada no spool do tempo.

Porque alguns panetones a gente come.
Outros a gente guarda para sempre.

E o da minha mãe?
Ah… esse nunca saiu do meu coração.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

🐈‍⬛ Saco de Gatos — Um Manifesto de Papelão, Bits e Memórias

 


🐈‍⬛ Saco de Gatos — Um Manifesto de Papelão, Bits e Memórias

Meu saco de gatos é um amontoado de coisas díspares, mas interligadas por um mesmo coração — o de um homem nascido em 1974, pisciano, boa praça, um tanto impaciente e, confesso, às vezes antissocial.


Prefiro o silêncio cúmplice de um bom livro a qualquer multidão barulhenta.

Desde moleque, tive fome de saber.
Desmontava brinquedos quebrados e rádios sem som só pra descobrir o que se escondia por dentro — aquele mistério mecânico das engrenagens, o segredo invisível da criação.

Nas bibliotecas de bairro, deixei minhas pegadas miúdas entre estantes e gibis.

Nos livro fã de história, amando navegar rumo ao passado, me deslumbrando em ficção científica, fantasia, mistério, biografias e tantos gêneros que ficaria maçante listar, mas sou do tipo que le tudo aquilo onde coloco as mãos. Carinho grande por Monteiro Lobato e a nostálgica Taubaté.




Fui devorador de Turma da Mônica, Tio Patinhas, Mickey, e tudo o que caísse nas minhas mãos.
Crescendo, minhas leituras evoluíram junto: mergulhei nas HQs adultas, apaixonado pelo traço elegante e pelo ritmo melancólico do estilo europeu.



Mas foi quando descobri os mangás que o coração explodiu num plot twist digno de roteiro japonês.
Do mangá para o anime foi um salto — ou talvez o contrário, porque a lembrança é enevoada, mas o encanto é eterno.



Minha iniciação nesse universo veio com Spectreman, o herói de papelão que salvava o planeta em cenários reciclados e com efeitos especiais dignos de um teatro de escola.
Pra nós, moleques dos anos 70, aquilo era o ápice da ficção científica.



No Japão, chamava-se Supekutoruman, parte do glorioso gênero tokusatsu, que depois nos traria Ultraman, Ultraseven, Robô Gigante e tantos outros titãs metálicos que habitaram nossas TVs de tubo e sonhos de criança.



Hoje, no século XXI, tudo é CGI, IA e estúdios milionários.
Mas, dentro de mim, ainda vive aquele menino que acreditava que o monstro de papelão podia destruir o mundo — e um improvavel heroi vindo de outra galaxia poderia salvar o dia — movido apenas pela força da imaginação.



Este saco de gatos é isso:
Um punhado de memórias, fios e bits, amarrados com fita adesiva e nostalgia.
Mensagens em garrafas lançadas ao mar digital, ao estilo náufrago de John Castaway, navegando entre tecnologia, saudade e curiosidade.



Entre um byte e outro, sigo compartilhando viagens — e alimentando este universo de lembranças e aprendizado, um post de cada vez.







quinta-feira, 6 de novembro de 2014

📜 Amores no Quiririm — Bellacosa Mainframe, El Jefe Midnight Lunch

 


📜 Amores no Quiririm — Bellacosa Mainframe, El Jefe Midnight Lunch
(Cheirando a naftalina, como quem abre um diário esquecido no fundo de um armário frio)


Amores no Quiririm…
só de escrever já sinto o cheiro da terra vermelha levantando com o vento da tarde, as ruas meio tortas, os muros descascados, e eu ali — remendado por dentro depois do inverno de 83. Aquele ano que rachou minha infância no meio. O bairro não foi apenas endereço… foi reconstrução. Foi reboot de sistema depois de pane geral.



No Quiririm eu aprendi na marra que crescer é aceitar patch no coração e seguir em frente. Com o primo Celo, a vida rodava overclockada. As bagunças eram release semanal, as brigas eram hotfix na rua, e as travessuras… ah, essas eram deployment constante. Tudo ganhou volume, força, coragem. Tava mais velho, mais malicioso e ao mesmo tempo — graças aos ferimentos — mais frio, mais calculista. Sobrevivência tem seu preço, e eu paguei em cicatrizes.

Mas você veio aqui pelos amores, não pelos tombos…

Então vem comigo.



Tinha eu uma queda épica por Angelica, loirinha de olhos verdes, carinha de princesinha de final de fase, após o Boss furioso. A professora Ligia sempre vigilante, uma colega de classe, sorriso tímido, curiosidade no olhar. A gente fazia lição junto, partilhava caderno e risadas. Ela olhava pra mim como quem descobre defeito novo em máquina antiga — com encanto e risco. Eu, vindo da capital, era novidade no sistema. Mas entre Quiririm e Cecap rolava firewall emocional, diferenças socioeconômicas, rixas bobas de juventude. E por mais que o coração pedisse commit, nada compilou.


Foi aí que entrou em cena Marcia, minha vizinha da Quadra B. Ah, Marcia…

Mais velha, mais divertida, com aquele charme que só quem já viveu uns patchs sentimentais sabe usar. Ela era bug desejável no meu código. O perigo fazia parte do pacote — principalmente porque o irmão Reinaldo, o auditor moral do bairro, monitorava cada tentativa minha de deploy romântico. E dava pau. Dava briga. Dava cascudo.

Reinaldo sempre vencendo? Não.
Apenas com vantagem apertada.
Porque além de pequeno Don Juan, eu era galinho de briga — não fugia do conflito, ajustava estratégia, tentava de novo. E mesmo tomando uns abend, garanti minhas pequenas vitórias no log da memória.

Mas essa ainda não é a história.
Essa é só a fase beta.



A melhor, deixo para outro post: Rosemeire, quadra G.
Outra área de domínio. Outras regras. E uma confusão que me fez entender que mulher cheia de energia pode virar tempestade em copo, rua e coração. Ela merece capítulo próprio — com direito a trilha sonora e risada fora de hora. Obviamente meu parça e companheiro de confusões estava junto, meu primo Marcelo.

Hoje, ao fechar essa memória, volto pra Marcia.
Da quadra B.
Do sorriso que desarmava firewall.
Dos 13 anos que carregavam o magnetismo de uma supernova adolescente.

Minha primeira musa na Quadra B.
Minha lembrança preferida do Quiririm.

Bellacosa Mainframe ☕🔥 – El Jefe Midnight Lunch
Onde memórias não morrem. Apenas fazem checkpoint.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ossobuco a Milanesa

Ossubuco é excelente para fortalecer os ossos


As vezes queremos justificar uma gulodice arrumando explicação de que faz bem para a saúde.

Agora falando do ossobuco, este não tem para ninguém, junta o útil ao agradável, uma delicia de prato e altamente nutritivo para o corpo.

Para aqueles que não conhecem, ossobuco e a canela do boi, uma carne extremamente dura com um ossinho no meio cheia de tutano. Para prepara-lo é super simples, basta paciência e uma boa panela de pressão.



Ingredientes

ossobuco
cebola
alho
salsa
pimenta do reino
oregano
batata
cenoura
sal a gosto
açafrão
arroz tipo risoto italiano

Preparo

Cozinhe na panela de pressão o ossobuco e as especiarias todas com 2 litros de agua
Desligue a panela quando a carne estiver bem macia, soltando-se do osso e separe a carne do caldo.
Refogue o arroz com tempero a seu gosto, acrescente o açafrão e utilize o caldo do ossobuco para fazer o arroz.

Bom apetite

sábado, 11 de outubro de 2014

🧹 A Dança da Vassoura

 



🧹 A Dança da Vassoura

Regras oficiais, caos controlado e diversão garantida

Se você nunca ouviu falar da dança da vassoura, sente-se, jovem padawan: isso aqui era engenharia social aplicada ao bailinho escolar.

A dança da vassoura não era castigo. Muito pelo contrário.
Ela era o modo bônus, o feature escondido do sistema.

🔹 O setup (ambiente de produção)

  • Bailinho rolando

  • Música lenta ou animada (não importa)

  • Vários pares dançando

  • Um rapaz sem par

  • Uma vassoura emprestada da tia da limpeza (recurso compartilhado)

Esse rapaz passa a dançar com a vassoura.
Mas atenção: isso não é humilhação.
É poder absoluto temporário.



🔹 A Regra de Ouro

O rapaz que dança com a vassoura ganha um super bônus:

👉 Ele pode escolher qualquer par que esteja dançando
👉 Tocar no ombro da garota
👉 Substituí-la pela vassoura

A garota passa a dançar com ele
E o rapaz “desalojado” assume a vassoura.

Swap de processos em tempo real.




🔹 Restrições importantes (porque até diversão tem governança)

  • ❌ Não pode voltar ao mesmo par imediatamente

  • ❌ Não pode recusar o convite (“não” não existe no protocolo)

  • ✅ Tem que ir atrapalhar outro par

  • ✅ O objetivo é movimentar todo mundo

Ou seja:
ninguém fica parado,
ninguém fica excluído,
todo mundo dança com todo mundo.




🔹 A dinâmica real (ou: caos elegante)

Enquanto a música toca:

  • pares se desfazem

  • novos pares se formam

  • risadas explodem

  • a sala vira um sysplex emocional

  • a vassoura circula como token de controle

É democracia dançante.
É inclusão forçada com sorriso no rosto.
É zoação sem crueldade.


🔹 Por que isso funcionava tão bem?

Porque:

  • Quebrava a timidez

  • Evitava panelinhas

  • Misturava a turma inteira

  • Criava histórias que duram décadas

Era impossível ficar invisível.
Em algum momento, todo mundo dançava.


🔹 Easter egg social dos anos 80

  • Quem “amarelava” virava lenda

  • Quem segurava a vassoura com estilo virava herói

  • Casal que se conheceu na dança da vassoura?
    História registrada em memória não volátil


🔹 Versão Bellacosa Mainframe (tradução técnica)

  • Música = job em execução

  • Vassoura = controle de concorrência

  • Par = sessão ativa

  • Troca = context switch

  • Zoação = logging habilitado

  • Diversão = SLA cumprido com sucesso


No fim das contas, a dança da vassoura era isso:
uma forma simples, genial e inocente de dançar, zoar, misturar e aproximar.

Sem aplicativo.
Sem algoritmo.
Sem like.

Só gente, música, risada…
e uma vassoura rodando em produção.

🧹💃🕺

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

🎄 Taubaté e o final boss Bailinhos, amigo secreto e luz meia-boca

 


🎄 Taubaté e o final boss: Bailinhos, amigo secreto e luz meia-boca

Memórias doces das escolas de Taubaté

Esta é, sem dúvida, uma das lembranças mais doces que carrego de Taubaté. Um conjunto de eventos simples, mas carregados de significado, vividos entre 1983 e 1984 no Quiririm e depois em 1985 e 1986 no Parque Sabará, nas escolas Deputado Cesar Costa e Amador Bueno da Veiga.

Naquele tempo, existia um ritual sagrado de fim de ano. Cada sala, de forma quase autônoma — algo bem stand-alone, sem centralização — escolhia um dia para fazer sua festinha de confraternização. Tinha de tudo: amigo secreto, comes e bebes, musiquinha, risadas e aquele clima de “missão cumprida” por mais um ano letivo finalizado sem abend.





Lembro com carinho da primeira caneta “de adulto” que ganhei da Adriana, ainda na quarta série. Para muitos era só uma caneta. Para mim, era quase um upgrade de sistema operacional, um sinal claro de que eu estava subindo de versão.

Os comes e bebes tinham sua própria organização social:
rapazes levavam bebidas, meninas traziam quitutes.
Quando dava, fazíamos uma vaquinha — crowdfunding analógico raiz — para melhorar o cardápio. E, claro, sempre surgia alguém com aquele toca-fitas parrudo estilo boombox, com dois alto-falantes, orgulho tecnológico da época, pronto para animar o bailinho.



No quinto ano, ganhei uma das minhas melhores memórias: a Gisele me ensinando a dançar música lenta. Dois passinhos para lá, um prá cá, corpos colados, mão na cintura e no ombro. Gisele, Gisele, danadinha. Nada de exageros. O som tinha que ficar baixo, porque outras salas ainda estavam em aula. Mesmo assim, era mágico.

Chegávamos mais cedo para preparar a sala:
arrastar cadeiras, empurrar mesas, criar um salão improvisado.
Fechávamos as cortinas para dar aquele escurinho estratégico e íamos ao painel de luzes desligar metade das lâmpadas. Um dimmer manual, na raça.

A professora coordenadora ficava ali, presente, fiscalizando — nosso RACF humano, garantindo que nada saísse do controle. E não saía. Era tudo muito saudável:
o bailinho,
o baile da vassoura,
as risadas,
a confraternização.



Claro que os outros professores apareciam para dar um alozinho, era um dia que as barreiras se quebravam, não existiam professores e alunos, apenas colegas de viagem, que terminaram com sucesso mais uma jornada. O Ômega escolar, vencer o chefe final e avançar para o nível seguinte.

Era a alegria pura de terminar mais um ano, passar de série, estreitar laços, criar histórias. Coisa simples. Coisa de interior nos anos 1980. Mas que rendia causos infinitos:
casalzinhos se formando,
paqueras evoluindo,
a chance de dançar com a mais gata da turma,
a zoação dos que amarelaram na hora H.

Troca de presentes, música baixa, luz meia-boca, coração acelerado.
Nada sofisticado. Nada artificial. Tudo real.



Hoje, muitos nomes se perderam na memória. Mas naquela época, cada colega era parte ativa do meu mundo. E lembrar desses momentos ainda anima o coração, como um job antigo que, quando relido, continua funcionando perfeitamente — sem precisar de manutenção.

Bons tempos. Tempos doces. Tempos que não dão rollback, mas deixam logs eternos na alma.


------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------



Conheça as regras da dança da vassoura:

Momentos divertidos em bailinhos fosse na escola, fosse festas na garagem, onde houvesse um baile e uma pessoa espirituosa com uma vassoura disponivel


Regras da Dança da Vassoura

https://eljefemidnightlunch.blogspot.com/2014/10/danca-da-vassoura.html


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

🔥 PARTE 2 — LANCHES & STREET FOOD OTAKU

 


🔥 PARTE 2 — LANCHES & STREET FOOD OTAKU

(Versão Bellacosa Mainframe: snackado, cacheado e com zero ABEND… a não ser que você coma demais.)

Se no Mainframe a rua é o SPOOL e a galera se encontra na fila do JOB, no Japão a rua é o templo sagrado dos lanches rápidos. São comidas portáteis, simples, baratas e com o poder misterioso de aparecer na hora certa no anime — geralmente quando o herói está com fome, fugindo de um monstro ou simplesmente vivendo a vida.

Vamos aos 10 primeiros lanches forjados no fogo da cultura otaku:


1. Onigiri – O checkpoint alimentar do Japão

🍙 O Triângulo Sagrado do Arroz

Origem: Século XI, usado por samurais como comida portátil.
Ingredientes: Arroz japonês, sal, recheios variados (salmão, umeboshi, atum com maionese).
Por que aparece tanto? Porque é o “IF THEN ELSE” do herói pobre: funciona sempre.
Animes: Naruto, K-On!, Sailor Moon, Jujutsu Kaisen.
Easter Egg: Em animes antigos no Ocidente, onigiri virou “bolinho de arroz” ou… “donut” (Pokémon, sim, eu olho pra vocês).


2. Takoyaki – O commit perfeito no mundo real

🐙 Bolinho de polvo, quente e mortal (para a língua)

Origem: Osaka, anos 1930.
Ingredientes: Massa, gengibre, cebolinha, pedaços de polvo, molho especial e katsuobushi dançando.
Por que aparece? É perfeito para cenas de festival escolar.
Animes: My Hero Academia, Clannad, Kanon, Noragami.
Comentário Bellacosa: Você sabe que é bom quando o vapor sobe igual fumaça de Job Cancelado e ainda assim você come.


3. Taiyaki – O peixinho lendário do XP nostálgico

🐟 O Save State dos doces de rua

Origem: 1909, Tóquio.
Ingredientes: Massa de panqueca e recheios (anko, creme, chocolate).
Símbolo: Sorte, abundância e aquele buff de +50 alegria.
Animes: Kanon, One Piece, Gintama.
Easter Egg: Em alguns animes, o personagem azarado sempre perde o taiyaki para um corvo.


4. Korokke – O crocante OTIMIZADO

🥔 O bolinho frito “nivelado” no JES2

Origem: Adaptação japonesa do croquete europeu (Era Meiji).
Ingredientes: Batata amassada, carne ou legumes, empanado e frito.
Por que aparece? Porque é barato e vendido em qualquer combini.
Animes: Haikyuu!!, Shin Chan, Bleach.
Curiosidade: No Japão, as avós têm orgulho do “som do croc” perfeito. É quase uma SMF do som.


5. Yakisoba – O deploy mais rápido da feira escolar

🍜 Macarrão de rua com alto throughput

Origem: Pós-guerra, inspirado no chow mein chinês.
Ingredientes: Macarrão especial, legumes, porco e molho yakisoba.
Cena clássica: Festival escolar → protagonista vira vendedor de yakisoba suado.
Animes: Great Teacher Onizuka, Food Wars, ReLIFE.


6. Karaage – O “fried chicken” que passou por tuning japonês

🍗 Frango frito otaku-level

Origem: Kyushu, século XX.
Ingredientes: Frango temperado com shoyu, gengibre, alho, empanado e frito.
Por que aparece tanto? Porque personagens comem com a mão, fazendo “humf humf” que ativa nosso gatilho da fome.
Animes: Demon Slayer, Chainsaw Man, Rent-a-Girlfriend.
Easter Egg: Gohan, de Dragon Ball, é praticamente movido a karaage.


7. Nikuman – O “pãozinho doce de vapor” que salva vidas

🥟 O checkpoint de calor no inverno japonês

Origem: China → Japão; século XIX.
Ingredientes: Massa macia + recheio de carne suculenta.
Quando aparece: Dia frio → protagonista comendo nikuman na rua.
Animes: Tokyo Revengers, Bleach, Doraemon.
Comentário: No Japão, sai da máquina automática quente. No Brasil, só sonho mesmo.


8. Imagawayaki (ou Obanyaki) – Versão circular do Taiyaki

🍪 O disco rígido da felicidade

Origem: Período Edo.
Ingredientes: Anko, creme, chocolate dentro de discos fofinhos.
Animes: Kanon, Fate stay/night, Shokugeki no Soma.
Curiosidade: A imprensa ocidental confunde com panqueca, mas é muito melhor.


9. Yaki Onigiri – Onigiri versão hard-mode

🔥 Arroz grelhado + shoyu = sua língua implodindo

Origem: Tempo dos samurais.
Ingredientes: Onigiri + shoyu tostado.
Animes: Non Non Biyori, Silver Spoon, Yuru Camp.
Comentário: Esse é o “modo difícil” do onigiri…
… mas o gosto é tão bom que vale o abend.


10. Pan de Melon (Melonpan) – O “cookie-pão” mais amado dos animes

🍈 O carb-load universal do mundo otaku

Origem: Mistura de influências europeias + criatividade japonesa.
Ingredientes: Pão doce com casquinha crocante.
Animes: Shakugan no Shana, Attack on Titan, Sword Art Online.
Easter Egg: A Shana é praticamente o “daemon patrocinado pelo Melonpan”.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

📼 Episódio Especial: “Os Caçadores de Içá — Parte 2: A Primavera dos Onis”

 


🌙🍱 El Jefe Midnight Lunch — Crônicas de um Bellacosa Mainframe 🍱🌙
📼 Episódio Especial: “Os Caçadores de Içá — Parte 2: A Primavera dos Onis”
por Vagner Bellacosa – direto do dataset das memórias de 1983


Se você leu a Parte 1, já sabe que minha introdução ao universo gastronômico do interior — as lendárias tanajuras — aconteceu em Novo Horizonte. Mas, quando nos mudamos pro CECAP de Taubaté, descobri que a cultura formigueira não tinha CEP. Ali também apreciavam a famosa içá, a tal formiga bunduda que deixava qualquer oni de olho brilhando e barriga roncando.

Estamos em outubro de 1983.
Passado o tempo de Cosme e Damião, comemorado em 27 de Setembro, quando a garotada fazia o looping completo pelas quadras do CECAP atrás de doces, muito antes da moda do Halloween chegar ao Brasil. Mas outubro tinha outro evento ainda mais aguardado — e este, sim, fazia o coração dos pequenos caçadores acelerar como CICS em pico de transação:

🌧️ A Primeira Grande Chuva da Primavera

Quando a chuva caía forte pela primeira vez, não era só sinal de estação nova.
Era o trigger oficial, o SVC 13, o chamado ancestral.

Era o início da Revoada das Rainhas, quando as içás aladas deixavam os ninhos para criar novas colônias. E, meu amigo… quando isso acontecia… era festa pura... momentos emocionantes, ferroadas e cicatrizes para contar historia.



Dezenas de pequenos onis se espalhavam pelo CECAP numa verdadeira operação de guerra, em busca dos enormes formigueiros de salvas.

Era Black Friday do mato.



Acreditem em mim, esses formigueiros eram enormes com dezenas de câmaras, atingindo uns 5 metros de profundidade e um raio de 10 metros de circunferência com inúmeros tuneis de saída, por onde voavam as saúvas, os sabitus e saiam enormes guerreiros com ferrões monstruosos.





🪖 A Batalha dos Formigueiros

Não pense que era fácil, não.
Os formigueiros tinham defesa anti-invasão digna de mainframe militar.

De dentro dos buracos saíam centenas de milhares de soldados, mordendo tudo o que se movia — inclusive nós. E olha, vou te dizer…

A mordida daquelas formigas era um corte profundo, ardido, que fazia qualquer criança repensar suas escolhas. Mas os onis eram resilientes, adaptáveis, como programadores de JCL lidando com abends misteriosos.



🔧 As Técnicas dos Caçadores

Cada oni tinha seu framework pessoal:



  • Bacias de água para coletar as içás boiando;

  • Dois baldes — um para as aladas, outro para as que perdiam as asas, brincadeira alguns artista ficavam com um pé em cada balde;

  • Botas de borracha (só os ricos do CECAP tinham);

  • E eu?

Eu era mais criativo.



Eu reciclava e vestia sacos plásticos de 5 kg de arroz nos pés.
Aqueles sacos eram grossos, fortes e anti-formiga, quase um RACF PERMIT CLASS(FORMIGA) ACCESS(NONE) para proteger meus tornozelos.

Com os pés devidamente blindados, eu me sentia um cavaleiro medieval enfrentando um exército inimigo — só que o prêmio, eram formigas, não castelos.



Quando as formigas venciam, levávamos mordidas extramente dolorosas, pois fechavam a pinça na carne, profundamente e rápido. A única maneira de parar era arrancando a cabeça e pedacinhos de carne junto, saindo bastante sangue, que deixava as formigas mais loucas ainda.




🏆 A Colheita

Depois de horas de caça, mordidas, correria e gritos, vinha a recompensa.

Às vezes 500g.
Com sorte, 1 kg de tanajura.



Era ouro entomológico.

Mas aí vinha a parte realmente difícil: nenhuma mãe no CECAP — e eu repito, NENHUMA — queria a casa cheirando a formiga frita.

Não dava pra usar o fogão.
Era proibido.
Era ABEND S0C7 na hora.



🔥 A Gambi-Tecnologia do Oni

Eu, como bom engenheiro de soluções improvisadas (treino que mais tarde me levaria ao mundo do mainframe), resolvia assim:

  1. Pegava uma lata de leite grande (Ninho, claro — sempre ele).

  2. Montava uma fogueira no campinho atrás dos prédios.

  3. Fazia ali mesmo a fritura ritualística.

Problema resolvido.
Casa sem cheiro.
Barriga feliz.
Oni orgulhoso.




🍛 O Caviar Tupiniquim

Um professor de ciências dizia:

“A tanajura é o caviar brasileiro.”

E não é que era mesmo?

Crocante, gordurosa na medida, um sabor que até hoje volta na memória com aquele cheiro de terra molhada da primavera de 83.

A infância salgada, doce e crocante, tudo ao mesmo tempo.

PS: Curioso hoje ver a polémica gerada por alguns grupos do consumo de proteína oriunda de insetos, realmente esses meninos e meninas, que nasceram em apartamento sabem pouco sobre as aventuras do interior de antigamente.